Campeã de inverno

Uma rodada ainda falta para a Itália fechar seu primeiro turno, e a Juventus já assegurou o “título de inverno”, que vale lembrar, é só simbólico. O time piemontês voltou a abrir quatro pontos de distância do segundo colocado Milan e não pode ser mais alcançado antes da primeira rodada do returno.

Os resultados que fecharam o duelo Juve-Milan no primeiro turno foram normalíssimos. A Juventus não jogou esplendidamente, mas tinha um adversário bem mais fraco (o Livorno) do que o Palermo que o Milan visitou no Renzo Barbera. O jogo entre Palermo e Milan, aliás, foi muito bom e poderia ter tido um vencedor de qualquer lado.

Quais as principais virtudes da Juventus nesse primeiro turno? Primeiro, uma organização defensiva invejável. O brasileiro Emerson deu uma solidez à defesa que faz Capello suspirar. Junto com isso, o duo Cannavaro-Thuram na zaga, com Buffon no gol revelou-se insuperável, ainda que Zambrotta não esteja no seu máximo e que Zebina tenha seus limites.

Na fase ofensiva, a Juventus foi motorizada por um trator sueco chamado Ibrahimovic. O atacante não tomou conhecimento de quem jogou com ele e foi sempre bem. Forte fisicamente, mas extremamente habilidoso e oportunista, “Ibra” tem tudo para vir a ser o melhor atacante do mundo nos próximos anos.

Os quatro pontos que separam o Milan da Juve não ficaram em Palermo, mas no começo titubeante do time de Ancelotti, especialmente nas partidas em casa contra Livorno e Messina (por acaso, um empate e uma derrota). O Milan é, hoje, o time mais em forma da Itália, mas a Juventus e Capello são rivais hostis de se perseguir. Quatro pontos são absolutamente possíveis de serem tirados, mas não vai ser fácil, e, mais uma vez, esta coluna lembra: o fator de desempate vai ser que reforços vindos da enferemaria vão dar mais empuxo aos seus times. Stam e Inzaghi no Milan ou Trezeguet na Juventus.

A grande surpresa da primeira fase deste Italiano se chama Udinese. Em 3o lugar, somente cinco pontos atrás do Milan, o time de Udine é o líder de pontos nas últimas doze rodadas, tem os nomes mais cobiçados do mercado (Jankulovski, Pizarro, Iaquinta) e tem fôlego de sobra para chegar à Liga dos Campeões. Seus prováveis rivais neste caminho, Inter e Roma, ainda são inferiores à Udinese do primeiro turno. Se o time do Friuli mantiver esse passo, babau. Uma vaga na LC é deles.

Na luta sangrenta contra o rebaixamento, pelo menos um time já fez reserva para a Série B. A Atalanta, de Bergamo, não tem um time ruim – pelo contrário, tem até muitos jovens promissores, como Pazzini e Montolivo – mas os oito pontos de distância do primeiro time fora do rebaixamento – o Brescia – já soam como um mau presságio.

Finalizando este ‘briefing’ sobre este turno prestes a terminar, a nota sobre a demissão de mais dois treinadores. O Livorno deu o bilhete azul a Franco Colomba, que cavou a cova definitivamente quando brigou com Igor Protti, veterano querido no clube; no Siena, Luigi Simoni também não resistiu à má tabela. O Livorno chamou de volta o ex-meia Roberto Donadoni (que fez boa campanha na Série B duas temporadas atrás) e o Siena escalou Luigi Di Canio, técnico competente e acostumado com a zona lodosa da tabela.

Pela primeira vez, Inter

Seu time está perdendo aos 37min do segundo tempo, por 1 a 0, em casa. Daí, um atacante adversário vai e faz o segundo, um minuto depois. E, como mágica, seu time reage, marcando três gols em dez minutos. Uma virada espetacular. Este enredo aconteceu no Giuseppe Meazza, e a protagonista foi a Inter, que pela primeira vez na temporada, fez merecer o título de “grande”.

Os atacante Recoba e Martins foram os eixos da virada, porque participaram das ações dos gols, mas já tinham entrado minutos antes e não acordaram até o gol de Kutuzov, o segundo da Sampdoria. E o homem decisivo no sprint foi Vieri, que com seu segundo gol, nos descontos, entupiu seu time de adrenalina.

A Inter desta rodada é bem um retrato do que Roberto Mancini tem nas mãos. A sensação é a de que o grupo sabe que tem potencial, mas não sabe como fazer para tira-lo de dentro. Nessas, o time alterna boas e más apresentações. Contra a Samp, vinha patética, até o terremoto dos dez minutos finais.

Se a Inter tivesse perdido, era possível dizer que, pela primeira vez na temporada, a cabeça de Roberto Mancini teria entrado em perigo. Não pela derrota em si, mas pela falta de alternativas que o técnico parece ter para mudar o rumo do jogo. Isso, somado ao fato de que a Inter não tem uma defesa aceitável (provavelmente o mérito maior de Hector Cuper tenha sido o de construir um setor inexistente), faz com que o elenco milionário da Inter tenha uma relação custo-benefício péssimo.

Não é arriscado dizer que a Inter deve comprar jogadores nesta janela e janeiro, e é menos arriscado ainda dizer que o clube deve fazer alguma besteira também, porque reside nas contratações um dos maiores problemas da Inter. Se Mancini puder, deve pedir um zagueiro central alto e forte (Materazzi não está à altura das necessidades da Inter), um lateral-direito que jogue sem o nome (Javier Zanetti faz isso faz tempo) e dar espaço no time para Recoba jogar atrás dos atacantes.

Ave César. E Di Canio entra em enrascada

Polêmico até os ossos, Paolo Di Canio, atacante, capitão e símbolo na neo-Lazio pobre e endividada, passou o final de ano provocando Totti e a Roma, prometendo gols e a vitória no derby romano. E com uma personalidade invejável, no derby na quinta-feira, 6/1, Di Canio foi um monstro, engolindo o time da Roma, não tecnicamente, mas no quesito liderança. Além de fazer um gol e dar um passe para outro.

No fim, vencedor, Di Canio entrou numa seara inflamável como gasolina. O atacante de 36 anos correu até a torcida da Roma e os saudou com o braço direito esticado, como faziam os fascistas do regime de Mussolini. Para deixar tudo ainda mais em chamas, vale lembrar que Di Canio tem uma tatuagem no braço com os dizeres “Dux” (o ditador Mussolini era conhecido como “Il Duce”) e não esconde sua preferência política pela direita.

Todo mundo caiu de pau em cima do jogador, que não pediu desculpas, limitando-se a falar que seu gesto era um gesto de “romanidade”, uma menção à Roma dos césares, e que não tinha nada a ver com o projeto político de Alessandra Mussolini, controversa política italiana e neta do “Duce”.

Sem fazer defesas ou condenações a Di Canio, é necessário recordar que cada um tem direito a defender os pontos de vista que quiser, ainda que eles pareçam antipáticos à maioria. Se o atacante da Lazio é fascista, tem o direito de ser, sem que ninguém possa repreende-lo, assim como deveria ser caso ele tivesse qualquer outra posição.

O que é condenável no episódio foi o de politizar (ainda que o jogador negue) um jogo de futebol, que não deve ter nada a ver com política. Di Canio está sendo criticado pelos motivos errados, mas merece ser repreendido. Ninguém tem direito de dizer que ele não pode ser fascista; mas dá sim, para dizer que tal gesto numa partida de futebol pode ter conseqüências graves, especialmente no que diz respeito ao comportamento dos torcedores.

O futuro atacante milanista

Com a Bola de Ouro na prateleira, Shevchenko praticamente fez juras de amor eternas ao Milan e deve permanecer em Via Turati por mais alguns bons anos. Pippo Inzaghi também acabou de renovar seu vínculo até 2009, e dificilmente não estará no grupo de atacantes da próxima temporada. Tomasson é um reserva-titular, porque joga com qualquer companheiro e sempre o faz bem. Resta a pergunta: quem será o quarto atacante do Milan depois de julho?

A subida de produção de Crespo fez com que o Milan começasse a negociar com o Chelsea para ter seu passe. O clube inglês fez uma primeira pedida de €15 milhões, que certamente pode abaixar, e com a vantagem de que o time de José Mourinho não faria restrições a receber atletas como Kaladze ou Tomasson na negociação.

O ponto é que, na Itália, todo mundo diz que já está certa a contratação de Alberto Gilardino pelo Milan. O atacante do Parma está cada vez mais consistente e seu preço é um pouco mais salgado, cerca de €16 milhões, em dinheiro, que o Parma precisa desesperadamente.

Crespo ou Gilardino? É uma dúvida que só deve ser desfeita em julho. Ancelotti não iria ter quatro atacantes com características de centroavante no grupo (Sheva, Inzaghi, Crespo e Gilardino), logo, o mais provável é que Tomasson continue e a quarta vaga seja entre os dois.

Fatores preponderantes na escolha: o desempenho de Crespo daqui até o fim da temporada e a maleabilidade do Parma em negociar uma redução do preço. A combinação dos dois elementos é que decide. Jogador por jogador, o Milan vai preferir Gilardino, mais novo e com grande potencial, além de salário mais baixo, mas Crespo já fez 6 gols em 11 jogos, o que não é nada mal. A seguir, cenas dos próximos capítulos…

– Hernán Crespo, contra o Palermo, chegou à sua partida de número 200 na Série A

– Exatamente como Christian Vieri

– Com seu gol pela Juventus, Del Piero alcançou o mítico Omar Sivori na lista de artilheiros da Juventus, com 167 gols

– Além da Bola de Ouro de Shevchenko, o Milan também saboreou o pr~emio dado a Vikash Dhorasoo como melhor jogador francês do ano

– Este é o time dos melhores do Italiano na 17a rodada

– Guardalben (Palermo); Bonera (Parma), Bertotto (Udinese), Maldini (Milan) e César (Lazio); Corini (Palermo), Pizarro (Udinese) e Jankulovski (Udinese); Martins (Inter), Recoba (Inter) e Montella (Roma).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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