Domingo é a final

A torcida do Milan até que acreditava, mas só na base da fé. O Milan poderia ter saído deste final de semana com o título na mão, mas o improvável precisava acontecer. A Roma teria de perder em casa para o Empoli (hoje na zona de rebaixamento) e o Milan teria de superar o difícil campo de Udine, onde somente quatro vezes os friulanos foram batidos.

Deu a lógica, e a decisão ficou adiada, por pelo menos mais uma semana. Mas assim, o embate entre Milan e Roma, no Giuseppe Meazza, no domingo que vem, ganha ares de decisão. Para seguir sonhando, a Roma tem de vencer de qualquer modo. No caso de um empate, o Milan passa a precisar de um ponto nos dois últimos jogos. E se os milanistas saírem vitoriosos, levantam a taça diante de sua torcida.

A comparação histórica dá larga vantagem ao Milan. Das 68 partidas disputadas em Milão entre as duas equipes, a Roma venceu apenas oito, sendo que a última, em 1987. Na comparação global, nos 136 jogos entre Milan e Roma (ida e volta), o Milan ganhou 64 e perdeu 32, com uma vantagem de 61 gols. Um motivo a mais para os milanistas não relaxarem, pois a sorte adora derrubar a estatística.

No jogo de ida, em Roma, a vitória do Milan, em 6 de janeiro, começou a provar que o time de Carlo Ancelotti era mais sólido do que o de Fabio Capello. Sob o aspectodos desfalques, outro empate. Nenhum dos dois times têm jogadores suspensos, mas ambos têm três atletas na enfermaria. O Milan não deve contar com Kaladze, Inzaghi e Pancaro; a Roma está privada de De Rossi, Zebina e Montella.

Nesta não vai acompanhar a seleção no amistoso contra a Huingria, mas provavelmente só por precaução, assim como De Rossi deve acabar tendo condição de jogo (embora Dacourt dificilmente perca a vaga). Mas como é que os dois treinadores tentarão a cartada decisiva?

Na Roma, não há mistério: Totti é quem decide. Anulado, a Roma não tem para onde correr, embora Cassano e Emerson sejam ótimos jogadores. Capello sabe disso, e deve apostar em Mancini para aproveitar as suas descidas, bem como usar D’Agostino como o meia-armador para municiar Totti.

No Milan, parece superada a bobagem da obrigação de jogar com dois atacantes. Ancelotti certamente fará marcação especial em Totti, escalará Kaká ao lado de Rui Costa, com Shevchenko mais adiantado. Quem pode acionar a máquina milanista é Pirlo. Se o mediano jogar sem marcação, causará estragos, porque terá uma infinidade de opções. Capello está ciente disso.

A vantagem territorial, na tabela e histórica aponta para o Milan como favorito. Mas o fato do jogo ser praticamente uma final é um fator que equilibra as coisas. A Roma era apontada, precipitadamente, no primeiro turno, como favoritíssima, e o Milan venceu. Se não houver mais desfalques, o bom senso colocaria o Milan com um favoritismo levíssimo, mas não mais que isso. Mesmo assim, segue com a faca e o queijo na mão para ganhar o título.

Juventus assina a demissão de Lippi

Marcello Lippi, o treinador da Juventus, já vinha cambaleando depois da desclassificação na Liga dos Campeões. O próprio já admitira, no passado, que pararia se não vencesse esta edição do torneio. Depois vieram as derrotas para a Roma, Milan e Lazio, na Copa Itália. Agora, perder em casa para o Lecce, foi a gota d’água. Na temporada que vem, só um milagre mantém o viareggino no Delle Alpi.

Lippi e seu time estavam secos por uma vitória, e acharam que o pobre Lecce poderia servir de “judas”. Tanto é que Lippi escalou uma defesa a quatro com Zambrotta lateral-esquerdo, um meio campo com Tudor, Appiah e Di Vaio (!), mais Nedved atrás de Miccoli e Trezeguet.

Quando o marfinense Konan (sem trocadilhos engraçadalhos) fulminou Buffon aos 30min do primeiro tempo, virando o jogo (Trezeguet abrira o placar aos 3min e Franceschini igualara aos 23min), Lippi jogou a toalha e admitiu que tinha mandado uma Juventus pessimamente escalada. A oficialização da capitulação de Lippi veio aos 35min, quando ele sacou Di Vaio, mandando Pessotto a campo, recompondo um meio-campo esbugalhado.

Era tarde. Konan estava mesmo numa tarde extraordinária, superou Buffon mais uma vez, ainda no primeiro tempo, e Chevantón, preciso como um relógio suíço, fechou questão aos 7min da segunda etapa. Maresca e Del Piero ainda diminuíram a distância, mas os quatro gols sofridos pela Juve já tinham feito o estrago. A mesma quantia de gols que encerraram a primeira passagem de Lippi pela Inter, em 1999, numa derrota também em casa, mas diante do Parma.

Lippi não será demitido imediatamente porque não haveria motivo. O clube juventino, apesar de tudo, ainda pode sonhar com o segundo posto (acesso direto à Liga dos Campeões), e mandar o técnico embora só conturbaria o ambiente. Contudo, seu futuro, que estava selado, mas nos bastidores, agora está abertamente decidido, com a Juventus já contatando possíveis substitutos. Os nomes mais cotados: Didier Deschamps (Monaco), Cesare Prandelli (Parma) e Luigi del Neri (Chievo). Outra certeza: a defesa juventina sofrerá mudanças radicais para a próxima Série A.

O ‘scudetto’ é o quarto posto

Ainda há uma briga considerável pelo título na Itália, na medida em que uma vitória romanista, domingo, pode deixar as duas últimas rodadas eletrizantes. Também é verdade que a luta na parte de baixo da tabela, também é sangrenta. Nenhuma, porém, é mais indefinida do que a luta pelo quarto lugar, o último que dá vaga para a Liga dos Campeões.

Internazionale (53 pontos), Lazio e Parma (ambos com 52) travam uma briga de foice, e, se há algumas rodadas, era possível dizer que este time ou aquele tinham vantagem, agora, se alguém tem vantagem, mínima, é a Inter, com um ponto a mais que os rivais.

A jornada de número 32 é claramente favorável ao Parma. O time ‘gialloblú’ (que precisa mais do que ninguém da injeção de dinheiro da LC) pega o rebaixado Ancona em casa, enquanto a Lazio recebe a ameaçada Reggina no Olímpico, e a Inter faz uma viagem duríssima a Lecce (melhor time do segundo turno, depois do Milan).

Na penúltima rodada, provavelmente a partida que decide a vaga. O encontro direto entre Inter e Parma, em Milão. Não que a Lazio tenha um jogo mole (vaià Brescia, pegar um Roberto Baggio que ainda pensa sim em Seleção), mas uma vitória na partida de San Siro seria quase que definitiva.

Na 34a rodada, somente o Parma tem um compromisso teoricamente difícil. Recebe a Udinese, em busca de pontos para a Copa UEFA, no Ennio Tardini, enquanto a Lazio recebe um Modena ascendente, e a Inter viaja a Empoli para enfrentar um time que a humilhou dentro do Giuseppe Meazza.

Como se vê, os resultados de cada rodada podem tirar times da briga ou colocá-los como favoritos na corrida. À parte o embate Inter x Parma, o que parece mais plausível é que a equipe que desperdiçar menos pontos contra os “pequenos”, é a que fica com a quarta vaga. Mas nessas últimas três rodadas, e fugindo do rebaixamento, esses pequenos vão se agigantar.

A nostálgica “Azzurra” de Trapattoni

Giovanni Trapattoni decidiu fazer uma homenagem a dois veteranos da “Azzurra” e pode acabar criando uma dor de cabeça. Na sua convocação para o amistoso contra a Hungria, nesta quarta, no estádio Marassi, em Genova, os nomes incomuns foram os de Roberto Baggio e Angelo Peruzzi.

A homenagem vem até num momento em que muitos dos titulares de Milan e Roma (Totti, Nesta, Gattuso) sentiram “repentinas” dores, que só serão curadas na quinta de manhã. Não querem arriscar a partida de domingo entre as duas equipes, crucial na ótica do título.

A grande questão é: se Roberto Baggio fizer chover (e ele SABE fazer chover), poderá Trapattoni deixá-lo de fora da convocação para o Europeu, mesmo depois de ter se arrependido de fazer isso em 2002? E quem seria sacrificado?

Genova dá sorte à “Azzurra”. Em 22 partidas, a Itália só perdeu duas vezes, sendo que a última foi há 80 anos (4 a 0 para a Áustria, em jogo amistoso). A última vez em que o selecionado italiano se apresentou na capital da Ligúria, foi com uma vitória sobre Portugal, na estréia de Luiz Felipe Scolari como treinador, em fevereiro de 2003. Os convocados:

Goleiros: Buffon (Juventus), Peruzzi (Lazio);
Defensores: F. Cannavaro e Materazzi (Inter), Favalli e Oddo (Lazio), Ferrari (Parma), Legrottaglie e Zambrotta (Juventus), Panucci (Roma)
Meio-campistas: Ambrosini e Pirlo (Milan), Diana (Sampdoria), Fiore (Lazio), Nervo (Bologna), Perrotta (Chievo)
Atacantes: R. Baggio (Brescia), Corradi (Lazio), Di Vaio (Juventus), Miccoli (Juventus), Vieri (Inter)

Curtas

Os 76 pontos conquistados pelo Milan no empate em Udine já são um novo recorde para os campeonatos de três pontos por vitória

Maldini passou a ser o 5o jogador com maior número de presenças na Série A, 532, junto com o goleiro Albertosi. O próximo a ser atingido é Roberto Mancini, com 541

O recoordista absoluto é Dino Zoff, com 570

Também na partida contra a Udinese, Maldini passou Baresi, em partidas de campeonato pelo Milan, com a diferença que Baresi jogou algumas delas na Série B, enquanto Maldini só jogou na divisão máxima

Recorde negativo para a Juventus, que há 10 anos não sofria 40 gols em uma temporada da Série A

Na trágica derrota para o Lecce, David Trezeguet completou 100 jogos de Série A pela Juve, com 63 gols anotados

Esta é a seleção Trivela desta 31a rodada

Peruzzi (Lazio); Stam (Lazio), Kroldrup (Udinese) e Mihajlovic (Lazio); Franceschini (Lecce), Ledesma (Lecce), Tedesco (Reggina) e Blasi (Parma); Totti (Roma); Konan (Lecce) e Chevánton (Lecce)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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