A centrífuga Inter

Frey (Parma); Simic (Milan), Ferrari (Parma), Silvestre (Manchester United); Brocchi (Milan), Pirlo (Milan), Di Biagio (Brescia) e Seedorf (Milan); Roberto Baggio (Brescia); Mutu (Chelsea) e Vieri. Esta escalação é mais uma licença poética do que outra coisa, pois é um tanto quanto desequilibrada. Só que, inegavelmente, é composta de jogadores que são, na sua maioria, titulares absolutos em alguns dos maiores times da Europa. O ponto em comum? Todos foram escorraçados da Inter, ou vendidos a preço de banana.

O internauta atento há de se perguntar: “Mas o Vieri não está na Inter?”. Está. Ainda. Mas depois do último final de semana, é bem possível que Bobo Vieri, que outro dia completou 100 gols com a camisa interista, seja mais um bom jogador a deixar Appiano Gentile, “mandado embora”.

Quando soube que não seria titular contra o Bologna, Vieri simplesmente disse que não ia ficar no banco. Sua justificativa era a de que preferia ficar treinando em Appiano Gentile para melhorar a sua forma. Disse também que não devia satisfação ao treinador Alberto Zaccheroni, pois só falava com o presidente (na verdade, o ex-presidente Massimo Moratti).

Indiscutivelmente, Vieri foi um poço de arrogância no episódio, só que pela enésima vez, algo dentro da Inter consegue fazer com que seus melhores nomes acabem sendo expurgados praticamente como párias. Note o internauta que, na lista acima, esta coluna nem inclui o nome de Ronaldo, que certamente sentiu o mal-estar de que falamos, mas deixou a Inter porque quis. E ponto.

A saída da Inter na Copa UEFA deve custar a cabeça de Alberto Zaccheroni, mais um entre tantos técnicos que foram dizimados pela mesma máquina que queima jogadores. Se a Inter se classificar pela Liga dos Campeões, deve manter ‘Zac’. Se o fizer, estará condenando mais uma temporada, porque sua posição é fraca, e salvo um milagre, não conseguirá ter força para moldar um time competitivo.

Qual a razão de tanta instabilidade? Ninguém sabe ao certo. Porém, a convivência promíscua entre agentes de jogadores, dirigentes, funcionários do clube de longa data, e eminências pardas, certamente cria espaço para que fungos e bactérias ganhem terreno. Daí, jogadores tratados como refugo pela Inter, como Mutu, Pirlo e Seedorf, tenham ganhado status de mega-astros em outros clubes (para azar da Inter, boa parte deles, no arqui-rival Milan).

O destino de Vieri parece estar traçado, especialmente depois da chegada de Adriano, cujas características são similares às de Vieri. Em qualquer clube, daria-se sangue para colocar os dois em campo a qualquer custo. Na Inter, os “corneteiros” dão um jeito de inventar uma crise e mandam um embora. Se a projeção se concretizar, no ano que vem, Vieri vai estar enchendo as redes de gols. Se bobear, serão as redes do time em que ele joga hoje.

A decisão do ‘scudetto’. E não só.

A ponta da tabela é do Milan. O clube lombardo tem vantagem de pontos e de forma, e é favorito para ser campeão na Itália. Nesta semana, contudo, um jogo realizado em Roma pode ser o fiel da balança na decisão pelo título italiano desta temporada. O ‘replay’ de Lazio x Roma, é quem merece os holofotes da semana.

Só para relembrar: Lazio e Roma jogavam o derby, três semanas atrás, quando marginais da torcida organizada espalharam a notícia de que a polícia tinha matado um garoto torcedor da Roma. A torcida se enfureceu, o clima de pânico tomou conta do estádio e a partida foi suspensa.

Nesta quarta, o jogo mais quente da Itália, ganhou proporções de decisão, para os dois times, e também para Milan, Inter, Juventus e Parma. É que, dependendo do vencedor, o título pode ficar com o Milan, ou pode manter a Roma com esperanças matemáticas. Logo, a parte rubro-negra de Milão vai vestir a camisa da Lazio. Da mesma forma, a Juventus ‘seca’ a Roma, de olho no segundo lugar, que dá acesso direto à Liga dos Campeões.

A vitória da Lazio a coloca na quarta posição, a última que concede vaga à Liga dos Campeões. Desta forma, Parma e Inter querem mais é que a Lazio se enterre; os ‘gialloblú’ e a Milão ‘nerazzurra’ vestem as cores da Roma, de olho na luta pela mais prestigiosa competição européia.

Com o estádio com pelo menos 70% vestido de azul, o time de Roberto Mancini claramente priorizou o ‘derby’, quase perdendo para o Ancona em casa, mas ficando com alguns titulares no banco. A Roma jogou contra o Modena com o time titular, e não fez nenhuma alteração, usando todos os mesmos atletas por 90 minutos. A Lazio talvez não tenha Stam, com uma lesão sofrida contra o Ancona. Previsão em ‘derby’? Este colunista sabe bem que isso é para pedir para errar.

Perugia quer se salvar com “factóides”

Você se lembra da virada de mesa da Série B? Pois é. O vértice da palhaçada foi o Catania, comandado pela família Gaucci. O Catania teve um time ridículo por toda a temporada passada, caiu merecidamente, e conseguiu se manter na segunda divisão num tapetão sujo e cheio de bigatos, que causou conseqüências para Deus e o mundo.

Os Gaucci mostram que têm gosto pela coisa. Agora, com 30 rodadas de campeonato disputadas, Luciano Gaucci, ‘capo’ do time da Úmbria, disse que os “griffoni” não jogam mais nesse campeonato. “Estamos sendo roubados e não vou permitir mais que isso aconteça”.

As perguntas que ficam são: somente depois de 30 rodadas, Luciano Gaucci conseguiu ver o plano malévolo para prejudicar seu time? Será que ele não se lembra que o seu próprio técnico, Serse Cosmi, disse que o elenco se enfraquecera no mercado de janeiro? Ou quando Gaucci veio com a presepada de contratar uma mulher para jogar no time, Cosmi disse que o que o Perugia precisava eram “jogadores de verdade”? E o episódio macarrônico da contratação de “Gheddafinho”, um milionário filho de ditador da Líbia, que tem nível, no máximo, para se exibir no Tabajara FC?

O Perugia vai cair por várias razões. Primeiro, porque fez a besteira de participar da Copa Intertoto e ganhar uma vaga na Copa UEFA. O preço, em termos de preparação física, é altíssimo; segundo, porque o elenco é fraco, e como se isso não bastasse, Gaucci comprou e vendeu jogadores como se estivesse numa feira livre, deixando no ‘Renato Curi’, somente as frutas mais pisoteadas. Terceiro, porque a competição neste ano é acirradíssima.

Serse Cosmi é um excelente treinador, e deve encontrar guarida num time de porte ao menos médio na próxima temporada, mas não é o suficiente para compensar uma gerência estilo Eurico Miranda. O Perugia ainda não caiu, mas se cair, terá sido merecidamente. E pena que não haja justiça suficiente para que o Catania também não seja re-rebaixado. Um feito que até hoje, só o Fluminense conseguiu.

Curtas

Gianluca Pagliuca, veterano goleiro do Bologna, completou 527 partidas pela Série A, igualando o mito Gianni Rivera

A Juventus já prepara um passeio no mercado da bola para este verão europeu

Nomes cotados de verdade: Gilardino (Parma), Kapo (Auxerre), além de uma possibilidade concreta de que Didier Deschamps inicie um novo ciclo em Turim

O goleiro Dino Zoff, aquele que negou a Copa de 1982 ao Brasil, foi o italiano melhor colocado no ranking dos 50 maiores jogadores europeus de todos os tempos, no quinto posto

Paolo Maldini, Franco Baresi, Alessandro Nesta, Alessandro Costacurta e Gianni Rivera (Milan), Marco Tardelli (Juve e Inter), e Roberto Baggio (Brescia) são outros italianos que figuram

O milanista Marco Van Basten (quarto) também entrou no rol, assim como o juventino Michel Platini (nono)

Os três primeiros serão anunciados em Abril

Na segunda-feira, dia de fechamento desta coluna, mau dia para as ações dos clubes italianos

Estabilidade para os papéis da Lazio, enquanto os da Juve caíram 0,51% e os da Roma variaram –6,71%

E esta é a seleção Trivela da 30a rodada do campeonato italiano

Castelazzi (Brescia); Fernando Couto (Lazio), Cannavaro (Inter) e Falcone (Sampdoria); Appiah (Juventus), Gattuso (Milan), Brighi (Brescia) e Totti (Roma); Chevantón (Lecce), Gilardino (Parma), Adriano (Inter).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top