Vai faltar espaço na cadeia

Nos últimos anos, o futebol italiano foi um verdadeiro viveiro para tudo quanto é praga, mais ou menos criminosa. Agentes inescrupulosos, falsificadores, médicos irresponsáveis, dirigentes pilantras, todos tiveram espaço para fazer escândalos. E não foram poucos. Doping (médico e administrativo), passaportes falsos, falência de clubes, virada de mesa…

Mas pode ser que, finalmente, esteja na hora da ratatulha ir para a cadeia. Na última quinta, policiais e agentes da ‘Guardia di Finanzia’ (uma espécie de polícia tributária) invadiram as sedes de todos os clubes da primeira e segunda divisão, e alguns da terceira, além da Lega Calcio. Toneladas de documentos foram apreendidas e estão sendo minuciosamente vasculhadas. Para horror dos cartolas.

Basicamente, as suspeitas são de corrupção, bancarrota fraudulenta e falsificação de balanços. Quase trinta inquéritos estão sendo conduzidos, entre os quais, o dos passaportes, doping, cartas de garantias falsas, falências da Círio e Parmalat, abuso de poder da Capitalia, entre outros. Potencialmente, pode envolver o primeiro escalão do poder na Itália. De uma maneira geral, o assalto da GDF foi bem visto, especialmente por aqueles que pediam clareza nas finanças de clubes como Roma e Napoli, desde sempre beneficiados por favores dos “co-irmãos”.

De cara, já se sabe que o que mais vai aparecer são as chamadas ‘plusvalenze’, uma artimanha que os clubes faziam. Trocando jogadores de valores similares, os clubes alteravam seus balancetes para cobrir prejuízos. Um jogador era comprado por mil dólares e vendido por dez milhões, semanas depois. Isso aconteceu milhares de vezes, sabida e assumidamente. Lembram-se das trocas de jogadores entre Inter e Milan? Entre Roma e Parma? Pois é.

O grupo que está encarregado de passar o pente fino nas finanças dos clubes é da maior competência, e parece determinado a colocar tudo às claras. Todos os personagens do futebol italiano estão mais ou menos envolvidos com as negociatas, e embora haja uma certa calma, tudo indica que a chapa vai ferver para muita gente. Esta é uma investigação que não se sabe onde pode acabar.

Русские исчезли!

Tudo parecia estar arranjado. A Roma finalmente conseguiria sair de sua sinuca de bico. O clube de Trigoria tem uma dívida impagável de cerca de € 350 milhões, e para não seguir a rota de Parma e Lazio (ou pior – Fiorentina), o dono do clube achou uns russos endinheirados na mesma onda do milionário que comprou o Chelsea. A Nafta Moscou pagaria a Franco Sensi cerca de € 400 mi, e todos ficariam contentes – torcida incluída, pois não só não perderia Totti, Emerson e outros, como “corria o risco” de ver chegarem Davids, Vieri e mais alguns medalhões.

O verbo está no passado porque ia bem, mas não vai mais. Os milionários russos se borraram de medo quando viram a polícia invadindo as sedes de todos os clubes, e pensaram: será que nós não estaríamos entrando numa roubada? Na dúvida, suspenda-se tudo. A Roma volta à estaca zero.

A semana passada se desenhou macia para a negociação romanista, e numa hora em que a grana dos petroleiros russos viria bem à calhar. Agora, sem a grana dos Urais, o presidente do clube, France Sensi, só tem uma saída. Entrar em acordo com um grupo de empresários de Roma que tinha topado substitui-lo à frente do clube. O problema é que eles não querem as dívidas do clube, ou pelo menos exigem que o valor seja abatido da negociação. Sensi não aceita.

Moral da história: o furacão fiscalizatório do governo italiano acabou ferrando Sensi, que vai ter de ceder, mais cedo ou mais tarde. A gestão do clube sob suas mãos foi ruinosa. Por bem pouco, não se teria causado conseqüências para a torcida. Como última tentativa, a Roma subiu seu capital para 130 milhões de euros. A medida visa melhorar a situação financeira do clube e tentar atrair os russos de volta.

Ah, e mais uma coisa: o título desta matéria deveria ser “Os russos sumiram!”. Caso algum internauta letrado em russo ache alguma imperfeição na tradução (feita num tradutor automático), aguardamos correções.
Inter, o inimigo íntimo

A Inter é o clube que não precisa de inimigos. Ninguém sabe fazer mais mal à equipe de Via Durini do que ela mesma. Na derrota para o Brescia em Milão, de virada, ficou provada irrefutavelmente a fraqueza psicológica do elenco interista, somada a uma sensível lacuna técnica.

A crise interista é tão feia que já se considera certo que Alberto Zaccheroni não fica para a temporada que vem. Mais: novas derrotas podem fazer com que o técnico romagnolo perca o emprego ainda nesta ano. Zaccheroni deve acabar pagando o pato pelos eternos problemas do clube. Injustamente.

Sabe-se que a diretoria finalmente resolveu fazer um expurgo em junho, onde diversos nomes podem tomar o caminho da roça. Por hora, a medida adotada foi um retiro do elenco, que está em regime de concentração permanente, para treinos e lavagem de roupa suja ‘ad infinitum’.

Em campo, o grande drama da Inter segue sendo não ter um comandante no meio-campo. É incrível como a Inter consegue desnaturar jogadores comprovadamente bons, como Lamouchi ou Dejan Stankovic. O time não tem um jogador que consiga ordenar a manobra, e assim, depende de lampejos dos atacantes. E como a bola queima o pé dos meio-campistas, a defesa acaba sempre ficando no mano-a-mano, e sempre perdendo. Até Toldo, um dos três melhores goleiros do mundo, está jogando incrivelmente mal.

A saída de emergência parece improvável. O ideal seria umafaxina imediata, limando TODOS os jogadores que estejam fazendo parte da turma do chinelinho. Por sorte da Inter, nenhum dos outros aspirantes à quarta vaga para a Liga dos Campeões (Parma, Lazio, Udinese) venceu nesta rodada, mas este posto parece difícil, pois a Inter é o mais irregular dos quatro. Para pegar uma vaga-UEFA, a Inter não precisa de nenhum medalhão, e a mensagem estaria dada aos jogadores: o couro vai comer se ninguém se mexer.

Lecce turbo, rebaixamento duríssimo

O mês de fevereiro foi tudo o que o Lecce esperava. Um dos rebaixados virtuais na virada do ano, o time do Via Del Maré fez um mercado excelente e transformou-se na sensação do torneio. Basta dizer que nas últimas cinco partidas, o ‘giallorosso’ do Salento fez 13 pontos, concedendo somente um empate, contra o Milan.

E qual a varinha de condão usada? Nenhuma. O Lecce se reforçou nos setores certos. De maior relevância, a chegada do colombiano Bolaño no meio-campo, e a explosão da dupla Bojinov-Chevantón no ataque. O uruguaio marcou nas últimas cinco partidas e tem transferência garantida para o próximo campeonato.

Mas além da turbinada do Lecce, outros times que lutam contra o rebaixamento também reagiram. O Empoli já vem de uma melhoria desde a virada do ano, com a consolidação a dupla Rocchi-Tavano e a consistência dos meias Di Natale e Vannucchi. Esta coluna cravou que o Empoli já tinha reservado a vaga no rebaixamento, mas a reação surpreendente reabilita o time toscano para seguir sonhando. A vitória contra a excelente Udinese é prova disso.

Não é só. O Perugia finalmente conseguiu uma seqüência de duas vitórias, e ainda segue favorita para cair, mas voltou a ter chances de pensar em se manter (mesmo com chances reduzidíssimas). Reggina, Siena e Modena perderam terreno e já estão na área perigosa da tabela. Na verdade, nove pontos separam o 17º e o 10º colocados. O Ancona é o único que está irremediavelmente comprometido.

Curtas

Zambrotta fez, contra o Ancona, a sua 200ª partida pela Série A

O meio-campista fez 141 jogos pela Juventus e 59 pelo Bari

Aliás, o Ancona que perdeu para a Juve de Zambrotta, deve estabelecer um novo recorde negativo nesta temporada

Já são 17 derrotas até aqui

Frey (Parma) e Torrisi (Reggina), completaram 150 partidas na divisão máxima

Um jornal de Brescia ventilou que o Anderlecht quer Baggio para a Liga dos Campeões do ano que vem

O time belga, que nega o interesse, daria condições especiais de treino para o craque veterano, que jogaria somente a competição européia

E esta é a seleção Trivela do Italiano neste final de semana

Antonioli (Sampdoria); Mancini (Roma), Vargas (Empoli), Barzagli (Chievo) e Maldini (Milan);Seedorf (Milan), Codrea (Perugia), Emerson (Roma), Vannucchi (Empoli); Totti (Roma); Cassano (Roma)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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