Se os nervos de Juventus e Milan serão testados em algum momento desta temporada, certamente será nesta semana. Os dois clubes vão passar por duas provas definitivas em relação aos seus objetivos, e não podem, absolutamente, falhar. Para aumentar a dramaticidade, no próximo domingo, os dois se enfrentam, como um ‘gran finale’ de filme épico.
A Juve começa sua via crucis já na terça. O time de Marcello Lippi precisa se libertar do momento cinzento que dá tom às suas performances e bater o Deportivo La Coruña, em Turim, por dois gols. Se não o fizer, coloca em risco sua permanência na Liga dos Campeões. E, vale lembrar, o técnico Marcello Lippi jurou, no início desta temporada, que, caso não vença a competição européia, vai encerrar sua carreira como técnico.
Não faltam obstáculos. Com uma defesa que já tomou 27 tentos nesta temporada, a Juve não sabe como se acertar depois da partida de Edgar Davids. Para complicar, Lippi não vai poder contar com Iuliano, Birindelli, Zambrotta, Maresca e Trezeguet, contundidos, mais Tudor, eternamente no entra-e-sai da enfermaria. O Deportivo é um adversário hostil, que já despachou a Juve da LC no passado. De boa notícia, a aparente recuperação de Pavel Nedved, que teve uma semana de férias para eliminar o estresse.
Em Milanello, na teoria, o Sparta Praga é um compromisso menos espinhoso. Só na teoria. O time checo é cheio de bons jogadores, e nesta Liga dos Campeões, sempre jogou melhor em casa do que fora, pois aposta no contra-ataque. Os campeões europeus terão um time completo para receber o Sparta, e gozam de um momento de tranqüilidade. Mas estão cientes que uma vitória tcheca ou um empate com gols são resultados totalmente possíveis
Ancelotti deve usar dois atacantes contra o Sparta, com Tomasson-Shevchenko na frente de Kaká (ou Rui Costa). Defesa titularíssima de ponta a ponta, com Cafu, Nesta, Maldini e Kaladze, e Pirlo na cabine de comando do time. O Milan deve manter a posse de bola o mais possível para conter o Sparta em seu campo. Pippo Inzaghi deve entrar no decorrer da partida.
No domingo, o encontro entre Juve e Milan é uma final. Se a Juve vencer, zera as vantagens de Milan, e Roma na corrida pelo título, deixando os três numa diferença de três pontos (contando que a Roma bata a Reggina). Mas se o Milan sair vitorioso, a Juve dá adeus à competição. E se perderem Roma e Juve, o Milan praticamente assegura o título.
Quem é favorito para domingo? Prognóstico impossível. Primeiro, porque o resultado da Liga dos Campeões é fundamental para o ânimo de ambos; segundo, porque não se sabe quantos titulares contundidos cada time terá; e terceiro, porque num clássico de tais proporções, as vantagens técnicas, físicas e psicológicas são quase zeradas. Um fim de semana ímpar, que pode determinar o destino do campeonato.
O ás na manga de Trapattoni
Algumas grandes discussões circundam a lista de nomes (não a de Pelé, por favor!) que Giovanni Trapattoni quer levar para o Europeu de 2004. Na defesa, Cannavaro e Nesta são certezas, com mais uma vaga em aberto (Bonera?); no ataque, o trio Totti-Vieri-Del Piero também soa indiscutível, e as disputas ficam pelo banco de reservas (com Filippo Inzaghi, Corradi, Miccoli e Cassano na competição).
Contudo, a decisão mais importante que Trapattoni pode tomar é no meio-campo. É dado como certo que o técnico irá entregar a armação de seu time para Perrotta e Cristiano Zanetti, dois bons jogadores que foram bem quando juntos. Se o fizer, ‘Trap’ estará abrindo mão de ter em seu time (e no setor mais problemático da última década) um dos melhores registas do mundo, o milanista Andréa Pirlo.
Pirlo acabou no Milan praticamente desprezado pela Inter. Atacante de origem, surgiu no Brescia, e foi contratado pelo time de Via Durini ainda com 17 anos. Na Inter, jogou como atacante ou meia-atacante, mas nunca teve um rendimento regular. Por isso, foi emprestado à Reggina (onde virou herói, junto com o laziale Baronio – hoje emprestado ao Chievo), depois ao Brescia, e enfim, confinado ao terceiro time interista.
No Milan, chegou junto com Rui Costa, e já foi olhado de lado, como “o reserva de Rui Costa”. Só que em rubro-negro, foi automaticamente titularizado, enquanto Rui Costa não se adaptava. Aposentou a versão atacante, e passou a jogar como meio-campista puro. E no ano seguinte (2002), atendendo aos pedidos do técnico Carlo Ancelotti, fez uma experiência para atuar como primeiro volante, abrindo espaço para Rui Costa jogar mais avançado.
Ancelotti descobriu um pote de ouro no final do arco-íris. Recuado, Pirlo desenvolveu sua capacidade de marcação, e se tornou um gigante como regente. O bresciano de 25 anos é o cérebro do Milan, comandando todas as ações ofensivas, mas de uma posição recuada. Capaz de fazer lançamentos de quarenta metros com precisão milimétrica, Pirlo também pode aproveitar as incursões de Shevchenko, Inzaghi, Tomasson, ou Kaká (como fez no jogo contra a Samp).
No seu primeiro ano como mediano, tinha uma falha grave. Não sabia sair da marcação. Na partida entre Juve e Milan, em Turim, Marcello Lippi acabou com o Milan ao colocar um Nedved de seis pulmões para sufocar Pirlo. O Milan sucumbiu naquela partida (2 a 1 para a Juve, pela Série A). Só que a experiência fez com que Pirlo aprendesse a lidar com a marcação. Hoje, deixá-lo livre é praticamente um suicídio.
Se tiver alguma ousadia, Trapattoni tem obrigatoriamente de dar a Pirlo a vaga de Zanetti. Não que o interista não seja bom jogador, pelo contrário. Mas é que Pirlo é capaz de dar ao ataque italiano a fantasia que não tem há anos, fazendo com que a gama de opções de ataque seja infinita, tanto pelos lançamentos longos, quanto pelas infiltrações de Totti, tabelas entre Del Piero e Vieri ou descidas dos laterais Zambrotta e Camoranesi. Zanetti é excelente na contenção, mas uma sombra diante do talento de Pirlo. A bem da verdade, de Totti, Del Piero e Pirlo chegarem a Portugal no ápice de suas capacidades, a Itália é a única concorrente a afrontar Portugal e França de igual para igual.
O 3-4-3 sem polêmica
Enquanto a Inter come o pão que o diabo amassou com o 3-4-3 de Alberto Zaccheroni (campeão no Milan, quatro temporadas atrás), um outro time colhe frutos excelentes usando a mesma impostação tática nesta temporada. A Udinese, time destinado a evitar o rebaixamento e nada mais, corre forte por uma vaga na Copa UEFA e ainda sonha, ainda que não assumidamente, com uma vaga na Liga dos Campeões.
Mas por que razão o mesmo esquema têm resultados tão diversos? Resposta: Luciano Spaletti montou em Udine um time dentro de suas possibilidades, e tem controle do que se passa no seu elenco. Zaccheroni (que com o mesmo 3-4-3 quase chegou à Liga dos Campeões em 1998, na mesma Udinese) herdou um grupo montado para um 4-4-2, cheio de vaidades e jogadores desmotivados.
Mas falando da Udinese: o bom desempenho do time, como sempre, começa na defesa. O goleiro Morgan De Sanctis, reserva de Buffon nas seleções juvenis da Itália, é seguramente um dos mais regulares do torneio. A regência da defesa fica nas mãos no ‘nonno’ Sensini, 38 anos, mas uma performance de ‘star’, que controla os companheiros Bertotto, 14 anos no clube, e a revelação Kroldrup, ex-Bari, que é uma das revelações do campeonato no setor.
O meio-campo friulano tem nomes cobiçados por todos os grandes da Itália. David Pizarro é o arquiteto do time. Rápido, técnico e forte, Pizarro é o melhor jogador da geração chilena. Como se contundiu, Pizarro tem sido substituído pelo jovem italiano Pazienza e pelo também jovem Muntari. O primeiro promete boas coisas; o segundo já parece pronto para uma grande. Menos técnico que Pizarro, é forte como um touro e coloca pressão no setor. Pinzi, titular certo da Itália sub-21, é o marcador central, talvez o mais forte da sua idade no país.
Mas os astros do meio-campo são os externos Jorgensen e Jankulovski. O primeiro, dinamarquês, é praticamente um armador clássico, que dita o ritmo do jogo e costuma cair pelo meio, como um “10”; o segundo, tcheco, é jogador de faixa, que impinge velocidade e profundidade à jogada, fazendo com que a Udinese acione seus atacantes com grande facilidade.
Falando em atacantes, os dois fixos são Iaquinta e Dino Fava. Iaquinta faz a referência na área, e Dino Fava, artilheiro da Série B da Triestina na última temporada. Jorgensen e Jankulovski alternam-se no ataque, fazendo do esquema de jogo um misto de 3-4-3 com 3-5-2. O nome do esquema não importa, e sim sua versatilidade. (9 dos 11 titulares já marcaram gols nesta temporada). Dificilmente o time de Udine não acaba esta temporada com a missão mais do que cumprida.
Curtas
O defensor Marcelo Castellini chegou a 200 partidas pela Série A neste final de semana
Prova de que esta temporada está muito mais dura na luta pelo título, é o fato de que a Juventus, na temporada passada, tinha feito um ponto a menos do que nesta, até a 24ª rodada, mas mesmo assim, está duas posições atrás da do ano passado, quando era líder
Até aqui, 897 cartões amarelos foram dados na Série A, com média de 4,1 por partida, segundo dados da Gazzetta Dello Sport
Rui Costa é o alvo maior do Benfica para a próxima temporada
A notícia parece real, porque todos ficariam felizes
O Benfica teria de volta seu maior jogador dos últimos anos, o Milan receberia uma boa verba em dinheiro por um atleta que só tem mais um ano de contrato, e Rui Costa atuaria como estrela maior em Lisboa.
Esta é seleção Trivela do Italiano desta semana
Dida (Milan); Montero (Juventus), Kroldrup (Udinese), Ferrari (Parma), Maldini (Milan); Mancini (Roma), Pirlo (Milan), Baronio (Chievo), Dacourt (Roma); Cassano (Roma) e Inzaghi (Milan)