PSG: Tuchel e as virtudes que poucos fizeram questão de ver

Na última terça-feira o PSG fez sua estréia na Champions League 18/19, visitando o atual vice-campeão do torneio, o Liverpool em Anfield Road (Liverpool/Inglaterra). A partida que acabou com o placar de 3×2, trouxe os reds à frente do marcador nas três oportunidades em que obtiveram seus tentos.

Na França a imprensa não esconde algum tom de cobrança, ou ao menos de alguma necessidade de realismo, para observar o momento do PSG. O L’Équipe estampou a manchete “um longo caminho” na capa de sua edição desta quarta-feira, isso após estampar Cavani, Mbappé, Neymar e o treinador Thomas Tuchel atravessando a rua, numa alusão à capa de “Abbey Road”, álbum dos Beatles, banda oriunda de Liverpool; na véspera da partida. A manchete era “a travessia de um caminho”.

Capa do L'Équipe da última segunda-feira (reprodução)
Capa do L’Équipe da última segunda-feira (reprodução)

A situação no grupo C da Champions é ruim para o PSG, o quarto e último colocado sem pontuar. O Liverpool lidera (3 pontos), seguido do sérvio Red Star Belgrado (ou Estrela Vermelha) e do italiano Napoli (1 ponto cada), sendo que os sérvios empataram com os partenopei, na rodada mesma.

A perspectiva realista é a de que PSG, Liverpool e Napoli brigam por duas vagas, com franco favoritismo para os reds ingleses levarem a primeira vaga. Turbulências podem abortar a tranquilidade do ambiente de Tuchel, que faz sim, bom início de ciclo.

Sabe-se lá o que pode haver caso o PSG seja eliminado na fase de grupos.

Contra o Liverpool

Desde o início da pré-temporada Tuchel sinalizou que utilizaria três defensores, algo que se concretizou desde o início da Ligue 1 francesa, a qual o PSG lidera com tranquilidade. Os dois primeiros gols sofridos, sugiram em falha no jogo aéreo (Thiago Silva) e pênalti cometido pelo lateral-esquerdo Juan Bernat. O gol da vitória red marcado pelo brasileiro Firmino, de fato foi mérito do atacante.

Em todo caso, com os reds abrindo 2×0 ainda na primeira etapa, a equipe de Tuchel buscou o empate com Meunier e Mbappé (após jogada de Neymar), e a derrota nos últimos minutos de alguma forma foi cruel. Há de se ressaltar que a defesa se vê bem menos vulnerável que na última temporada. Os laterais Kurzawa e o lesionado Daniel Alves, deficientes em termos defensivos, parecem fora dos planos.

Na Ligue 1 o PSG sofreu apenas 4 gols em 5 jogos. Até o apito inicial soar na última terça-feira, o PSG se preparava para enfrentar o Liverpool, vice-líder da Premier League com 100% de aproveitamento (5 vitórias em 5 jogos) e 11 gols marcados em 5 jogos. A defesa do PSG ainda não havia sido testada de forma significativa.

Apesar dos três zagueiros (T. Silva/Kimpembe/Marquinhos), Tuchel é ofensivista e talvez tenha pecado por isso contra o Liverpool. Ao alinhar inicialmente Areóla, Meunier, T. Silva, Kimpembe, Bernat. Marquinhos, Rabiot, Di Maria, Neymar. Mbappé e Cavani, tinha-se variações em 3-4-3, 3-5-2 e um inusitado 4-2-4. Marquinhos adiantado é um falso primeiro volante, pois Meunier é um lateral ofensivo.

Tuchel foi ousado obrigando o Liverpool a se defender, uma vez que detendo a posse de bola, quatro jogadores chegavam a frente (Di Maria/Neymar/Mbappé/Cavani). Entretanto, mesmo com quatro jogadores muito ofensivos, a ideia de Tuchel pode ter sido a de dar a posse de bola ao Liverpool. Segundo o L’Équipe, contabilizou-se 52% de posse de bola para os reds, contra 47% para os parisienses. De qualquer forma, Tuchel não é um covarde.

O treinador alemão pode estar conseguindo alcançar um equilíbrio que o PSG de Unai Emery não conseguiu apresentar. Porém, numa hipotética formação com Lass Diarra como primeiro volante (mais segurança defensiva), ou com Julian Draxler (mais posse de bola), ambos no lugar de Di María, a derrota poderia ter sido evitada.

Draxler substituiu Cavani no minuto 80. Três minutos depois o meia alemão recuperou bola que passou por Neymar em jogada que culminou no 2×2 feito por M’bappé.

Além de campo & bola

Até a véspera da partida o xeique Nasser Al-Khelaifi era todo elogios ao seu presente treinador. Resta saber se Nasser não terá espasmos ou ejaculações precoces cartolísticas, após essa derrota. Tuchel parece ter pacificado o vestiário, além de passar impressão de que seu discurso é bem assimilado por atletas jovens.

O conceito de futebol do treinador alemão é contemporâneo e requer algum tempo para ser entendido por seus comandados. Há um leque de variações táticas que permite pelo menos quatro formações. Uma segurança defensiva plena apenas surgirá com sequência de jogos que garanta entrosamento.

Na questão do mercado, Tuchel também se adaptou a possibilidades de loucura do xeique Nasser. Lidando com limites de fair play financeiro, Tuchel promoveu vários atletas da base e completou elenco nos últimos dias da janela de transferências, com atletas pontuais pouco badalados. Casos do camaronês Choupo-Moting (ex-Stoke City) e do citado espanhol Bernat (ex-FC Bayern).

Em suma, tem-se um PSG diferente nesta temporada 2018/2019.

Sortie de but

– Além do PSG há outros dois franceses na disputa da Champions League. Ainda na terça-feira o Monaco fez sua estréia no torneio, recebendo o duro Atlético Madrid no Louis II (Principado de Mônaco). Os monagescos saíram na frente, mas acabaram derrotados por 2×1 pelos colchoneros espanhóis. O confronto valeu pelo grupo A, onde o Monaco é o terceiro colocado.

– Para os monagescos, a realidade momentânea é a de classificação para a Europa League, via terceira colocação. Entretanto, dado o que se vê na Ligue 1 (15ª colocação), estar em copas continentais paralelas pode atrapalhar mais do que ajudar o trabalho do treinador Leonardo Jardim.

– Nesta quarta-feira o Lyon foi ao Etihad Stadium (Manchester/Inglaterra) realizar sua estreia contra o Manchester City. Os lioneses conseguiram uma vitória impensada por 2×1, algo que lhes deu a liderança isolada do grupo F. Porém, o Lyon enfrentou um Manchester City desfigurado, com o treinador Pep Guardiola cumprindo suspensão e com seu principal atleta Kevin De Bruyne, fora de combate por lesão séria num dos joelhos.

– A fraqueza momentânea do City torna a briga pela segunda vaga do grupo F, um pouco mais acirrada. O alemão Hoffenheim e o ucraniano Shakhtar Donetsk seguem atrás do Lyon com 1 ponto cada.

Imagem de Mbappé e Neymar: Reuters

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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