EURO 2016: euforia galesa (a red dragon’s dream).

Na próxima quarta-feira a seleção do País de Gales entrará em campo contra Portugal, em partida válida pelas semi-finais da EURO 2016, que está sendo realizada na França. A equipe galesa pode ser considerada “zebra” apenas no quesito tradição. Em campo o time se impôs de maneira firme e muito convincente.

Sua trajetória causou comoção de sua torcida e aficionados do “futebol alternativo” durante as Eliminatórias da EURO, sendo que o esporte nacional do País de Gales pertencente às Ilhas Britânicas, é o rugby. Um motivo havia, e atendia pelo nome de Gareth Bale, meia-atacante do espanhol Real Madrid.

O que a torcida galesa não esperava era que a chegada à EURO representasse apenas o início de um sonho. A seleção retornava a uma grande competição futebolística, algo que ocorreu pela última vez no Mundial de 1958, sediado na Suécia e vencido pelo Brasil. Agora alimenta chances reais de ser finalista da EURO.

A campanha dos galeses superou expectativas, com a equipe tendo encerrado a fase de grupos em primeiro do grupo B (6 pontos). Obteve duas vitórias (contra Eslováquia e Rússia), tendo sido derrotada por 2×1 pela Inglaterra (segunda colocada do grupo), em clássico britânico. Nas oitavas de final, venceram outro adversário das Ilhas Britânicas, a Irlanda do Norte (1×0).

Porém o confronto contra a badalada seleção da Bélgica nas quartas de final, mostrou que os galeses não são semi-finalistas por acaso. A vitória por 3×1 na última sexta-feira demandou força mental e coletividade plena, uma vez que os galeses saíram atrás no marcador, empataram e conseguiram a virada.

O time.

Gareth Bale é o artilheiro do time com três gols, ao passo que o meia-atacante Aaron Ramsey (Arsenal/Inglaterra), é o líder de assistências com quatro passes para gol. O que salta aos olhos é o fato do time do treinador Chris Coleman precisar sim de Bale, mas não há uma “Bale dependência”. É algo bem diferente por exemplo, da relação entre Ibrahimović e a fraca e já eliminada Suécia.

Gareth Bale comemora a classificação para as semi-finais, na última sexta-feira. (Getty)
Gareth Bale comemora a classificação para as semi-finais, na última sexta-feira. (Getty)

A equipe galesa pratica um jogo coletivo inquestionável, sem se desvincular das características do futebol britânico. O time se vale do expediente de lançamentos em profundidade e cruzamentos na área adversária, em sua grande maioria proporcionados por Bale. Os atacantes e meias que atuam pelas extremidades estão condicionados a ter Bale na retaguarda os acionando e fazendo-os fluir, em transição vertical.

O desenho tático se dá em 4-2-3-1, vertendo-se em módulos tipicamente britânicos, quando há a perca da posse de bola (4-5-1 ou 4-4-1-1). Bale tem revelado versatilidade absurda enquanto meio-campista. Contra adversários mais fracos durante as Eliminatórias, o meia atuava centralizado na linha dos 3 meias ofensivos, tal qual um “enganche”.

Entretanto contra adversários mais qualificados, Bale pode se situar como um low playmaker à direita, à frente da linha de 4 defensores, com Joe Allen (Liverpool/Inglaterra) ao seu lado. A visão periférica privilegiada somada a qualidade do passe longo, o colocam de forma surpreendente no mesmo nível de especialistas da função como Toni Kroos ou Andrea Pirlo.

Até hoje, Bale chamou a atenção por atuar de forma ofensiva pelas extremidades do campo em transição veloz, seja nos tempos de Tottenham Hotspur, seja nas recentes temporadas pelo Real Madrid, onde tornou-se territorialmente ambidestro. O treinador Carlo Ancelotti o adequou ao lado direito, sendo que nos “spurs” Bale surgiu atuando pela esquerda.

A partida contra a Bélgica disputada na metrópole de Lille (França), ressaltou os detalhes aqui apontados. Os três gols galeses foram oriundos de cruzamentos para a área adversária. O segundo gol anotado aos 55 min por Robson-Kanu, iniciou-se com Bale à direita de seu campo de defesa lançando Ramsey, aberto pela ponta direita. Ramsey cruzou e Kanu livrou-se dos adversários para finalizar.

Ostentando a camisa número 10, o meia-atacante e líder de assistências Aaron Ramsey vem possivelmente desenvolvendo a melhor apresentação da sua carreira, sendo um jogador ridicularizado no elenco do londrino Arsenal. Na Inglaterra atribui-se ao jogador galês o “Ramsey effect” (ou efeito Ramsey), sendo que o atleta costuma marcar gols em véspera de mortes de celebridades.

Ramsey anotou gols nas vésperas das mortes de Osama Bin Laden (em maio de 2011), Steve Jobs (outubro de 2011), Whitney Houston (fevereiro de 2012), dentre outros incluindo-se o cantor David Bowie. O meia-atacante desfalcará a seleção de Gales nas semi-finais, cumprindo suspensão automática referente ao recebimento de terceiro cartão amarelo.

País de Gales enfrentará Portugal nesta quarta-feira às 16 hr (horário de Brasília), na primeira partida da semi-final da EURO.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
Top