FC Porto: Mourinho e as cicatrizes do dragão.

Nesta terça-feira, FC Porto e Chelsea se enfrentam pela segunda rodada da fase de grupos da Champions League 2015/2016. Os dragões portistas recebem no Estádio do Dragão (Cidade do Porto/Portugal), seu ex-treinador José Mourinho, que por sua vez comanda o adversário britânico.

Não se trata do primeiro retorno à Cidade do Porto com Mourinho à frente da equipe blue. Entretanto o re-encontro sempre atrai os holofotes da mídia e nesta ocasião surge “temperado” pelo re-encontro de Mou com seu desafeto e goleiro Iker Casillas, ex-Real Madrid, agora arqueiro portista.

Embora haja uma estátua de bronze do próprio José Mourinho no museu do Estádio do Dragão, alguns setores do clube portista curiosamente o tomam enquanto “traidor”, desde que o treinador deixou o clube ao fim da temporada 2003/2004. Naquela ocasião, Mou conduziu os dragões a uma inesperada conquista de Champions League, vencendo o Monaco na final.

Dragão dissidente.

O periódico espanhol El País, recorda a fúria do próprio presidente portista José Nuno Pinto da Costa, dissipada às vésperas das quartas de final da CL 03/04, quando os dragões superariam o espanhol Deportivo La Coruña. Mourinho já negociava com emissários enviados por Roman Abramovich, que pretendia levá-lo ao Chelsea no que se configurou enquanto sua primeira estada em Stamford Bridge.

Embora já tivesse sido campeão da CL na temporada 1986/1987, o FC Porto se recuperava de um período de ostracismo, quando foi superado até pelo rival local Boavista, que no começo dos anos 2000 conquistou sua primeira Liga Sagres. Àquela altura do mata-mata da CL 03/04, o Porto de Mourinho já havia conquistado uma Liga Sagres e uma Taça UEFA (hoje Europa League).

Ali Mourinho ainda teria que cumprir mais dois anos de contrato junto ao clube portista, já tendo recusado propostas anteriores que tentaram retirá-lo da Cidade do Porto. A Premier League britânica no entanto, pareceria-lhe irrecusável. O presidente Pinto da Costa prometeu a Mou que não venderia o meia luso-brasileiro Deco, e disse que não desfaria a base que acabou vencendo a CL 03/04.

Aquele Porto tinha além de Deco, a base da seleção portuguesa de Felipão, que incluía os defensores Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira, os meias Costinha e Maniche. E uma então jovem promessa brasileira chamada Carlos Alberto. Pinto da Costa era aquele que ainda se mantém na presidência portista, contabilizando 33 anos de gestão. O presidente é famoso por ser um grande negociador de atletas e garantiu a Mou, que negociaria apenas um jogador.

Pinto da Costa adquiriu o africano Benni McCarthy por 6 milhões de Euros, vendendo Helder Postiga ao Tottenham por 9 milhões. Recuperou o valor um ano depois (e já sem Mourinho), quando o mesmo clube inglês adquiriu o anônimo meia Pedro Mendes, por 7 milhões. Nem Helder e nem Pedro vingaram na Inglaterra. Paralelamente, Mou por intermédio de seu agente Jorge Mendes, já tinha avançadas negociações com o Chelsea.

Na época Abramovich contratou Peter Kenyon, que havia se destacado trabalhando nos bastidores do Manchester United. Mendes convenceu Kenyon de que Mourinho era uma opção viabilíssima, até porque o seu Porto já havia eliminado de forma surpreendente o próprio United, nas oitavas de final da CL 03/04. Mourinho seguiu à frente do Porto até a final daquela CL, batendo o Monaco e fazendo o clube sagrar-se bi-campeão continental.

Depois de fato partiu para Londres, com Jorge Mendes acertando as transferências de Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira (juntos a cerca de 50 milhões de Euros), levados à Stamford Bridge pelo treinador. Deco que Mourinho exigia à Pinto da Costa como condição para prosseguir na Cidade do Porto, foi negociado pouco depois a 21 milhões de Euros, pagos pelo Barcelona.

Re-encontros e represálias.

Na primeira Champions League disputada em sua primeira passagem pelo Chelsea, Mourinho enfrentou o FC Porto na Champions League 2004/2005, logo na primeira fase. Os ultras (ou torcedores organizados europeus) da Super Dragões portista, ameaçaram-no de morte quando voltou à Cidade do Porto em dezembro de 2004.

Sempre provocador, Mou comparou seu ex-clube com o italiano Cittá di Palermo, enfatizando o aspecto provinciano do clube lusitano. Acabou tendo que se desculpar publicamente para com os italianos. Além da saída traumática do Porto, um integrante da Super Dragões, acusou Mou de ter assediado sua esposa através de telefonemas.

O caso foi parar na justiça portuguesa, que ressaltou o fato do torcedor ter se tornado popular por insultar Mourinho no confronto de ida entre Porto e Chelsea, ocorrido em Londres (Inglaterra). A Super Dragões declarava guerra a Mourinho que por sua vez, solicitou à UEFA reforço de segurança tão logo chegasse à Cidade do Porto.

Porto e o Chelsea de Mourinho se enfrentariam novamente nas oitavas de final da CL 2006/2007, com os blues avançando ao obter dois empates. Na véspera desta menos turbulenta ocasião, Mou declarou que “alguns entendem sua opção por tomar novos rumos e outros lhe cantam bonitas canções. Mas nem vaias e nem ameaças podem manchar a história”.

A Esporte Interativo exibe FC Porto x Chelsea no Brasil nesta terça-feira às 15:45 (horário de Brasília).

Imagem de Mourinho: Peter Cziborra – Reuters

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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