Frente Atlético: ultras colchoneros da extrema direita.

No início desta semana, a direção do Atlético de Madrid baniu a torcida organizada Frente Atlético do convívio do estádio Vicente Calderón. O motivo se deu pela confusão criada entre os membros da Frente e os integrantes da Riazor Blues, torcida organizada do Deportivo La Coruña. Isso no último domingo em Madrid, pouco antes do jogo entre Atlético 2×0 Deportivo, válido pela liga espanhola.

O embate entre os “ultras” da Frente e da Riazor Blues ocasionou a morte de um membro da segunda facção, além de ferir mais onze. O fato mobiliza autoridades espanholas e a Liga de Fútbol Profesional num esforço conjunto para extinguir os “ultras” e sua violência desmedida. O periódico espanhol El País tem resgatado as origens e o perfil de algumas das torcidas organizadas mais perigosas da Espanha.

Frente Atlético

A Frente Atlético foi fundada em 1982, então com consentimento do presidente do Atlético de Madrid, Vicente Calderón, gestor do clube entre 1964-1980 e 1982-1987. O vice-presidente colchonero da época, Javier Castedo viabilizou 200 mil pesetas para que a torcida tivesse início. O lema para angariar adeptos perguntava: “Você gostaria de viver o colorido de San Siro e a gritaria de Anfield?”.

Tal lema fazia menção direta aos “Ultras” do norte da Itália sediados em Milão, onde Milan e Internazionale dividem o estádio San Siro. E também aos torcedores do inglês Liverpool que joga em Anfield Road. Em 1982, o futebol da Inglaterra ainda vivia dias negros em meio ao ápice do hooliganismo. O El País frisa que não havia nada parecido na Espanha com os fenômenos vistos no norte da Itália e Inglaterra, até o surgimento da Frente Atlético.

O periódico ressalta que a Frente Atlético deveria ter o nome italiano de Brigatta Rossiblanca (ou “brigada vermelha e branca”) e a inspiração do batismo tinha origens na Frente de La Juventud. Muitos integrantes da Frente Atlético faziam parte desta frente/partido a qual por sua vez, descende da Fuerza Nueva, dotada de caráter de extrema direita. Na Itália a Fuerza Nuova é um grupo neofascista ligado à torcida da Lazio de Roma. O norte da Itália é o berço dos “Ultras” de extrema direita

A nomeação evocando a língua espanhola se deu por sugestão de Vicente Calderón. A Frente Atlético se iniciou com 400 membros que rapidamente se multiplicaram. A torcida organizada se auto-sustentava vendendo itens de merchandising com sua marca, tendo ainda um depósito dentro do próprio estádio do Atlético. Sua bandeira maior ostentada no Fondo Sur (ou “fundo sul”) do estádio Calderón dizia “Frente Atlético, Ultras 1982”.

Segundo Carles Viñas, doutor em história contemporânea pela Universidade de Barcelona, a Frente Atlético ostenta uma face animada mas reservava um núcleo duro, formado por integrantes muito violentos. É algo que a diferencia das outras torcidas rivais. Viñas é autor do livro “El mundo ultra. La violencia en el fútbol español” (em português “O mundo ultra. A violência no futebol espanhol”, sem tradução no Brasil).

A Frente Atlético carregava dentro de si outras sub-facções como a extinta Bastion, da qual pertencia Ricardo Guerra condenado por assassinar Aitor Zabaleta, membro da torcida do clube basco Real Sociedad em 1998. O caráter de extrema direita da Frente, observava com olhos xenofóbicos a torcida de origem basca, algo que incluía cânticos ofensivos entoados no Calderón.

Um deles dizia “Zabaleta era de la ETA” (ou “Zabaleta pertencia ao ETA”), fazendo menção ao grupo separatista basco ETA. O País Basco que abriga os times da Real Sociedad e Athletic Bilbao toma-se enquanto culturalmente distinto do reino da Espanha, que por sua vez o abriga geograficamente.

As sub-facções.

Os subgrupos ou sub-facções dentro de uma única torcida organizada faz com que seja difícil a identificação dos seus intentos. O professor Viñas observa que “defender seu território”, no caso o estádio de seu time, é um objetivo fundamental do “ultra”. A agressão aos membros da Riazor Blues no último domingo, se deu por este motivo. Segundo Viñas o fenômeno pouco se distingue do momento mais duro do hooliganismo inglês, nos anos 1970. São como tribos urbanas, munidas das motivações mais diversas e radicais.

O El País enumera 23 subgrupos de orientação de extrema direita, dentro da Frente Atlético. As mais conhecidas são a Casual e a Tercios de Flandes. Alguns membros usam a cabeça raspada e casacos Bomber, algo que tem diminuído devido a vigilância policial.

As torcidas rivais consideradas inimigas da Frente Atlético são a Ultra Sur, de adeptos do Real Madrid, os Bukaneros ligados ao time do Rayo Vallecano; além da Biris (torcida do Sevilla) e da citada Riazor Blues.

Para ler sobre o banimento da Frente Atlético, clique aqui.

Para ler sobre a Ultra Sur, atualmente banida do convívio do Santiago Bernabéu, clique aqui.

Foto da bandeira ostentada pela Frente Atlético no Calderón: Javier Lizón – EFE

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
Top