“El niño” rossonero

“All that I wanted were things I had before
All that I needed I never needed more
All of my questions are answers to my sins
All of my endings waiting to begin”
(“Circle” – Slipknot)

E o atacante espanhol Fernando Torres acabou fechando com o Milan. A temporada pairava não lá muito vistosa no imaginário do torcedor rossonero. Torres, muito longe daquele “el ninõ” do período entre 2006 e 2008, chega por empréstimo enquanto principal reforço rossonero para a temporada.

O estágio que trás o Milan até os dias atuais em termos futebolísticos, se inicia após o fim da temporada 2011/2012. Ao fim daquela jornada, os últimos remanescentes do grupo vencedor de Carlo Ancelotti, ali sob comando de Massimiliano Allegri, se aposentaram e/ou tiveram seus contratos findados. Além da súbita negociação de Ibrahimović e Thiago Silva com o PSG, já num panorama de fair play financeiro.

Daquele grupo de Carletto, responsável pelos dois últimos títulos rossoneros da CL, Filippo Inzaghi é agora um jovem treinador de um time que não disputará nenhuma competição europeia. O Milan pode se aproveitar do fato de Juventus, Roma, Napoli e Internazionale, estarem se dividindo entre Serie A e Champions League/Europe League, para obter um bom desempenho. Mas por outro lado, o Milan já não atrai nenhum treinador world class. O panorama com Inzaghi porém, é menos pior do que com um Seedorf iniciante.

El niño + 10.

Torres chega com garantia de protagonismo numa Série A esvaziada de craques e maiores investimentos, devido aos problemas pós 2006, apontados anteriormente pelo editor deste 90 Minutos (clique aqui). Fernando Torres, exemplo de atleta, nunca foi o tipo de jogador que agradou o publico brasileiro. “El niño” é observado “de cima para baixo” no Brasil, principalmente depois que Roman Abramovich pagou absurdos 50 milhões de Euros por ele, então no estaleiro do Liverpool.

Foi um dos últimos lapsos de Abramovich enquanto “cartola amador”, que após o titulo da CL obtido pelo Chelsea em 2012, percebeu que nem sempre o suposto melhor material humano e/ou material humano mais caro, são sinônimos de títulos certos. Torres cumpriu seu papel nos blues, na reta final da citada CL, sendo que o espanhol conviveu com Anelka e Drogba ainda em idade útil. Além de ter sido decisivo na final da Europe League 2012/2013, anotando um dos gols da vitória por 2×1 sobre o Benfica.

Por outro lado, no atual Chelsea, Torres estava convivendo com um ídolo em retorno (Drogba) e um Diego Costa em início esplendoroso. Em relação a Oscar, Andre Schürrle e Willian, Torres tem contra sí o diferencial de não poder atuar no meio-campo como armador. “El niño” nunca teve características de meia, ao passo que os outros três citados podem atuar tanto no meio, como a frente enquanto atacantes de área.

A diferença do contexto geral do Chelsea para os contextos de protagonismo que Torres viveu no Liverpool e no Atlético de Madrid, é que nos dois últimos não haviam outros que chamassem a responsabilidade, nem que tivessem grande apuro técnico para tal. Vale lembrar que Torres foi capitão do Atlético de Madrid com apenas 19 anos.

Seu ápice foi entre 2006 e 2009. No Mundial 2006, dividiu a artilharia da Espanha com David Villa (3 gols cada), sendo que a fúria foi eliminada nas oitavas de final. Mas era apenas o início do ciclo irretocável do time que venceria a EURO 2008, com gol do próprio Torres na vitória por 1×0, na final contra a Alemanha. E culminaria com título da EURO 2012, após vencer o Mundial 2010. Nos dois últimos títulos, Torres já não era tão protagonista na seleção. Em 2010 foi à copa na África do Sul praticamente se recuperando de lesão.

É bem possível que a convivência com Pippo Inzaghi, outro atacante ridicularizado no Brasil mas respeitadíssimo na Europa, tenha influenciado Torres a deixar o Chelsea, devido às circunstâncias ao redor. E no fim das contas, Torres é um atacante mais confiável do que o psicologicamente instável, Mario Balotelli.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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