Futuro de Ganso é mais róseo com champanhe que com pizza

Ganso voltou a ter seu nome entremeado às negociações de mercado. Natural. Depois de meses de inatividade, ninguém haveria de colocar cegamente dinheiro num jogador, nem que ele tivesse o talento de Pelé. A proximidade com o Milan “revelada” pela Gazzetta é notícia plantada por agentes e mesmo sabendo da seriedade do jornal e do repórter Dario Paolillo, ambos foram usados pelas fontes ligadas ao grupo que quer negociar o atleta. Ganso não está, hoje, mas perto do Milan do que estava antes de sua última lesão. O Milan quer comprar e se dispõe a pagar €30milhões. Para sair por este preço, o jogador terá de peitar o Santos e eventualmente até romper com o clube e ir para outro time brasileiro (papel ao qual o Corinthians andressanchista já se disse disposto). Daí, terá de enfrentar a ira da torcida. Mas há uma alternativa mais interessante a oeste da Itália.

Ganso já não tem mais a cabeça no Brasil. A disputa do Mundial Interclubes é a única razão que pode mantê-lo no clube até dezembro. Não há nada a ganhar num campeonato corrupto, de baixo nível técnico, gramados ruins e adversários risíveis e muito a perder – uma terceira lesão no joelho, por exemplo. Apesar de ainda não se veicular oficialmente, Ganso é o primeiro nome indicado por Leonardo para o Paris-SG e seria a melhor opção para o jogador e para o Santos, caso o Santos gerencie a questão inteligentemente. Em Paris, Ganso terá status de estrela, jogará um campeonato mais leve fisicamente, num clima menos agressivo que as ligas maiores e poderia até valorizar seu passe. Como o Santos ganharia mais? Explico.

Quando o São Paulo foi vender Kaka para o Milan, o ex-presidente Fernando Casal de Rey, cuja capacidade é exponencialmente maior do que a gerência de quitanda atualmente no clube, fez a seguinte proposta: em vez de vendê-lo por €8 milhões, vendamos por €5mi e vamos exigir 20% de  uma futura transação (além dos direitos referentes à formação do jogador). A diferença teria rendido €10 milhões a mais para o clube, caso Casal de Rey tivesse sido ouvido. Na transação de Ganso, uma negociação do gênero livraria o Santos da parceria nefasta do grupo DIS, garantiria um dinheiro imediatamente e ainda teria uma chance imensa de reverter uma cifra que aproximaria o valor da cláusula. Ganso daria certo numa liga como a Francesa com 99% de certeza.

Para ele, Ganso, seria a chance de se fixar na Europa sob a asa de um brasileiro sabidamente paternalista e protetor, num clube de estrutura sensacional e sem a pressão hedionda de clubes maiores e, além do mais, escapar de um campeonato que atravessa um momento de decadência, mas no qual as pressões ainda são completamente desmedidas. Contudo, isso – uma gestão racional do assunto –  não vai acontecer.

Primeiro, porque as decisões no Santos não têm um viés profissional – são torcedores cuidando do clube; segundo, porque nem todos os envolvidos na transação são torcedores (os que não são querem somente sua parte em dinheiro); terceiro, porque os clubes brasileiros não se vêem como players num mercado volátil – querem dinheiro já, pô-lo no bolso (nem sempre o do clube) e sumir. Até que apareça um novo Ganso para repetir o padrão. Tomara que o jogador se assessore melhor pois pode ter um futuro digno de Enciclopédia.

 

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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