Um escândalo na Itália – o enésimo

“Abbiate pietá!”. (“Tenham piedade”). O grito de socorro de um dos ícones do futebol italiano do futebol italiano, Beppe Signori, 188 gols na Série A ao ser preso no recente escândalo de apostas na Itália, soa como um corte no coração dos amantes do campeonato mais belo do mundo possa chegar. Com um revival do Totonero – aos mais jovens, não confundir com o terremoto de Calciopoli nem com o , de 1986, a Itália marca sua liderança absoluta num mar de corrupção que é o futebol. Há esse tipo de problema em todos os campeonatos do continente (e daqui também), mas como na Itália, não. Pela enésima vez, fica claro: ou as autoridades italianas fazem alguma coisa e põem pessoas na cadeia para longas penas (e não para um fim de semana no cárcere), ou atendem aos interesses políticos dos donos milionários dos clubes e continuam sendo eliminados nas ligas europeias como clubes suíços ou belgas.

O que aconteceu nesta semana não é novo: jogadores, dirigentes e agentes esportivos, em busca de lucros fáceis e rápidos, combinavam fraudes esportivas em jogos nos quais estivessem envolvidos. Esses dava um jeito de arrumar um pênalti, uma falta, uma expulsão para alterar o resultado do jogo. Ou então iam além, como o goleiro de um time da série B, que colocou sedativo na água de todo o time para garantir uma virada do adversário que era o lanterna do torneio.

Signori foi preso com todos os requintes de humilhação: preso em público, entrou algemado no carro e foi direto à prisão. Mas a lista é grande – mais 16 nomes. Entre eles o herói atalantino Cristiano Doni, o ex-companheiro de Cassano e Zambrotta no Bari, Antonio Bellavista,o ex-jogador da Fiorentina, Mauro Bressan e mais ilustres desconhecidos do público em geral. No sistema, a venda de uma partida da Série A custava €400 mil; uma dibisão abaixo, “só” €120 mil e na série C, metade disso.

A extensão total do drama é desconhecida mas bate mais uma vez numa falha que o sistema futebol comandado pela estrutura necrosada da Fifa e capitaneada por Sepp Blatter. No futebol, é fácil encontrar pontos de corrupção, esses pontos não são vigiados e quando, por sorte (ou azar, dependendo do ponto de vista), consegue-se flagrar alguém, as penas são brandas. O iceberg de lama italiano, como qualquer outro, se inicia na sede da Fifa em Zurique e na sua recusa em combater o problema de verdade.

Antes que algum imbecilóide venha tentar fazer uma ode ao bom funcionamento do futebol brasileiro neste sentido, lembremos: temos um presidente de federação condenado pela justiça por contrabando (assim como alguns jogadores que, depois foram todos absolvidos num capítulo negro chamado “Vôo da Muamba”), temos uma justiça desportiva que não tem credibilidade nem da Velhinha de Taubaté e temos declarações públicas de jogadores que dizem apostar em partidas nas quais estejam jogando (Vampeta declarou há alguns anos, no Bola da Vez da ESPN, um episódio do gênero e não foi questionado por ninguém ).

Sorte nossa que o Brasil não tem a cultura de apostas em competições esportivas – até porque a única que tínhamos, a LOteria Esportiva, caiu em desgraça com o escândalo, denunciado pela revista Placar em 1982. Na Itália, não têm essa sorte. O futebol italiano está morto e enterrado. Para tirá-lo da tumba, é preciso que os coveiros e agentes funerários berlusconi-morattianos sejam jogados dentro da tumba. Está cada vez mais parecido com um campeonato semiamador, como o Brasileiro. Quem sabe Ricardo Teixeira não vai dar uma workshop em Palermo ou Napoli para explicar como manter um país no atraso da organização futebolística?

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top