Considerações de um título aguardado

Jogo, feio, empate e scudetto. O Milan conquistou um título anunciado há meses, menos pelo próprio brilho do que pela entropia interista que voltou a níveis pré-calciopoli. Não se deve tirar o mérito milanista: o time não é excelente (ainda se recupera do caos causado pela confusão de 2006), mas se excedeu. Com um super-Ibrahimovic (campeão nacional há oito anos consecutivos), uma defesa imperfurável e algumas descobertas (vide Boateng), os rossoneri chegaram lá numa liga decadente e que precisa reaver seus grandes clubes no seu status natural.

Na comemoração do título, um evento chamou a atenção. Desgovernado, O volante Gattuso desfilou o seu veneno contra Leonardo cantando junto com a torcida milanista (“Leonardo, uomo di merda”) e viu um escândalo atrás de si. Ok, foi uma queda de estilo de Gattuso, mas absolutamente natural. Gattuso é apegadíssimo ao Milan e como bom calabrês, sentiu a ida de Leo à Inter como uma traição pessoal, que já tinha se iniciado no ano em que Leo o deixou no banco de reservas. E antes de invocar ultraje, vale observar a história. Pessoalmente, me lembro ao menos de Materazzi rindo com a camisa da Juventus após a derrota em Perugia que deu o título à Lazio, Nesta, no mesmo ano, no vestiário da Lazio cantando “Juve, Juve, vaffancullo”, diante das câmeras de TV, Massimo Moratti dando bananas para Galliani na tribuna de San Siro depois de um derby, Ambrosini segurando uma faixa mandando a Inter enfiar o scudetto naquele lugar (o Milan acabara então de vencer a LC), etc. Leonardo é visto – justamente – como um traidor em Milanello, dadas as juras de amor e promessas de jamais treinar outro clube na Itália. Gattuso só se expôs ao externar o que se fala dele dentro do clube.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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