Decisão e drama em Milão e olho no futuro

Quem assistiu a 34a. rodada do Italiano até o início do primeiro tempo, poderia imaginar um desfecho amargo para Milão e com um campeonato muito mais aberto nesta segunda-feira. Afinal, o Napoli e a Lazio venciam e nada indicava que o Milan teria vida fácil contra um Brescia desesperado sem Ibrahimovic e Pato. O futuro de Leonardo parecia definido e os napolitanos manteriam suas chances de título enquanto a Inter passaria a ver em risco sua vaga na Liga dos Campeões. Aí, entrou em cena a imprevisibilidade angustiante do futebol.

Com as viradas de Palermo e Inter, mais uma vitória milanista arrancada a fórceps em Brescia, o ‘scudetto’ está praticamente decidido, com o Milan podendo empatar suas últimas quatro partidas para ser campeão. Leonardo não só ganhou sobrevida com o paternalismo emocional de Massimo Moratti, como passou a ter seu cargo ameaçado somente com uma possível e improvável volta de José Mourinho ao banco interista (veja post anterior). E o Napoli atendeu às expectativas de um clube que não decide nada há quase vinte anos e sentiu quando a porca torceu o rabo.

Diante do panorama, é difícil imaginar um Milan tão velho e experiente perder o título. Sim, certamente esse será o campeão italiano mais medíocre em muitíssimo tempo, mas inegavelmente será um título merecido. O grande alerta é em relação à qualidade da liga. O Milan campeão terá passado por times que na época anterior ao escândalo, não chegariam à Liga dos Campeões. A vitória em Brescia teve 97% de experiência e 3% de talento (o que permitiu a Cassano dar o passe a Robinho e as duas defesas de Abbiati), um sintoma claro da atual qualidade do Italiano.

O campeão italiano (mesmo que não seja o Milan), será o primeiro legitimamente forjado na Itália pós-Calciopoli. Os títulos interistas não foram falseados, mas foram decididos numa liga em que viu Milan e Juventus tinham acabado de descer três andares, Exceção feita à temporada passada, onde Mourinho de fato fez uma Inter competitiva sob qualquer ponto de vista, estes cinco anos foram o tempo necessário para que os grandes italianos novamente estivessem em patamares similares. A dominação interista se encerrou, mas não porque os outros grandes cresceram e sim porque a Inter desceu ao nível deles (para quem vê uma Juventus muito abaixo, faço um comentário aqui).

Mesmo as boas surpresas do atual torneio tiveram finais de semana medíocres. A Udinese voltou a jogar mal e salvou o Parma de mais uma semana com a água no pescoço e a Lazio fez um jogo incompreensível, jogando melhor até marcar o gol e depois dando condição a uma Inter tão raçuda quanto cansada de virar graças a manobras individuais de seus melhores jogadores.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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