Vitória sofrida e Inter se questiona

Após jogar na lata do lixo as chances de título e a vaga na Liga dos Campeões, Leonardo parecia condenado na Inter até que, graças a um gol de falta e um escorregão de Biava, parte da revolução programada na casa da (ainda) campeã europeia entrou em colapso. Leonardo voltou a ser o favorito para ficar no comando do clube no campeonato que vem, mesmo com uma reformulação de elenco a caminho.

Segundo um jornalista da Sky Italia, Massimo Moratti já estaria conformado em ter de vender algumas de suas estrelas. A Inter é o time que tem o menor faturamento recorrente (o que independe de resultados em competições, como a Liga dos Campeões) entre os grandes italianos e é o que tem, de longe, a maior folha salarial. Segundo a Sky, dois entre Maicon, Júlio César, Sneijder e Eto’o serão vendidos para fazer caixa.

Os dois brasileiros são os mais cotados para serem vendidos, por algumas razões: podem render um bom dinheiro e têm substitutos em potencial que já são da Inter (Viviano, no Bologna, e Santon, no Cesena). Eto’o tem um salário e preço muito altos para que surja uma boa proposta e Sneijder, com 26 anos e craque indiscutível – com ou sem Mourinho – é a joia que Moratti quer manter a qualquer custo. O último nome é Milito. Não se sabe seu destino porque seu valor de mercado despencou em relação a maio passado (de €25milhões para pouco mais de €10 mi) e ele vem de uma temporada cheia de lesões. Uma negociação só faria sentido para livrar a Inter de seu salário (€4 mi ao ano), mas nesse caso, Eto’o seria ainda mais urgente, já que ganha o dobro do argentino.

Outros nomes, como Thiago Motta, Pandev, Chivu e Córdoba ainda não têm destino certo, ainda segundo a informação da Sky. Nenhum deles foi bem com Leonardo, mas certamente o mau ano não é responsabilidade só deles. Eles, juntamente com Mariga, estão absolutamente à disposição para venda, mesmo sem uma megaproposta (especialmente no caso de Pandev, que como chegou a custo zero, teria grande valor na adequação do balanço interista). O ganês Muntari dificilmente retornará a Milão e certamente bem pouca gente dará pela sua falta.

A grande mudança no fim de semana foi mesmo na mudança de status de Leonardo. Massimo Moratti teria ficado entusiasmado com a virada da Inter (ainda que, como já citado, o sucesso da Inter tenha vindo por acaso). Mas não é só: Moratti já teria contatado vários técnicos e recebido recusas. Além de Mourinho (que teria dito que retornará à Inglaterra caso deixe o Real), Moratti ouviu feedbacks negativos de gente ligada a Capello (que declinou educadamente, em função de seu passado no Milan e Juventus) e Guardiola (que, bem, treina um time razoavelmente forte…). A alternativa seria Luciano Spaletti, mas Moratti acha que seria um risco (como se não fosse um risco manter Leonardo).

Não dá para dizer que manter Leonardo seria o maior erro da gestão de Moratti (afinal de contas, ele já contratou Luigi Simoni, Roy Hogdson e Marco Tardelli), mas seria um engano com consequências sérias. A Inter tem um elenco com excelentes nomes para um novo ciclo (Além do genial Sneijder, gente nova como Pazzini, Ranocchia, Nagatomo, Coutinho, Obi e um outro jogador consagrado – ainda que caro demais – como Eto’o), mas basicamente não tem defesa. Com ou sem a saída de Maicon e Júlio César, o setor tem de ser refeito a partir do alicerce.

O ataque de um time melhora com uma ou duas contratações, mas a defesa, só melhora com o tempo e um bom treinador (exemplos não faltam, como o Manchester City há de saber). Por mais digno que seja, Leonardo nunca deu mostras de saber colocar uma defesa em pé. Certamente essa é a sua característica mais marcante como técnico – o que faz dele um treinador legitimamente brasileiro. Nesse momento, é tudo o que a Inter não precisa.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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