Observações sobre um jogaço

Foi uma partida como deveriam ser todas as de uma Liga dos Campeões – literalmente um confronto entre dois campeões. Não foi uma partida inteligente do ponto de vista tático, mas isso se pagou em termos de tensão e adrenalina. A Inter que passa às quartas de final passa com os méritos de uma garra mourinhiana e com a assinatura dos três jogadores do time com capacidade de mudar o rumo de um jogo do time – Eto’o, Sneijder e Pandev.

– O 3 a 2 talvez tenha sido um castigo muito duro para o Bayern em termos de resultado diante das estatísticas da partida. O jogo teve a Inter com mais posse de bola, mas por uma diferença pequena, enquanto o Bayern dominou nas outras cifras – também por pouco. No olhar global, entretanto, a Inter tinha de sair vitoriosa. Tomou a virada (com a ajuda de um frango sensacional de Júlio César) e conseguiu manter a cabeça fria. Pandev esteve bem marcado a partida toda, mas em nenhum momento estava desligado. Fugiu da marcação recuando para o meio-campo e deixando a defesa pender para o lado em que estava Eto’o e retornar à área no momento em que a retaguarda alemã estava no flanco oposto. É muito raciocínio para alguém que não estivesse entendendo a partida.

– Louis van Gaal sela sua passagem pelo Bayern de modo frustrante. O time que ele mandou a campo certamente tinha a volcação ofensiva que ele prega, mas defendia-se com a inteligência de um time brasileiro de campeonato estadual. Não é preciso jogar na retranca para defender-se bem – como mostra o Barcelona – mas há prerrogativas básicas como o acompanhamento dos laterais pelos externos de meio-campo e a dobra de marcação pelo volante sobre os zagueiros que não podem ser deixadas de lado numa partida do porte da de ontem. O Bayern precisa de defensores centrais que atuem menos como meio-campistas. Schweinsteiger pode jogar com mais um marcador ao seu lado e ainda assim o time terá tração anterior. O Dortmund que se cuide. Jürgen Klopp tem o perfil ideal de novo técnico dos bávaros.

– Leonardo conseguiu seu primeiro resultado como treinador realmente consistente. É difícil conjecturar até onde suas instruções mudaram o time ou simplesmente o elenco recuperou o DNA de Mourinho, mas o fato é que ele estava lá, fez as alterações num banco de reservas sem atacantes e é difícil imaginar que não tenha tido as palavras certas para manter o moral do time no intervalo.

– O sucesso interista deve ter um custo em termos de campeonato. Milan e Napoli não têm mais compromissos europeus devido à própria incompetência e Lazio e Udinese revelam-se adversários incômodos. Com a perspectiva das quartas-de-finais, a Inter terá de gastar energias importantes enquanto os adversários poderão de focar exclusivamente ao campeonato. Vencer o Derby da Madonina passou a ser fundamental para manter-se na luta pelo título doméstico.

– A Itália certamente agradece à Inter pela classificação. Tirando o Bayern, somente o Schalke segue contando pontos para o ranking Uefa pela Alemanha e a diferença entre italianos e alemães crescerá menos do que podia. Além disso, a Inter segue pontuando no ranking para impedir que a queda livre da Série A em relação aos perseguidores no mesmo ranking continue aumentando.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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