O mistério dos agentes de futebol

Há alguns dias escrevi a lista de empresários dos recém-convocados de Mano Menezes e um leitor atento me apontou que um outro jornalista tinha feito uma lista com consideráveis diferenças. Passei a pesquisar com mais afinco a questão e me deparei com algo esperado. O mundo dos empresários de futebol consegue ser mais nebuloso do que a CBF.Contatei um amigo que é um agente licenciado Fifa. Ele não trabalha com o assunto, mas tem ligações próximas com o futebol e pensa em trabalhar como agente no futuro. Perguntei: “Por que tantos jogadores parecem ter mais do que um agente, especificamente em alguns países?”. A resposta foi até meio óbvia.

Vamos imaginar uma situação. Um agente tem um jogador e quer vendê-lo para um clube, mas não tem contatos nem força política junto ao mesmo. O que ele faz? Procura um outro agente que tenha essa influência e pede a ele que o ajuda, em troca de uma comissão. Além disso, em troca, ele passa a ajudar esse agente influente nas suas próprias zonas de influência se isso for necessário. “Raramente uma transação de jogadores ocorre onde um mesmo agente recebe dinheiro do jogador, do clube comprador e do clube vendedor. Cada um dos personagens tem seu próprio agente na jogada”, me disse o meu colega.

Um exemplo: quando o Manchester City estava sendo comprado pelo árabe milionário, passou a ser assessorado por Kia Joorabchian (o que já diz muito sobre ele). Daí, o City comprou Robinho e depois, Tèvez – os dois assessorados por Kia. O técnico era Mark Hughes, hoje no Fulham. Adivinhem quem é o mais novo cliente de Kia? Um doce para quem disse Mark Hughes. “Pode até ser que não haja nada de ilegal, mas que parece mutreta, parece”, disse meu amigo, que não é brasileiro.

Os agentes hoje são a fonte de basicamente toda a corrupção (não só financeira, mas também moral) no futebol. Eles não têm risco (não têm centros de treinamento dispendiosos), lucram com o investimento dos clubes, podem romper com jogadores que deixem de ser interessantes, pressionam clubes nos quais tenham muitos jogadores, têm liberdade de pagar “propinas” (e receber, em contas em off-shores bancários), não têm pressões nem preocupações com torcidas, lesões, suspensões. Nada. A Fifa não toma uma atitude porque certamente não deve faltar a alguns de seus integrantes estímulos vindos de agentes para que não haja sanções contra a ação desenfreada deles. E leis que a Fifa impõe, como por exemplo a proibição (já existente) de que jogadores pertençam a entidades não esportivas, são desrespeitados. E quando não são – como no caso da Tombense – tratam-se claramente de ficções esportivas a serviço de alguém.

A lista de Mano Menezes é boa esportivamente e não há indício de que haja intervenção por parte de seu agente, Carlos Leite. Contudo, sim, há uma proximidade entre Leite e diversos agentes dos jogadores que compõem a lista, uma suspeita que já circunda Mano desde o tempo de Corinthians. Não há prova? Não. Mas à mulher de César não basta ser honesta. É preciso que ela pareça honesta também.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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