Crise da marca Leco

A crise do São Paulo não é técnica, não é esportiva nem pessoal. É política. É um sintoma que já se denunciava no momento em que o clube escolheu Carlos Augusto  Barros e Silva, o Leco, para ser vice de futebol, entregando o departamento mais importante do clube a um amador visivelmente despreparado. E se Juvenal teve de fazer isso nesse escalão, certamente o fez em outros. E os resultados estão aí.

Ninguém esconde que Leco é o responsável pela saída de Muricy do São Paulo. O que se diz nos bastidores é que ele foi o arquiteto da queda do treinador tricampeão brasileiro porque Muricy, com seu jeito “afável” e “diplomático”, não dava a ele o espaço e voz que ele gostaria de ter no futebol. Seu modus operandi é o típico dos dirigentes amadores: procura pessoas que obedeçam, não que trabalhem. A chegada dele ao cargo foi motivada por alianças políticas, que tendem a conduzir os resultados à mediocridade.

Mas por que uma pessoa despreparada recebe um cargo tão fundamental num clube? Política. É a mesma razão que elege um presidente como Andres Sanches, diretores como Hugo Palaia e Gilberto Cipullo e outros representantes da cartolagem. Se um desses senhores dependesse da própria competência para trabalhar como dirigente esportivo num mercado profisssional, morreria de fome. E é por isso que caras como José Roberto Guimarães não se aproximam com futebol. Trabalho é uma coisa e política é outra.

O elenco do time não é brilhante mas é muito melhor do que a posição indica. É um elenco criado para jogar no 3-5-2, porque não tem laterais. Por uma insistência qualquer, tenta jogar com quatro atrás, mas se esquece que sem ovos não há omelete. Além da questão tática, há uma questão interpessoal na qual não há respeito à autoridade do técnico, sempre minada pelo vice de futebol e outros conselheiros que ficam vagando pelo Morumbi. Muricy trazia o time no cabresto – mas mesmo assim havia gênios sãopaulinos pedindo a sua cabeça. O cabresto é a única língua que os jogadores entendem.

O São Paulo está fora da luta pelo título e muito perto de estar fora da luta por uma vaga na Libertadores, exatamente como na época em que Leco tinha um cargo preponderante no futebol do clube numa gestão anterior. Se ele ficar, o time continuará enterrado onde está; se for afastado, terá nele, provavelmente, um elemento a mais para desestabilizar o time, já que são as eminências pardas que derrubam times e técnicos. A situação é difícil porque contratações de Ilsinhos não vão resolver. O clube precisa de um choque de gestão no futebol. Com os Lecos, isso não vai acontecer.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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