A aposta de Dunga

Dunga hoje começa um Mundial tendo feito algo que nenhum treinador fez. Ele não só peitou a imprensa. Ele a desafia e coloca o dedo no seu nariz. Além disso, ele desafiou a torcida, que está ao lado dele em boa quantidade por conta dos resultados, ao deixar um sem número de jogadores no Brasil. Nunca ninguém jamais fez tudo isso ao mesmo tempo. Nem Scolari quando deixou um decadente Romário para vencer o pentacampeonato.

Isso significa o seguinte: se Dunga for campeão, vai ficar em cima da carne seca. Vai virar gênio. Todos os jornalistas puxassacos que decantam suas qualidades (especialmente na mídia gaúcha, “chapa branca” em sua maioria em relação ao técnico e nas emissoras ligadas à Globo) vão dizer: “eu já dizia”. Dunga terá sua vingança final sobre aqueles que criaram a Era Dunga de 1990. Não bastará para ele, que continuará maltratando os mesmos, mas ele estará vingado de cabo a rabo.

Por outro lado, se Dunga perder a Copa, ele será atacado. Será atacado da maneira mais baixa, sórdida e vil possível por todos (provavelmente menos pela imprensa gaúcha, que costuma respeitar seus “aliados”). Será um burro. Seus jogadores que não foram titulares o atacarão. Ricardo Teixeira o relegará ao ostracismo (fato comum na sua biografia, a de trair aliados desinteressantes). Não se viu, até hoje no Brasil, a caça às bruxas da qual Dunga será vítima caso o Brasil perca. Nem com Sebastião Lazaroni, que apesar de quase todos os pecados de Dunga, ao menos não era agressivo.

Dunga, em sua campanha, chamou toda a responsabilidade para si. Fez uma política similar à de José Mourinho. Isso tirou dos jogadores muito da responsabilidade. Se der certo, terá sido uma tacada de mestre. Se der errado, será um erro do qual ele jamais se recobrará. Mourinho tem cacife para bancar essa política. Dunga, não se sabe.

Continuo achando que alguns nomes deveriam ter ido à Copa, como Ronaldinho Gaúcho, Pato e Ganso. O primeiro, porque aliviaria a pressão e porque fez uma temporada melhor do que a de qualquer meio-campista ou atacante da Seleção. Além disso, como o segundo, daria uma alternativa de ataque que é melhor do que Grafite. O terceiro porque indiscutivelmente (salvo lesões possíveis) deve ser o comandante brasileiro em 2014. Ele preferiu assumir os riscos. É um ato de coragem quase insana. Jamais Dunga poderá ser acusado de não ter tido coragem. Cabe saber se foi tudo por princípio ou se foi só por causa de sua mágoa milnovecentosenoventista.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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