Nem tudo é ruim porque é ruim

Uma coisa devo conceder aos meus colegas jornalistas que estão na África. Ainda que eu considere que a qualidade das coberturas é abissal (sem exceção de emissora – só exceções individuais), fazer isso não é fácil. Você viaja para outro país, fica um tempão à disposição para uma entrada ridícula na qual você diz que tal atleta sentiu dores na coxa (isso, diga-se, é uma notícia bombástica), é maltratado pela assessoria de imprensa, vilipendiado pelos jogadores , que tratam 99% dos jornalistas como lixo (o raciocínio é: eu ganho cem vezes mais do que você) e o outro 1% trata você mal porque a CBF mandou. Trabalhar assim é dose.

Isso não isenta quem planeja a cobertura. Meia dúzia de diretores (que se escalaram e estão lá) é que são os responsáveis pela qualidade da cobertura. As poucas palavras de lucidez que você escuta não estão no roteiro. Elas vêm do esforço dos profissionais que estão lá, acordam cedo, ficam esperando o nada. Quero dar meus parabéns a esses caras, a quem naturalmente não vou nomear porque a ideia não é fazer moral. É mais para os colegas leitores não generalizarem. Aquele bom jornalista que aparentemente está fazendo papel de bobo na África não está porque quer. Está porque algum bacana e/ou puxa-saco da chefia dele não teve gabarito para bolar pautas melhores.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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