Juve – a falência em campo

Quando acabou Calciopoli, a Juventus estava esfrangalhada. Nenhum de seus jogadores, além de Buffon, poderia se candidatar a uma posição num grande europeu. Perdidos Cannavaro, Zambrotta, Thuram e Ibrahimovic, o time ficou com cara de meio de tabelada Série A. Claro, era mais do que o suficiente para subir para a Série A, mas a cinco anos de trabalho da Superjuve de Capello – que, diga-se, era realmente boa.

Em tese, os dois últimos mercados “deveriam” levar a Juve de volta ao patamar anterior. “Deveriam” só nas cabeças de torcedores e dirigentes iludidos. Nenhum clube de uma liga grande se recobrou inteiramente em dois anos depois de um rebaixamento. As contratações de Amauri, Mellberg, De Ceglie e Poulsen (em 2008) e Diego, Felipe Melo, Cannavelho e Grosso (em 2010) erraram na mira e na estratégia.

O erro da mira é óbvio. Amauri, entre todos os nomes citados acima, é o único que poderia funcionar na Juventus, porque tem o que se exige dele. É um jogador de força para prender a defesa e aguardar a chegada dos meio-campistas com a bola. Além disso, tem um arremate excelente. De resto, não é preciso muito para concluir que Poulsen não poderia fazer as vezes de um de Rossi e que Cannavaro está com o cabo da boa esperança dobrado há pelo menos dois anos.

Aí vem a questão mais delicada para os brasileiros: Felipe Melo e Diego. Os dois foram contratados na esperança de criar um 4-1-2-1-2 similar ao do Milan campeão Europeu, com Pirlo “playmaker” baixo (que seria o papel de Melo) e Diego como o Kaká ‘bianconero’. O problema é que nenhum dos dois limpa as botas dos então milanistas. Além disso – e a í vem o erro de estratégia – a Juventus confiou a um homem da casa (Ferrara) o comando de um time frágil e como diagnosticou Luciano Moggi (um criminoso notório, mas que conhece muito de futebol), as “chegadas de Diego e Melo são erros profundos porque obrigam a Juventus a atuar com um ‘trequartista’ e um “play” baixo, um sistema que não é natural para o elenco da Juventus”. Definição luminar. Se no 4-4-2 de Capello o time jogava com Camoranesi e Nedved externos e impingindo o jogo, a Juve deste ano se enterrou com um volante bastante limitado como primeiro armador e com Diego tentando fazer o que não pode: jogar como Kaká.

Entre todas as contratações recentes, a única razoável é Candreva, um jogador capaz de jogar como segundo atacante no 4-4-2, onde Del Piero já está de saída. Diego não é mau jogador, mas não tem futebol para um gigante europeu como a Juventus que a torcida e mídia de Turim imaginam que a Juve ainda seja. Para a Juve atual, que fica entre 8º e 4º lugar, pode ser eficiente. Para mais que isso, não.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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