Posso estar enganado. Posso estar sendo injusto com uma pessoa doente que apesar de ter tudo nas mãos e de ter a força de um touro – que ele mesmo adora mostrar fazendo pose de wrestler – sucumbe ao vício com uma fragilidade de bebê. Contudo, sob o ponto de vista jornalístico, acho prudente pontuar.
Adriano passou dois anos de sua carreira fazendo de tudo para deixar a Inter de Milão. Indisciplinas (chegou a se apresentar para um treino bêbado, ao lado de Maicon), falta de entusiasmo, declarações “polêmicas” (que nos bastidores da Itália são creditadas ao seu empresário), desaparecimentos e até um boato de que ele teria sido baleado na favela. Adriano fez de tudo. Até que chutou o balde, “abandonou a carreira por falta de motivação” e subitamente, quase que por milagre, por obra do divino e do impensável “reencontrou-se” e assinou com o Flamengo, onde carregou o time nas costas rumo ao título nacional.
Agora, a cantilena se repete. Adriano falta a treinos. Adriano vai às baladas. Adriano causa chiliques de namoradas enraivecidas e – principalmente – Adriano não treina. Como eu disse, podemos estar sendo injustos, mas a repetição da novela, exatamente nos moldes da que aconteceu com a Inter, parece muito mais um cenário de saída do Flamengo do que outra coisa. O amor e apego à camisa rubronegra parecem estar se dissolvendo com a proximidade da janela de transferências.
Suposições à parte, Adriano é o maior desperdício de talento no futebol mundial desde Edmundo. Ele poderia ser titular absoluto de qualquer equipe do planeta e concorrer ao posto de melhor do mundo, mas ao contrário disso, joga o suficiente para o Campeonato Carioca – ou seja, nada – e troca a rotina de treinos por baladas em lugares dominados pelo tráfico.
Levar esse Adriano à Copa será uma piada que, acredito, Dunga não fará. O técnico tem muitos defeitos, mas tem um apego ao seu discurso que é notável e as vezes até o compele a más decisões (vide exclusão de Ronaldinho). Vágner Love, que acompanhou in loco a presepada de Adriano, deve ter enterrado de vez suas chances de Copa – que seriam imensas com um Adriano a todo vapor. O Flamengo venceu o título de 2009, mas continua algemado pelo Fator Flamengo.