Chora Roma, chora Totti

A derrota da Roma diante do Panathinaikos revela definitivamente a limitação romanista. O time é bom para os padrões de um Italiano atípico (onde Milan e Juve estão ainda feridos) e está jogando a 110% de sua capacidade. Confrontando-se com rivais europeus, os limites romanistas ficam claros, especialmente no ãmbito defensivo. Tomar seis gols de um time com Djibril Cissé é uma prova disso.

Alguns leitores acham que eu não gosto de Francesco Totti, maior jogador da Roma na história. Já soube até de colegas blogueiros que falam de mim como se eu fosse um “anti-Tottista”. É uma bobagem sem tamanho, provavelmente causada pelas minhas críticas às tentativas de alçá-lo ao mesmo tamanho de um Kaká, um Messi, um Ronaldinho Gaúcho. Totti é o ícone que é em Roma porque a Roma é uma equipe de segundo escalão na Europa.

Para Trigoria, seu futebol é extraordinário e assim sendo, se joga em sua função. É o típico caso de um talento confinado ao próprio ambiente. Jogasse no Milan (para onde quase foi aos 12 anos) ou na Juventus, jamais teria um time em sua função e é impossível saber se se adaptaria em esquemas mais rigorosos. O mesmo vale para a Itália. De azul, Totti jamais foi o craque do Olímpico. Uma magia aqui, outra ali, mas jamais um motor, jamais um Zidane, jamais um van Basten.

Na Roma, quando teve nomes como Batistuta, Cafu e Candela ao seu lado, fez chover. Sua maior virtude – jogar como trequartista – é seu maior pecado – pois impede outro esquema de jogo. Assim como Maradona, é um craque que precisa de um esquema para si para exprimir seu melhor. Só que Totti não se compara a Maradona. Enquanto isso, Kaká, Messi, Ronaldinho e Zidane, para citar alguns de seus contemporâneos, conseguiram tirar o melhor de si num futebol de conjunto e venceram muito mais que Totti, dono de um punhado de Copas Itália e um ‘scudetto’.

Mas se Totti limitou a Roma – nenhum técnico, nem mesmo Fabio Capello teve força para fazê-lo jogar fora de sua posição predileta – deu ao time seus melhores momentos na história. A saída da Europa league não foi culpa dele, claro, mas tira dele a chance de erguer um troféu europeu que fica cada vez mais improvável. Não é uma LC, verdade, mas a Roma também não é um Manchester United. Totti, com toda sua romanidade, merecia um título do gênero, assim como o clube e a cidade. Fica a torcida para o ano que vem.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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