Oscar, São Paulo, contratos e empresários

Como disse Juca Kfouri, o São Paulo não tem nada que se queixar se vier mesmo a perder Oscar, tratado há pelo menos dois anos como o novo Kaká no Morumbi. O clube é criticado por avançar em cima de atletas sem contrato ou sem proteção legal, mas a crítica é sempre improcedente. Se ao invés de contratar advogados de porta de cadeia, os clubes usassem profissionais de nível, todo mundo se protegeria. O SP está certo quando tira jogadores de outros clubes e  Oscar tem todo o direito de fazer o que quiser da carreira.

Duas observações, contudo, cabem nessa história. A primeira é que, seguindo o histórico recente, Oscar tende a perder mais do que ganha deixando o São Paulo assim. Promessas recentes tricolores que fizeram a mesma coisa, como o meia Montezine – que era considerado o verdadeiro craque da geração Kaká – sumiram no caminho. Nem tanto pela “magnitude” do São Paulo, como gosta de falar Juvenal Juvêncio, mas porque  modo geral, acabam caindo na mão de empresários vagabundos que colocam o jogador em qualquer boca de porco que renda uns trocados a mais e dane-se o jogador – invariavelmente, alguém para quem o empresário está pouco se ixando.

A segunda é sobre a figura do empresário. O agente Fifa por trás da manobra de Oscar, Giuliano Bertolucci, tem muito a ganhar caso a questão de Oscar dê certo e nada a perder, sem ter investido nada. Ou seja: no mundo do futebol, o agente é um parasita que não arrisca, não oferece nenhum benefício ao sistema ( o clube treina o atleta, o atleta se esforça, etc) e é quem fica com a parte mais suculenta do bolo. O desequilíbrio da finança do futebol está no agente, porque esse se beneficia quase sempre, e muito e se esfola quase nunca, e sempre pouco. É uma história conhecida da Fifa, que proíbe jogadores de se filiarem a entidades que não sejam clubes, mas permite que a lei seja estuprada vergonhosamente sob o tempero da corrupção rampante.

O investimento do São Paulo em Oscar está perdido. Se perder o jogador de graça, pode demitir o departamento jurídico em massa e calcular a perda de uma receita na casa das dezenas de milhões de dólares. Mas mesmo que consiga mantê-lo, o leite já azedou. Dificilmente o jogador voltará a ter uma boa relação com o clube e isso afeta seu rendimento, afeta sua evolução, performance, afeta o modo como os clubes estrangeiros os verão, afeta tudo. Os agentes por trás da manobra podem ter jogado uma carreira brilhante no ralo e sem arriscar um tostão nisso. Para o futuro, o clube pode repensar se vale a pena negociar com o mesmo agente em futuras oportunidades.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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