Sem reclamação, mas com reclamação

Não há chance do Grêmio vencer o Fla no Maracanã. Zero. Não importa o que digam os matemáticos. Esse Brasileiro vai para o Flamengo e ninguém pode reclamar.Objetivamente, pela arbitragem escandalosa de Evandro Roman na partida entre Corinthians e Flamengo. Sim, é verdade, o Fla foi beneficiado no geral  – a atuação de Roman foi sofrível – e no específico – o lance do pênalti foi simonesco – mas também é verdade que em nenhum momento (no campeonato) o Corinthians demonstrou que pudesse vencer. O time é fraco, os jogadores são medianos (exceção feita a Ronaldo, claro, mesmo que com cem quilos) e a vontade é zero. O escândalo de Mano Menezes e Elias é justo – Roman meteu a mão mesmo – mas cômodo – se o árbitro fosse o Todo Poderoso, ainda assim o Timão perderia.

O São Paulo nada tem a reclamar. O time, depois das diversas reações jasonísticas no campeonato, parece exaurido, mental e fisicamente. Contra o Goiás, depois dos 15 minutos, não teve um minuto de paz de espírito. É um bom time para os padrões do Brasileiro e fez uma campanha boa, dadas as circunstâncias. Mas mesmo tendo sido operado pelo STJD, não há como se queixar. Não dá para contar com tropeços dos outros todo dia.

Mas Palmeiras e Internacional podem sim se queixar. Tá, também é verdade que os dois deram sopa para o azar – a quantidade de pontos perdidos tolamente pelos dois foi ridícula. Mas, principalmente o Palmeiras, sofreu uma série de tungadas na fase final do torneio que permitem resmungos. Pegando só a arbitragem de Flu x Palmeiras que gerou o Belluzzogate e a participação circense de Roman no domingo, entre Corinthians e Flamengo, já há um prejuízo fundamental. Lance a lance, no torneio todo, é possível cultivar até uma frustração.

Mas o Flamengo, então, não merece o título? Num torneio de pontos corridos, quem é campeão merece. Não é um mata-mata, onde num jogo ruim o time pode cair fora. Me parece indiscutível, claríssimo, cristalino, que a arbitragem ajudou o Mengo a chegar onde chegou com uma maior “compreensão” de árbitros e  juízes do STJD, mas também é verdade que o time fez o que lhe cabia mantendo a cabeça perto da liderança.O flamenguista pode ficar irritado e lembrar de um pênalti aqui marcado contra o rubronegro ou a suposta mala branca do Barueri, mas entre pênaltis inexistentes, todos os times sofreram igual e por mais antiético que seja, ainda que o Barueri tenha recebido dinheiro, não é ilegal.

Há uma outra discussão que cabe, a de se é justo um clube que deve centenas de milhões de reais poder contratar jogadores com os maiores salários do campeonato enquanto outros se esfolam para manter a conta no azul. Por que razão se aceita que alguns tenham vantagens e outros não, ou como Getúlio Vargas dizia, “Para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei”? Só que essa não é uma discussão do Flamengo somente. É uma discussãodo Brasil como um todo.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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