Amadorismo azul

Caso o Grêmio escale mesmo um time reservacontra o Flamengo para a partida no Maracanã, estará só – e não mais do que isso – comprovando a incapacidade de se candidatar a ser uma potência nacional na “nova elite” do futebol brasileiro.  Não é preciso ser um gênio para imaginas jogadores do Grêmio nem com o time titularíssimo entrariam com toda aquela vontade – até porque a torcida gremista quer mais é que o time perca mesmo e ferre o Colorado.

Contudo, há algumas poderações interessantes. Primeiro, a atual diretoria, comandada por Duda Kroeff não teve um ano sensacional e pode fechá-lo provando que está à altura de dirigir o Guarani de Bagé, mas não um time que pretende se candidatar com força nacional. Mesmo que a torcida queira, os dirigentes precisam – até por compromissos com patrocinadores, parceiros e meios de comunicação – fazer tudo para que o Grêmio que vá a campo no domingo seja o melhor possível.

Segundo, torcedores e dirigentes gremistas podem fazer o que quiser, mas entregar o jogo (formalmente ou não) não sairá mais da memória dos rivais. E não só colorados: sãopaulinos e palmeirenses também terão prazer em colocar o Grêmio como inimigo número 1 e numa situação similar, afundar o concorrente.

Terceiro, cogitar formalmente entregar o jogo como faz o Grêmio é um sintoma de uma disfunção brasileira (não só gremista) em relação à desportividade. Um campeonato tão disputado não merece acabar com um jogo semifraudado e o Grêmio não estará jogado “pelo Colorado” como dizem alguns – mas pela correção e desportividade. O próprio torcedor flamenguista prefere vencer um Grêmio jogando sério para validar seu título. Claro, sempre haverá um debilóide que celebra a vitória roubada, fraudada, dizendo que o que importa é ganhar, mas esse merece comer feno pelo resto da vida. Ou nem isso.

Por fim, tecnicamente – vamos e venhamos – nem o Grêmio completíssimo não tem bala na agulha para ganhar do Flamengo no Rio. Se a partida do Maracanã fosse decidir o rebaixamento do Grêmio além do título do Flamengo, os gremistas estariam mortos e enterrados. Alguém poderia lembrar da épica “Batalha dos Aflitos”, mas esse time de hoje é um fantasma anêmico e esquálido do time que venceu o Náutico e o Flamengo é um dos melhores times do campeonato (sagrando-se campeão, será o melhor – literalmente).  A bravata de jogar a toalha serve também para fazer com que o Grêmio passe maquiagem na própria incapacidade. Afinal, perder um jogo tendo abdicado dele dá a impressão de que havia alternativas – e não há.

Jogar sério seria a melhor coisa a se fazer. Para todo mundo.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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