Flamengo x Flamengo

Sei que este texto tem alto potencial de cair em alguma comunidade rubronegra xiita, tipo “Brigada dos Mártires da Gávea”, mas é preciso que a nota seja feita ANTES do acontecido.

Semanas atrás, eu afirmei que não acreditava no Flamengo campeão. Não pelo seu time mas pelo peso de sua aura, pela incapacidade to quadrinômio torcida-imprensa-elenco-diretoria de saber lidar com o entusiasmo. O hábito incorrigível de subir arrotar vitória antes de mastigar a disputa fez com que o Fla – por exemplo – sucumbisse a um América do México inferior na Libertadores, tendo vantagem e dentro do Maracanã.

Neste Brasileiro, confesso que estou surpreso com a firmeza flamenguista até aqui. O time não se deixou levar pelo elogio fácil em momento nenhum nas últimas rodadas.  Mas cuidado rubronegro: a soberba já está dando as caras. Começar a discutir o que será feito depois de virar líder ou prever assédio em cima dos jogadores são coisas para serem discutidas depois de virar líder – pelo menos publicamente. O favoritismo da imprensa pelo Flamengo – particularmente a carioca – começa a contaminar os atletas e era esse o grande inimigo ao qual me referi há cerca de um mês, o “Fator Flamengo”.

Até aqui, o Fla está segurando a onda – e diga-se que segurar o entusiasmo é muito mais difícil na Gávea do que em qualquer outro clube. O time está jogando bem, tem recursos para ser campeão e tem uma desvantagem em pontos absolutamente “tirável”. O maior inimigo do Fla não é o São Paulo (que também é um adversário difícil), mas a ansiedade e a arrogância de achar que já ganhou.

PS: a situação de entusiasmo me lembra o ocorrido com o Flu antes da final da Libertadores. Entre todas as vozes da TV à época, a única que me recordo que remava contra a maré e dizia que a LDU era sim um perigo era a de André Loffredo, do Sportv. O “Fator Flamengo” também se veste de outras cores e adota outros nomes…

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

6 Comments

  1. Só para complementar a lembrança da derrota histórica para o América, o Flamengo derrotou os mexicanos no jogo de ida por 4a2 praticando um futebol muito superior ao do rival.
    No fim de semana seguinte, o rubro-negro conquistou o bicampeonato carioca, comemorou até na quarta-feira, além de promover a festa de despedida de Joel Santana. Só parece ter esquecido que ainda havia o jogo de volta. As Águias não se esqueceram e o placar final apontou 3a0 para os visitantes.
    Um vergonha…

  2. Está certíssimo. O Flamengo dos últimos anos tem perdido para sí mesmo por conta desse relaxamento. Mas esse ano eu fui surpreendido por uma mudança de postura do time, que coincidiu com a mudança do comando no futebol.

    Kléber Leite sempre foi o câncer do Flamengo e sua retirada foi de grande benefício ao clube. O trabalho do Marcos Bras tem sido bem feito e eu creio não ser coincidência a fase do time ter mudado após essa troca. Andrade e sua humildade também tem sido de grande valia.

    To levando fé que o Flamengo faça 9 pontos. Acho que mais difiícil vai ser o SPFC perder algum nessa reta final, mas se derem um vacilo…

  3. Eu até acho que o Flamengo está jogando bem, mas não vejo essa supremacia que se fala. Num time equivalente aos outros concorrentes (SP, Cruzeiro, Palmeiras, etc) como o Flamengo era até o campeonato começar, se você adiciona um Maldonado e um Adriano, o time ganha horrores.

    Quanto ao Adriano, ele é MUITO acima da média do campeonato. Muito. Ridiculamente. sem ele o Flamengo estaria na Sulamericana e olhe lá. E tem também o Zé Roberto que é excelente e como deve estar de férias da vida noturna, é o parceiro ideal para o Adriano. Mas que o Fla merece cumprimentos, é indiscutível.

  4. Observação perfeita essa sua… parecia que o Fluminense enfrentaria o Chapadinha, podendo perder por 5 gols de diferença pra ser campeão… essa é a imprensa esportiva… e na verdade, não só ela, essa é a imprensa em geral… ainda bem que temos exceções.

  5. infelizmente é sempre assim, o torcedor aceita-se esse tipo de comportamento, agora a imprensa não, deveria ser imparcial, profissional, mas são piores do que os torcedores “normais”, os caras fazem de tudo pra superestimar os fatos, e aparecer na mídia… até o presente momento o Flamengo ainda não caiu nessa arapuca, mas o jogo do Goiás é um convite pra isso… como rubro-negro torço para que o time mantenha o estilo de jogo que vem mantendo e nenhum mala de imprensa nem diretor amador literal contamine o time com o tal virus.

  6. Mesmo que não vençam o campeonato, é preciso render uma homenagem aos cariocas: ao menos tentam jogar um futebol ofensivo em meio as retrancas da maioria dos concorrentes.

    Alguém ainda vai dizer que nunca antes na história deste país a diferença em relação ao fut praticado pelos europeus, que estão reaprendendo a gostar dessa brincadeira de atacar o adversário, foi tão grande.

    Acho que como resta pouca coisa para o término do campeonato, eles precisam se preocupar mesmo é com a saúde do Adriano. Inteiro, o cara pode decidir. Como, aliás, vem fazendo faz tempo.

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