A Nigéria perdeu – ainda bem

O brasileiro e o Brasil têm uma ligação sentimental com a África. É natural. A África e o Brasil têm uma identidade cultural e racial muito forte e traços de um se encontram no outro. Um exemplo crasso é o da simpatia que os brasileiros, em geral, têm pelo futebol africano e vice-versa.

Assim, neste Mundial Sub-17, havia depois da desclassificação do Brasil (que teve atuação patética como a CBF), uma simpatia pela Nigéria (assim como no Sub-20 teria havido por Gana se o Brasil não tivesse sido vítima dos ganeses na final). O futebol “alegre” e “criativo” dos nigerianos sempre contava com a torcida brasileira contra os clichês da “força física” e “correria” européias.

Pois bem: eu não torci para a Nigéria. Aliás, achei ótimo a Nigéria perder. As seleções nigerianas de base são gerenciadas por dirigentes desonestos e são recheadas de jogadores acima da idade permitida com o intuito de enganar europeus desavisados na sua contratação. Quase METADE dos 35 jogadores nigerianos pré-convocados pela Nigéria para o Mundial Sub-17 foi cortada após tomografias para revelar a idade. E o capitão da seleção nigeriana foi acusado por um ex-jogador de ter 25 anos. Não era preciso ser investigador para ver que a seleção nigeriana estava cheia de atletas com mais idade.

A Nigéria é um dos países mais corruptos do mundo e tem um dos piores índices de respeito à democracia do planeta. Apesar de ter uma renda per capita de mais de US$1.450 tem mais de 70% da população vivendo com menos de US$1 por dia e tem mais da metade da água do país contaminada.

Assim, parar de ficar agitando bandeirinha em cima da presepada do futebol “alegre” da Nigéria é quase uma obrigação. Como diz Carlo Ancelotti, acredito que seleções africanas como a de Camarões têm um potencial gigantesco a ser explorado quando adotarem um comportamento profissional. Esse comportamento passa pelas federações, antros de corrupção da mais sórdida possível. Até lá, o “futebol alegre” é malabarismo de circo.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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