Esclarecendo o esclarecimento esclarecido para não mais esclarecer

Decidi escrever novamente sobre torcida, bairrismo e afins. Mais uma vez volto a um assunto que é a cara do jornalismo esportivo no Brasil: uma discussão com hálito de cerveja com torresmo. Papo de boteco. Pretendo não mais escrever sobre variações do tema. Futuras ocorrências de falta de educação ou déficit intelectual serão ignoradas. Aos leitores frequentes e não frequentes, mas educados, fica meu sincero pedido de desculpas.

Um leitor no post anterior ficou indignado porque eu disse que “o Flamengo subir na tabela era símbolo de mutreta”. Outro, disse que eu “acredito em armações no Brasileirão”. Anteriormente, outros me fizeram acusações similares. Embora não precise dar justificativa, queria esclarecer alguns pontos.

Eu nunca disse nem que o avanço do Flamengo era sinal de mutreta nem que acredite em armações no Brasileirão. Os leitores se utilizaram de sofismas, desenvolvendo sobre minha afirmação um raciocínio aparentemente lógico, mas na verdade, inconclusivo.

Sobre o Flamengo: cansei de dizer e repito: Flamengo e Corinthians SEMPRE terão mais ajuda de árbitros que outros clubes, assim como Manchester United na Inglaterra ou Real Madrid na Espanha. Mais torcida significa mais audiência e maior audiência resulta em maior pressão. Qualquer cidadão, mesmo com a capacidade de raciocínio mais reduzida, sabe que na dúvida entre Flamengo e Lodo Azul FC, o juiz vai dar a falta para o Flamengo. Isso é natural. Não quer dizer que o Flamengo roube e muito menos que não mereça estar onde está. Quer dizer que o Fla e o Timão têm uma predileção da mídia. Nada de novo aqui.

Sobre acreditar em armações no Brasileirão: claro que jamais disse acreditar nisso. Essa afirmação sugere que eu creia que a arbitragem é comprada genericamente. O que eu disse é que – explicando de modo infantil – a arbitragem do Carlos Eugenio Simon NO JOGO Fluminense x Palmeiras era suspeita. Aí, as configurações políticas do esporte no Brasil, que são radicadas no Rio e têm muito, mas muitíssimo mais influência dos dirigentes cariocas do que seus pares paulistas, contribuem amplamente para a suspeita NAQUELE jogo específico, uma vez que ao perder, o Palmeiras beneficiava dois times do Rio. Times do Rio esses que têm VASTO trânsito na CBF e mais ainda no STJD. Ou seja: não acredito em “armações”, mas sim em suspeita “naquele jogo”; não acho que o Flamengo avançar na tabela seja suspeita de mutreta, mas NO CONTEXTO, ajuda a hipótese de favorecimento por parte do Símon a ser crível.

Gosto muito de observações que inquiram sobre algo que eu disse. Geralmente elas têm um nível legal. Se eu dei uma informação errada, ser corrigido por um leitor não é uma vergonha, mas uma colaboração. Mas, além de exigir os ditames básicos da educação, eu gostaria que os textos fossem lidos com um pouco mais de atenção. Eventualmente, trechos que eu escrevo saem em outros lugares distorcidos por 1) uma visão de torcedor cega de paixão, 2) incapacidade de interpretação de texto, algo que se aprende por volta dos 10 anos de idade, 3) pressa de atender à demanda de interatividade da Internet, 4) má fé, 5) uma combinação de alguns desses itens  ou 6) tudo isso junto.

Há torcedores que não entendem críticas aos seus times. A bem da verdade, nem têm a obrigação de entender. Torcedor não precisa ser racional. A obrigação de qualquer um, no entanto, é a de ser educado. Como já disse antes, muitos (mas muitos mesmo) dos meus colegas, têm medo de falar contra esse ou aquele clube porque o torcedor fica irritado. Só fazem críticas quando há unanimidade. Não faz meu gênero. Se o leitor não gosta, lamento.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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