Arbitragens e outros crimes

Eu não sou do tipo de jornalista – nem de torcedor – que acredita no “juiz ladrão”. Não acho que para um juiz entrar em campo comprado e decidir um jogo, seja tão fácil. Se um time for muito melhor que o outro, não há uma falta invertida que faça o serviço.

Exemplos não faltam

Por exemplo: não acredito que o título do Botafogo de 1995 tenha sido “roubado” por Marcio Rezende de Freitas, que anulou gol legítimo do Santos. Que o gol foi erradamente anulado, isso é fato consumadíssimo, mas a histeria criada com o episódio foi fruto da velha guarda da imprensa paulista, de Milton Neves que, santista assumido, tratou o caso com rigor draconiano, e pela torcida do Santos, que estava devastada pela perda do título e acreditaria até na tese conspiratória mais ridícula (que nem era o caso – a “tese” contra o juiz era boa).

Em relação ao mesmo juiz, tenho menos convicção em relação à sua imparcialidade no jogo entre Corinthians e Internacional, em 2005, quando Fabio Costa quase matou Tinga e o colorado acabou expulso. Mas de modo geral, acho difícil um árbitro decidir um jogo que não seja entre dois times parelhos.

No Maracanã, ontem, contudo, o Palmeiras foi roubado. Roubadíssimo. Com uma desfaçatez que choca. Os dois outros erros que eu consigo me lembrar do mesmo nível de cara de pau são do mesmo Carlos Eugenio Símon. – na decisão do campeonato cearense deste ano, quando Edu Sales sofreu falta cometida pelo vento e Símon deu pênalti e na Copa do Brasil de 2007, quando não deu o pênalti mais claro do mundo. Logo, sendo o árbitro da CBF por várias copas consecutivas e com seu currículo recente, desconfiar de Símon não é um absurdo.

A combinação de interesses ao redor do jogo faz mesmo crer em mutreta. O presidente do Fluminense, um cidadão que na minha opinião não sabe se comportar adequadamente em público, é cardiologista de Ricardo Teixeira – que torce para o Fluminense e que cujo genro é um Tricolor histórico, João Havelange. A postura incômoda do presidente do Palmeiras junto à CBF – a de um cara que não participa de esquemas. O histórico de Símon. O Flamengo avançando na tabela.  Tudo leva a crer que haja mesmo algo de podre do reino da Dinamarca. O único fator complô do qual discordo é da “força nos bastidores” do São Paulo (leia abaixo)

Não é segredo que um título do Palmeiras é muito menos interessante para o “establishment” do que um do Flamengo, por exemplo. Um título do São Paulo também seria “incômodo”, porque daria vazão aos gênios que dizem que o “campeonato fica sem graça”, com um time quatro vezes campeão (ou seja: muito melhor é um grande “Roletrando”, com oitenta jogos mata-mata e um sorteio para dar “emoção” ao campeonato. “Roba da stronzi”.

Logo, a lisura do torneio (ou a falta dela) se esclarecerão nas próximas rodadas. Eu não sou palmeirense e até aqui, achei que o favorito era o Palmeiras, com o São Paulo sendo o único time capaz de aguentar o empuxo da reta final. Mas confesso: depois da partida de ontem, passei a acreditar que o verdão tem adversários a mais em campo – mesmo se não está jogando bem o suficiente para evitar palhaçadinha de juiz.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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