O melhor campeonato é o mais disputado?

Uma das coisas que recentemente tem vindo á tona, em decorrência da imprevisibilidade do atual campeonato, é sobre a qualidade do Campeonato Brasileiro. O André Rizek, da Sportv, por exemplo, (não só ele – César seabra, ex-Lance! e atualmente na Globo, entre outros, também) acha o Brasileiro o melhor campeonato do mundo e cita o fato de muitos times disputarem o título uma “prova” da qualidade do torneio.

Eu sempre discordei da tese, mas fui pesquisar a respeito, para ver quais eram as ligas mais competitivas – seguindo o conceito de que um torneio competitivo é o que tem mais times disputando o título.

As descobertas foram reveladoras. No site RSSSF, a questão já tinha sido levantada e os torneios mais “competitivos” que o site teve notícia (na verdade, duas edições desses torneios) não são alentadoras para aqueles que pregam a supremacia do Brasileirão pela quantidade de candidatos ao título.

O torneio “mais disputado” do mundo teria sido a edição 1983/84 da segunda divisão da Romênia, quando entre o primeiro – Muresul deva – e o último colocado Minerul Anisoasa (o torneio teve 16 times) foi de 10 pontos, sendo que nove times tinham pelo menos um concorrente com o mesmo número de pontos. Em segundo lugar ficou o espetacular campeonato marroquino de 1965/66, quando entre o campeão e o 14o. colocado, só se notavam 8 pontos de distância.

Já na seção Knowledge, do The Guardian, a mesma pergunta se restringia às ligas européias. A resposta encontrada pela coluna (especializada em responder perguntas incomuns sobre futebol dos leitores), os torneios mais “disputados” foram os de San Marino e Suécia, que tiveram 8 campeões diferentes entre 1995 e 2008. O campeonato Irlandês – também não considerado exatamente uma Liga dos Campeões – estava na luta, mas com “só” sete campeões no período num torneio de 12 clubes. No site The Offside, o assunto trouxe como candidato ao título de torneio mais disputado do mundo a MLS americana, com seis campeões no espaço de 12 anos.

Todas as ligas “sérias” do mundo têm 4-5 candidatos, no máximo. É normal. Praças com mais grana aglomeram mais torcida, geram mais dinheiro e aí se formam clubes mais fortes. A Argentina, por exemplo, é quase um campeonato da cidade de Buenos Aires. Mesmo o Brasil, em sua curta história de pontos corridos, já indica a projeção de uma “elite” de clubes que se acostumou a estar enter os primeiros e a começar os torneios entre os favoritos.

Campeonatos nos quais se equiparam clubes grande e pequenos não são “melhores”, embora possam sem dúvida ser mais emocionantes. Emocionantes – sem nenhuma ironia aqui – como por exemplo era o Desafio ao Galo, torneio amador de São Paulo, ou o Peladão, campeonato manauara amador. Se o Flamengo se equipara ao Avaí, ou se o Corinthians se equipara ao Santo André, alguma coisa está errada – e isso não é um ponto positivo dos pequenos, mas uma disfunção dos grandes.

Com uma gerência decente (coisa que a maioria dos clubes brasileiros não têm), times pequenos não têm chance contra os grandes. Sim podem ganhar jogos de vez em quando, mas em regra vão perder. É a mesma coisa em competições de outros esportes e até em outras atividades da sociedade. A mania do Brasil de achar que há 13 clubes grandes é filha da tradição dos campeonatos estaduais, onde São Paulo tem quatro “Grandes”, o Rio Grande do Sul tem dois, o Rio tem outros quatro, Minas dois e assim por diante. Isso não acontece mais.

Se nenhum gênio mudar a fórmula do Brasileiro para atender os interesses da Globo, os pontos corridos redesenharão a elite para quatro-cinco clubes. Os demais serão potências regionais, como por exemplo é a Sampdoria na Ligúria, o Newcastle no norte da Inglaterra, o Bilbao no País Basco e assim por diante.

A imprensa de uma forma geral não vai tocar no assunto. Se você diz que um time não será campeão brasileiro, mesmo elogiando-o (como eu fiz com o Atlético-MG há algumas semanas), já é crucificado, imagine se passar a considerar só alguns times como grandes. Outro fator que mantém o mito dos “13 grandes” são os Estaduais. Estaduais que, por exemplo, fizeram o Internacional acreditar que varreria o Brasil com seu time em 2009 e fizeram o Botafogo acreditar que era o melhor carioca depois de ganhar a Taça Guanabara. No Brasileirão, com disputas diretas, os tamanhos dos times se equiparam. Aqui, na Inglaterra ou na Espanha. Se tivermos torneios com 18 favoritos entre 20 clubes, daí nos igualamos à segunda divisão romena e ao “Marroquinão”.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top