Descobertas na Holanda

Acompanho (com mais ou menos distância) o Campeonato Holandês há bastante tempo. Alguns colegas de profissão sempre olharam a Eredivisie com um certo escárnio. “Para que? Os jogos são horríveis!”. Ouvi essa frase muitas vezes. Sempre refleti após ouvi-la, porque não entendia como alguém que vibrava com campeonatos estaduais podia criticar um outro campeonato. Mas isso é outra estória.

Eu gosto do Campeonato Holandês por uma série de razões. Primeiro, porque tenho uma certa nostalgia do futebol holandês de décadas passadas, dos esquadrões de Ajax e Feyenoord; segundo, porque acho a Holanda um país adorável; terceiro (entre outras razões), porque muitos jogadores que começam ou passam por lá serão grandes craques no futebol internacional. E como isso tem a ver com meu trabalho, é uma obrigação profissional.

Douglas, zagueiro do Twente
Douglas, zagueiro do Twente

Todo ano jogadores se destacam lá e surgem como nomes em potencial para clubes maiores. Nesta temporada, o mais óbvio é o do uruguaio Luis Suárez, que dificilmente fica no Ajax fazendo dois gols por jogo; também no Ajax, o mediano Demy De Zeeuw chama a atenção. Mas para nós brasileiros, um jogador merece atenção em especial.

O zagueiro Douglas, do Twente, foi eleito o melhor defensor da Eredivisie 2008/09. Neste ano, em 70% das rodadas estava na seleção da semana. Com só 23 anos e uma multa rescisória relativamente baixa, é outro jogador que não deve ficar no Twente por mais muito tempo. Talvez ele acabe indo para um “grande” da Holanda, mas é mais provável que ele já vá para um campeonato maior.

Escrevi sobre o Douglas mais de uma vez nas colunas que tenho na Fut! e no diário Lance! Uma migo até me perguntou se eu era empresário dele. Depois de mandar meu amigo àquele lugar, comecei a contar para ele de como Douglas estava indo na Holanda. Disse-lhe que o defensor tinha sido o achado de Steve McClaren para construir um time sólido, na sua tentativa de reconstruir sua reputação, fortemente abalada depois do fiasco na seleção inglesa. E que com esse time (que também tinha o austríaco Arnautovic, vendido à Inter e no ostracismo em Milão), tinha conseguido se manter na disputa pelo título até as últimas rodadas – um feito espetacular para uma equipe do porte do clube de Enschede.

Douglas apareceu no Joinville na mesma época que Ramires (isso traz a questão de que o time catarinense deve ter olheiros MUITO bons ou muita sorte). Enquanto o volante seguiu para Minas Gerais (a preço de banana), o zagueiro foi para a Holanda naquele esquema “seja o que Deus quiser”. No primeiro ano, Douglas foi usado a conta-gotas (menos de 10 jogos), mas com a chegada de McClaren, virou titular absoluto. Hoje, atrai a atenção de meia Europa, com os clubes ingleses na primeira fila. A atenção das equipes britânicas à performance do treinador fez com que Douglas deixasse deser um desconhecido por lá.

A Seleção Brasileira não precisa de zagueiros. Juan, Alex, Lúcio, Miranda, Luisão, Naldo são nomes que têm como ir à Copa garantindo qualidade (sempre acho que Lúcio vai fazer uma lambança na última hora, mas isso é assunto para outro post). Contudo, um chamado simplesmente para testar e conhecer Douglas mais de perto não mataria ninguém. Depois de Carlinhos, Cássio, Afonso Alves, Fernando, Léo Moura, Gilberto e companhia serem chamados, não é que não haja prerrogativa para tanto. Eu não acho que o zagueiro ganhará uma convocacão agora. O sucessor de Dunga ou o Dunga campeão do mundo devem ter mais contato com ele na temporada que vem. Vale a pena ficar de olho.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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