Ainda não é, mas pode ser

Pode ser estranho – eu pelo menos acho -vir elogiar a Argentina depois de um final de semana em que o Brasil fez sua melhor partida na Era Dunga e o time de Maradona não passou de um mísero 1 a 0 sobre a Colômbia. É estranho, mas não é fora do normal.

O Brasil passeou. É verdade que o Uruguai é um time limitado e que sem Lugano e Cristian Rodriguez sofreu a beça. Mas também é verdade que, mesmo ainda não tendo lateral-esquerdo (não, Kleber não é o suficiente – aliás, nem para o Internacional), encontrou o módulo ideal para o momento: livre da presença de um Ronaldinho perdido, com três meio-campistas fortes (onde Gilberto Silva ainda está sabe-se lá porque, mas pode dar lugar a Lucas), com Kaká livre atrás dos atacantes.

É exatamente neste setor que está a diferença que pode dar à Argentina uma vantagem potencialmente decisiva na Copa. Luis Fabiano não é ruim, longe disso, mas Robinho é visivelmente um confeito. Tem talento de sobra, mas não sabe jogar (pode parecer contradição mas não é). E além disso, é uma negação no primeiro combate.

Uma das características do ataque do Barcelona de Guardiola foi uma determinação dada pelo espanhol aos avantes: marquem desesperadamente assim que vocês perderem a bola. E assim foi feito. Até o genial Messi, do alto do seu metro e meio, joga-se à bola como um faminto num prato de comida. Outro argentino do ataque de Maradona, Carlos Tévez, é ainda mais obcecado por tirar a bola do adversário. E detalhe: estamos falando de dois jogadores fora-de-série.

O ataque da Argentina para a Copa está prontinho – e é melhor que o brasileiro, mesmo com que Kaká esteja no seu melhor (sim, Kaká é um atacante hoje – um atacante que recua, mas um atacante). Com a presença de Milito na área mais Tévez e Messi, os argentinos têm um setor espetacular e que sufoca o adversário ainda na própria área.

Pode-se argumentar que a defesa brasileira é melhor. Mesmo com Dunga e seus treinos nonsense (antes de xingar o colunista por sua oposição ao técnico, favor comparecer a um treino da seleção em Teresópolis), a retaguarda brasileira é melhor. O vão na lateral-esquerda é um problema, bem como a incapacidade do time de coordenar descidas dos laterais, mas perto de Maradona, Dunga é Rinus Michels. A defesa argentina tem menos nomes de qualidade e nenhum desenho tático. Mesmo assim, com o Brasil melhor , há na Argentina material para se fazer uma defesa sólida.

Se alguém convencer Maradona que ele não precisa chamar seis atacantes para seu grupo (mesmo jogando com três), os argentinos só terão de resolver como jogar pela ala direita, uma vez que nem Zanetti nem Verón (que era teoricamente o jogador da posição contra a Colômbia) têm como dar a profundidade pedida. O time tem a tração dianteira nos trinques e se está jogando mal é pelo desarranjo no resto. O Brasil tem como tirar a diferença? Claro, mas não com Robinho – ou pelo menos não com o Robinho ziriguidum. Na África, ganhará o time que marcar mais acima no campo. Deixar jogar é colocar a viola no saco.

Ah, sim, outra vantagem dos argentinos: não terão seu país saqueado em 2014.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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