Um adeus sem lágrimas

Uma frase do técnico inglês Bobby Robson me veio à cabeça quando soube que Riquelme tinha se aposentado da seleção argentina. “Jogadores de futebol jamais entendem porque são substituídos, até que eles se tornam técnicos”.

Antes de Maradona assumir a seleção, Riquelme era um de seus xodós. Na verdade era o símbolo do futebol maradoniano, aquele da liberdade aos craques, da aposta no jogo ofensivo, do “futebol alegre”. Isso, antes dele assumir. Atirar pedra é muito mais fácil do que ser vidraça.

Riquelme é um jogador tecnicamente excepcional. É capaz de fazer o que quiser com a bola nos pés e além disso, ainda tem visão de jogo. Mas ao contrário do que se acha normalmente no Brasil, não o acho um craque, no nível de Kaká ou Messi. Um marcador determinado anula Riquelme, sempre. Ele é capaz de driblar esse marcador, caso tenha a bola nos pés, mas o marcador pode impedir que ele pegue a bola, por causa de sua lentidão e indisposição para correr. Daí, Riquelme e qualquer perna-de-pau se equivalem.

Além disso, Riquelme faz com que seu time sempre jogue com um homem a menos, já que ele não marca, não pressiona e não luta pela bola. “Ah, dá para colocar outro para correr por ele”. Sim, e daí serão dois a menos: um para marcar por Riquelme e um para jogar por esse outro que corre por ele.

Riquelme sempre fracassou em todas as suas tentativas de jogar em futebol de alto nível. Exceção feita ao Villarreal, onde o time jogava para ele, seu ritmo, preparo físico e pouco engajamento minaram a sua espetacular técnica. No Boca Juniors, enfrentando times muito menos qualificados (mesmo na Libertadores), sua técnica ainda era o suficiente para diferenciá-lo. Era, porque o Riquelme dos últimos dois anos parece ter perdido até a pouca determinação que tinha. Desmotivado como parece estar, Riquelme serve só para jogar no campeonato argentino.

Sua saída da seleção não vai trazer nenhuma perda à Argentina – infelizmente, para nós, torcedores brasileiros. A seleção de Maradona tem em Messi seu homem principal e vários bons jogadores. A falta de aceleração que marcou os últimos anos dos nossos rivais deve desaparecer. A única coisa irônica da estória é que a aposentadoria de Riquelme tenha vindo pelas mãos de Maradona. É o exemplo clássico do “Faça o que eu digo, mas não o que eu faço”.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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