Ingressos, polêmicas, estádios e outras coisas

No Brasil, tivemos um domingo à altura dos campeonatos estaduais. Insensato, triste, frustrante,

SP: uma idéia irresponsável e inoportuna (ainda que absolutamente dentro dos seus direitos) da diretoria do São Paulo motivou uma campanha imbecil em uma mídia ainda mais imbecil. Motivo: limitação de ingressos para torcidas visitantes – fato que ocorre em TODOS os clássicos locais do mundo. A atitude impensada do SPFC faz com que Andres Sanches, então presidente e candidato à reeleição no Corinthians, passasse a semana dando declarações classificando o São Paulo como “inimigo” e jurando vingança, além de dar todos os ingressos mais baratos para a torcida organizada. Resultado: depredação do Morumbi, confronto dos torcedores profissionais com a polícia e dezenas de feridos.

MG: um morto e 40 feridos por causa de um jogo inútil, em um campeonato risível, digno de pena, triste e anacrônico, entre dois times que têm uma rivalidade empalhada: há mais de 10 anos que não há páreo entre Galo e Raposa. Nem a empolgação com os sinais de um projeto que, a longo prazo, possam levar o Atlético-MG de volta à condição de “grande” valeriam um simples bate-boca, quanto mais o assassinato covarde e vil.

É ridículo, impensável, idiota. Concordo plenamente com o Mauro Cezar Pereira quando diz que reduzir a carga de ingressos para o visitante seja recibo de incompetência, mas talvez não haja outra maneira. Ou melhor, maneira há: mandar para a cela mais gelada e embolorada possível, até que o Universo se desfaça, todo e qualquer “torcedor” organizado que se envolver em confrontos em dias de jogos (não só perto dos estádios, mas em toda a cidade). Como sempre, são criminosos fantasiados de torcedores que dão vazão a uma frustração explicável sociologicamente, mas justamente pela futilidade de princípios, teriam de servir como um superanabolizante para as sentenças. Digamos, entre 5 e 10 anos de reclusão em isolamento estariam bem para esse tipo de comportamento, além de banimento eterno dos estádios (vide Inglaterra). Infelizmente, para tal medida, falta coragem, falta ter “aquilo roxo” como já nos brindou um ex-presidente de triste legado.

Mas tem a mídia. “Ah, a mídia de tanta gente…” como diria Wanderley Nogueira. Acontecida a baderna, agora todo mundo desce o pau na diretoria do São Paulo e na demagogia eleitoral do Corinthians, mas ninguém para e pensa que foram horas e horas sendo gastas na semana passada elevando a questão dos ingressos a um crime inafiançável, um desacato internacional, um genocídio futebolístico. A esses comentaristas, formados em faculdades patéticas, sem condição de esboçar um texto minimamente legível e com a bagagem cultural de um protozoário, um sistema justo também atribuiria responsabilidade – e punição. Exposição e influência trazem consigo uma responsabilidade que poucos têm condição de exercer. Os mortos e feridos deste final de semana que o digam. O que aconteceu neste final de semana tem participação direta da imprensa, mesmo que, como sempre, ela se recuse a reconhecer.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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