Buffon, número 1

Quando o árbitro norueguês Ovrebo anotou o pênalti de Panucci em Daniel Niculae no segundo tempo de Itália x Romênia, um calafrio subiu pela espinha de toda a torcida. Estava ali, inexorável, a eliminação italiana da Euro depois de um gol regularíssimo de Luca Toni anulado na primeira etapa.

Mas na cobrança de Mutu, a Romênia se deparou com um goleiro que, quando encerrar sua carreira, estará na lista dos melhores jogadores da história do futebol. Gianluigi Buffon mirava a bola fixamente, consternado com a marcação do penal. E quando Mutu diparou o chute, Buffon pulou para o canto esquerdo e numa defesa de reflexo assombroso, rebateu a bola com o braço direito e com a perna. Buffon levantou-se após o lance e berrava apoplético.

Se a Itália ficou na Euro 2008 por mais alguns dias, o mérito foi do goleiro. E vale lembrar que o arqueiro tinha sido privado da faixa de capitão pelo técnico Donadoni por causa de suas declarações após o jogo com a Holanda, onde não poupou críticas à sua seleção. Na Gazzetta Dello Sport desta segunda-feira, a manchete foi “Somos todos Buffon”. O goleiro foi aclamado na Itália como o grande jogador da seleção e um líder à altura da perda do lesionado Cannavaro. “Deve ser a partida da nossa vida”.

Buffon é o cerne da defesa italiana. Perfeito tecnicamente em todos os fundamentos, o juventino comanda uma zaga que se posiciona bem, mas é lenta. Com dois laterais aptos à apoiar o ataque como Zambrotta e Grosso, a liderança do goleiro é ainda mais fundamental. E vê-se isso quando os defensores italianos se invertem nas coberturas. Se a Itália chegar a algum lugar na Euro 2008, a razão é uma só e veste a camisa um.

No sufoco, como sempre

Não me lembro de um torneio no qual a Itália tenha jogado, de ponta a ponta, um futebol fantástico. O mais comum mesmo é uma primeira fase horrorosa e uma evolução que vai ganhando corpo quanto mais se avança. Até aquí, a mística deu certo.

Donadoni classificou a Itália graças à desportividade holandesa, mas errou demais na escalação dos dois primeiros jogos. Primeiro, no miolo da defesa, onde Materazzi e Barzagli foram amplamente reprovados; depois, no meio-campo, no qual a exclusão de De Rossi tirou o melhor jogador do setor na primeira fase.

Deu para resolver. Panucci, delocado para a zaga, ao lado de um Chiellini muito firme, se aproximaram muito do melhor possível neste elenco; Grosso e Zambrotta ainda estão longe do que podem fazer, mas têm condições de dar à Itália uma jogada perigosa pelas laterais.

Sem Pirlo nem Gattuso, suspensos, contra a Espanha, é praticamente certo que Donadoni escalará Ambrosini com De Rossi, e deve escolher entre Aquilani e Perrotta para o terceiro nome. Se mantiver Cassano no time, pode até ser que todos eles; se decidir voltar Di Natale e/ou Camoranesi, somente um.

O ponto é que a Itália terá um adversário forte tecnicamente, mas que tem o peso de um tabu de eliminações. Donadoni tem de ter coragem de capitalizar na saída forçada de Pirlo para arriscar jogar com dois jogadores de faixa lateral – Camoranesi e Di Natale, por exemplo, com Toni e Del Piero no ataque. Pirlo não tem substituto. Sem ele, contra a Espanha é preciso mudar. Mudar de vez.

Mourinho-Adriano: aposta interista

Enquanto o mercado europeu aguarda a Eurocopa para começar a sua fase de conclusões bombásticas, as negociações seguem firmes nos clubes que têm planos grandes para a próxima temporada. Na Itália, é a Inter a locomotiva das transferências. E isso tem uma razão: José Mourinho.

Não, o português não é o tipo de técnico que só vive se tiver dezenas de contratações caras. Mas é fato que sua chegada à Inter está condicionada a algumas chegadas fundamentais a Appiano Gentile. Uma delas nem é uma chegada, mas um retorno: o atacante Adriano, emprestado ao São Paulo.

Adriano não é a figura mais querida no clube. Sua postura pouquíssimo profissional deu a ele uma série de antipatias, mas Mourinho não liga. O brasileiro é admirado pelo português, que tentou contratá-lo no Chelsea, quando o atacante estava em alta. Não conseguiu, mas agora deve tê-lo sob seu comando.

A alternativa à permanência de Adriano é o uso dele em uma possível transferência. Uma das primeiras possibilidades é com o próprio Chelsea, que tem o atacante Drogba e o meio-campista Lampard como estimados de Mourinho. Uma segunda alternativa é o Barcelona, onde Eto’o já não é queridíssimo.

O desenho interista de Mourinho não deve ser muito diferente do seu Chelsea nem do Porto. Meio-campo forte, externos de meio-campo voltando bastante para a marcação e um jogador de referência no ataque. Podemos imaginar um 4-5-1 com Adriano ou Ibrahimovic nas frente ou um 4-4-2 com ambos. A dois meses do começo do campeonato, é difícil cravar quem ficará no banco. Ainda assim, cabe sugerir que do vasto grupo de atacantes e meio-campistas centrais da Inter, ao menos um jogador de cada deve sair. No mínimo.

Il Lecce c’é!

Custou, mas saiu: o terceiro promovido para a Série A italiana é um velho conhecido. O Lecce de Giuseppe Papadopulo passou pelo Albinoleffe com um empate em 1 a 1 e fechou as promoções sem nenhum time “novo”. O time da Puglia, Chievo e Bologna subiram.

O campeonato ganha com a subida do Lecce. A média de público do time ‘giallorosso’ na Série B é três vezes maiores do que a do Albinoleffe e o time seu time titular é bem mais adequado para uma campanha de reforços do que um ‘Leffe’ heróico, mas sem chance de sobreviver à Série A.

Antes que alguém defenda o Albinoleffe como um possível “novo Chievo”, vamos lembrar: não existe parâmetro de comparação entre os dois clubes. O Chievo de Luca Campedelli subiu com uma estrutura elogiável e quando ascendeu à Série A, tinha praticamente todo o time titular que jogou a divisão máxima. No ‘Leffe’, somente dois jogadores já atuaram na Série A.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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