Juventus de volta

O campeonato que faz a Juventus é ‘low-profile’. Não tem estrelas como Kaká ou Ibrahimovic, não é apontada como favorita ao título e – quem diria! – até é prejudicada por erros (casuais) da arbitragem. Mas ainda é a Juventus e quem deixar esse fato de lado pode ser punido duramente.

A confirmação do fato de que a Juve não deixou de ser a Juve por causa de uma temporada na segunda divisão veio – mais uma vez – neste fim de semana. O castigado foi o Palermo, que se não faz uma campanha empolgante, tem um dos melhores elencos da Série A.

O time de Ranieri se confirmou em bloco, mesmo se não impressiona no papel. Diante de Buffon – o único craque consagrado da defesa – estavam Zebina, Legrottaglie, Criscito e Molinaro, que formam uma linha que poderia estar na Reggina ou na Sampdoria. Apesar da boa performance da retaguarda, o segredo desta Juventus veio da combinação entre meio-campo e ataque.

Com Nocerino e Cristiano Zanetti como medianos, a Juventus encontrou uma das melhores duplas de interditores do campeonato. Os que imaginavam uma dupla de volantes formada por Almirón e Tiago surpreendem-se em ver um jogador tão consistente quanto o jovem Nocerino.

Nas alas, Camoranesi e Nedved – quando têm fôlego – são quase perfeitos para o futebol moderno por causa da combinação de apoio e marcação que oferecem. Sem a bola a Juventus fecha as duas linhas de quatro do 4-4-2 tradicional de Ranieri, mas com a posse de bola, o ataque é praticamente de quatro jogadores.

O ataque formado por Trezeguet e Iaquinta é excelente por si só, mas tem um adendo: o veterano capitão Del Piero. ‘Ale’ jogou somente meio tempo contra o Palermo, mas foi o fator decisivo na liquidação da fatura palermitana. O técnico Ranieri tem usado Del Piero a conta-gotas e mesmo que o atacante não goste de não estar sempre em campo, a estratégia está dando certo. Quando entra, descansado, Del Piero tem sido normalmente o golpe de misericórdia juventino.

A solidez do time merece menção por mais uma razão. Os dois centrais supostamente titulares no começo da temporada – Grygera e Jorge Andrade – estão machucados. Suas contusões até fizeram crer que a Juve teria obrigatoriamente de se reforçar no mercado de janeiro, mas talvez não seja assim. Se Legrottaglie e Criscito confirmarem-se, a Juve deve ir buscar um reforço jovem para maturar – e não um titular.

Adversários Itália

O inferno astral de Roberto Donadoni, treinador da seleção italiana, parece mesmo ter se dissipado. Depois de confirmar a vaga na última semana, a Itália não pode se queixar do resultado do sorteio dos grupos das Eliminatórias para a Copa de 2010. Se a vaga não está garantida, o risco não é dos maiores.

Os campeões mundiais terão de enfrentar, para assegurar a vaga na África do Sul, as seleções de Bulgária, Irlanda, Geórgia, Chipre e Montenegro. No seu primeiro comentário sobre o sorteio, o próprio Donadoni deixou escapar que era um grupo “Não complicado”, mas depois recobrou a noção de que não devia motivar adversário nenhum e alterou o tom: “São todos times tinhosos”.

Irlanda e Bulgária são as seleções que podem criar problemas para a Itália, ou, como disse o treinador italiano, “fazer com que a Itália crie problemas para si mesma”. Com tradição em disputas internacionais e jogadores importantes como Bojinov e Robbie Keane, irlandeses e búlgaros candidatam-se ao posto de zebra no primeiro lugar. O retorspecto é favorável à Italia: seis sucessos em sete partidas com a Irlanda e outros sete (e quatro empates) em 13 jogos com a Bulgária.

Geórgia e Montenegro têm problemas diferentes: a Geórgia carece de craques (o milanista Kaladze é um dos mais representativos nomes do futebol georgiano), enquanto Montenegro ainda mal tem seleção (entrou para a Uefa no ano passado), embora credencie-se como um produtor de jogadores técnicos, como o ‘gênio’ Savicevic.

Na rabeira, sem a atenção de ninguém, está o Chipre (seis jogos e cinco derrotas com a Itália). Contudo, os cipriotas serão um azarão ingrato. O país de pouco mais de 700 mil habitantes viu sua seleção vencer a Irlanda e empatar com a Alemanha nas últimas eliminatórias para a Euro-2008. Ninguém candidata Chipre a uma vaga, mas é o perfil de time que pode desestabilizar a lógica do grupo. À Itália, atenção não custa nada.

Curtas

– O técnico da Inter, Roberto Mancini, envolveu-se numa polêmica na semana passada.

– Mancini criticou os médicos esportivos, dizendo que eles atrasavam o retorno de jogadores contundidos por receio de novas lesões.

– O presidente da respectiva associação de classe publicou uma carta descendo a boca em Mancini: “medicina é uma coisa mais séria, não é somente um jogo”.

– A entidade agora quer que o treinador seja punido, mas ele se defende: “era só uma piada”.

– Por causa dos incidentes de duas semanas atrás, a federação italiana determinou que a partida entre Milan e Juventus, que ocorrerá no próximo final de semana, não terá a presença de torcidas organizadas juventinas.

– Esta é a seleção Trivela da 13a rodada:

– Sereni (Torino); Knezevic (Livorno), Panucci (Roma) Criscito (Juventus); Foggia (Cagliari), Blasi (Napoli), Firmani (Lazio), Nedved (Juventus); Del Piero (Juventus), Di Natale (Udinese) e Trezeguet (Juventus).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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