Inter, uma marcha a mais

Durante muitos anos, dois campos foram a perdição interista. Visitas ao Artemio Franchi e ao Ennio Tardini raramente não se encerravam com derrotas do time milanês. E neste final de semana, a Inter tinha de visitar justamente o Franchi de uma Fiorentina que vem se preparando para ficar poderosa.

Quando todos esperavam uma boa chance de ver a Inter tomar o seu primeiro tombo consistente deste campeonato, o que se viu – mais uma vez – foi um time extremamente sólido e que, ao contrário do passado, não depende mais deste ou daquele jogador ou de lances isolados para ganhar partidas.

Não depende – o que não quer dizer que não tem. Zlatan Ibrahimovic é um atacante muito versátil, além de talentoso. Ele tem o perfil ideal para jogar num ataque onde o arremate pode sair de qualquer pé. Homem-gol ou homem-assist, ‘Ibra’ é o jogador símbolo desta ‘nova’ Inter, que joga futebol coletivo.

‘Ah, mas tem a Roma’. Verdade: a Roma de Totti e Spaletti vem se colocando de novo como a única adversária à Inter, mas a cantilena é a mesma da última temporada. No papel, a Inter tem um elenco mais completo e extenso do que o da Roma, mesmo que a Roma tenha levado a Trigoria bons nomes como Giuly e Juan. Na reta final, essa diferença no grupo é decisiva.

E os dois titãs dos anos 90? Bem, Milan e Juventus não estão á altura da Inter – especialmente o Milan. O começo de campeonato milanista é para lutar por Copa Uefa, se tiver sorte (leia abaixo) e a Juventus, só ameaça porque é a Juventus. Deve ser vigiada mas é contornável numa temporada na qual acabou de voltar da Série B.

‘O campeonato está decidido, então?’. Não. A Inter, campeã é favorita e a Roma até agora é a única que mostrou algo capaz de fazer frente. Só que o torneio ainda é longo, o Milan deve ter Ronaldo e Pato na segunda fase do campeonato (e deve contratar reforços, assim como a Juventus) e a Liga dos Campeões tende a cobrar seu preço das líderes. Tudo somado, o cenário ainda é mais ‘nerazzurro’ do que de outra cor.

É tudo ansiedade pré-Mundial?

Um empate com a Juventus em San Siro não é um desastre nem nunca o foi. Nesta temporada, no entanto, com o escore milanista jogando em casa (e com a atual forma do time), um empate está mais do que bom. Será que é só ansiedade para jogar o Mundial da Fifa? Bem, esse pode ser um dos fatores, mas certamente não é o único.

A preparação mais cuidadosa do clube antes de viajar para o Japão há de ter cobrado seu peço em termos de concentração. Contudo, não se pode esquecer outros itens, como por exemplo a espera de Kaká pelo prêmio da France Football (a atenção do craque não tinha como não se dispersar).

Entertanto, no final das contas, está mesmo a falta de jogo. Com Maldini se poupando, Jankulovski machucado, Pato sem condições de jogo e Ronaldo sofrendo para entrar em forma, não há como o Milan se acertar. O time não tem suplentes á altura para completar essas lacunas.

Se é verdade que Ambrosini tem sido um sólido nome no meio-campo milanista – talvez 2007 seja o ano de seu melhor futebol no Milan – Serginho e Cafu deixam claríssimo que não têm mais a mesma condição física. É possível que a seqüência de jogos melhore o seu futebol? Sim. Mas até lá, a Série A pode estar perdida.

No Japão, o Milan corre um risco menor porque terá somente dois jogos para disputar e o tipo de concentração é diferente. Para o resto da temporada, contudo, o clube só se colocará à altura de seus planos se fizer investimentos consideráveis. O diretor milanista, Adriano Galliani, diz que isso está fora de questão. Se for esse o caso mesmo, o torcedor talvez deva se preocupar.

Atalanta Super

Passadas as cenas de imbecilidade do jogo contra o Milan, onde as organizadas atalantinas causaram a suspensão da partida, a Atalanta voltou a jogar em casa e mostrou o que pode fazer quando não é atrapalhada felas facções mais dementes de sua torcida.

Contra o Napoli, a Atalanta que se viu em campo foi a que se esperava quando Luigi Den Neri assumiu o time no verão europeu. Defesa baixa e fechada, dois medianos correndo muito, alas que se transformavam em pontas e um futebol de passes no mesmo estilo do Chievo de anos atrás.

Com o brasileiro Adriano pela direita e Langella (um atacante de origem) na esquerda, a Atalanta triturou o Napoli se aproveitando da impostação tática dos campanos. Com uma zaga a três, os visitantes se expuseram á agressão pelos flancos e foram duramente castigados. Para piorar, ainda contaram com uma atuação excelente de Floccari, provavelmente o melhor em campo.

O sucesso da Atalanta teve participação fundamental dos marcadores Guarente e Tissone (em especial o último). O papel de roubar a bola ainda na intermediária foi executado com perfeição mas teve também o adendo de um passe de qualidade para Doni e os dois alas iniciarem os contragolpes.

Se não for muito prejudicada pela sua torcida, a Atalanta tem tudo para fazer um campeonato excelente. Del Neri tinha o necessário para montar um time como gosta e está fazendo isso. Não dá para esperar uma Atalanta na LC, mas Bérgamo deve ser uma das destinações mais difíceis nesta temporada.

Há um problema e não era Colantuono

Se em Florença a Itália deu uma mostra incomum de civilidade (leia em ‘Curtas’), em Catania, a selvageria da convivência do ‘Cibali’ com o futebol mostrou-se mais uma vez. “Fomos recebidos como inimigos”, reclamou o ‘mais-uma-vez-novo-técnico’ Francesco Guidolin. Mesmo sem episódios de vandalismo dentro do campo, ficou claro que a violência inerente ao futebol na Itália está longe de ser um problema resolvido.

Em campo, o Palermo mostrou que o problema não era o treinador. Amauri não é sombra do atacante do começo do ano passado e nem um meio-campo forte e aplicado como o ‘rosanero’ (Simplício, Guana, Diana e Bresciano) é capaz de conter o jogo sob controle contra um adversário no máximo mediano.

A sensação que o Palermo dá é que há muitos jogadores que não querem mais ficar no clube mas esbarram na necessidade do presidente Maurizio Zamparini de dar murros na mesa. Zaccardo, Barzagli, Cassani, Cavani e Amauri são cobiçados por clubes maiores, mas o Palermo pede preços desproporcionais. Se esses jogadores continuarem desmotivados, é melhor vendê-los. Se Zamparini não consegue resolver suas neuroses de auto-afirmação, deve procurar um analista.

Curtas

– Depois de Fiorentina x Inter, um eposódio incomum no futebol, importado do rúgbi, merece todos os aplausos.

– Acabado o jogo, os atletas se enfileiraram e se cumprimentaram, reafirmando a natureza sã do esporte.

– Parece que Ronaldo estará em campo no Japão

– O grupo italiano na Euro é o mais duro: França, Holanda e Romênia

– Na Itália, não faltou quem comemorasse: a ‘Azzurra’ quer eliminar a França de Domenech.

– Esta é a seleção Trivela da 14ª rodada:

– Buffon (Juventus); Juan (Roma), Carrozzieri (Atalanta) e Samuel (Inter); Langella (Atalanta), Sammarco (Sampdoria), Tissone (Atalanta), Bellucci (Sampdoria), Vannucchi (Empoli); Floccari (Atalanta) e Pandev (Lazio)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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