Ancelotti-Real: será?

Terminada a gestão marqueteira de Florentino Perez, todos os rumores dão a entender que o Real Madrid voltará a ser um clube de futebol e não uma agência de propaganda. A nova direção do Real aponta firme para nomes de peso para o comando ‘blanco’, todos com títulos conquistados na Liga dos Campeões. Fabio Capello, da Juventus, Rafael Benítez, do Liverpool e Carlo Ancelotti, do Milan. Ancelotti? Pois é.

Até 2003, Ancelotti era considerado um “perdedor de luxo”, mas a vitória na Liga dos Campeões e o retrospecto do Milan das últimas quatro temporadas o colocaram no nível dos técnicos ‘world class’. Mesmo com seu jeito introspectivo e com a pouca vocação para fazer marketing de si mesmo, Ancelotti – goste-se dele ou não – ganhou o seu espaço.

É natural que o Real Madrid ventile nomes de peso para o cargo de treinador. Com o jejum de títulos, as esperanças de ter um comandante de renome diminuem a pressão sobre a diretoria recém-empossada e também estimula os jogadores a mostrar serviço em busca de um lugar na temporada que vem. A questão é: o Milan deixará Ancelotti partir?

Fosse um ano atrás, a resposta seria um categórico ‘não’. Contudo, a derrota na final da Liga dos Campeões deixou marcas inequívocas em todos, e ainda que o grupo do Milan ainda seja amigável, dá para sacar que alguma coisa se perdeu quando o Liverpool voltou a vida depois do 3 a 0.

Numa coluna na Gazzetta Dello Sport, o ex-jogador Zvonimir Boban, vaticinou que o ciclo de Ancelotti no Milan estava para se encerrar e que o melhor a fazer seria uma bela campanha na Liga dos Campeões para fechar o período com mais uma conquista. Boban ressaltou que ninguém tem culpa e o desgaste de Ancelotti com o grupo é normal depois de quase cinco anos.

A campanha meteórica da Juventus neste Italiano também não refrescou a posição do treinador, que viu a LC como a sua única possibilidade de sucesso nesta temporada. Possibilidade essa que, verdade seja dita, parece cada dia mais sólida, especialmente com o crescendo milanista das últimas partidas, condizente com uma preparação física para chegar em maio no auge da forma, evitando outro ‘desastre de Istambul’.

Mesmo com os laços afetivos fortes entre Milan e Ancelotti, a sensação é a de que o clube não espernearia de o treinador pedisse para ir para o Real Madrid, especialmente se tivesse acabado de conquistar um título europeu. A decisão seria mais racional que emocional. Todo mundo ficaria feliz e o Milan apostaria num nome novo para reiniciar um ciclo, provavelmente outro ex-jogador com identidade com o clube, como Roberto Donadoni ou Marco van Basten (dependendo da performance deste na Copa do Mundo).

Ancelotti nega, o Milan nega, os jogadores negam. Mas mesmo que já estivesse tudo assinado e certo, eles ainda negariam. Um anúncio do tipo em 99% das ocasiões desmobiliza o grupo como um todo, exatamente na hora em que o time deu sinais de ter saúde para lutar contra os melhores da Europa com todas as suas armas. O verdadeiro destino de Ancelotti se desvenda quando o Milan encerrar a sua participação na LC. Campeão ou não.

Será que vai cair?

Mesmo com a ducha de dinheiro que a vaga na LC proporciona aos clubes, os times médios da Europa estão se perguntando: vale a pena mesmo a vaga entre os 32 times da fase de grupo da competição interclubes mais badalada do mundo? Mesmo que isso signifique risco de rebaixamento?

A direção da Udinese está, mais do que nunca, com a dúvida devorando suas orelhas. Uma temporada que começou com uma sonora goleada sobre o Panathinaikos em casa pode acabar – sem drama nenhum – com um rebaixamento á Série B, o que seria trágico para o time, uma vez que a folha de pagamento sofreu uma boa inflada para se disputar a Europa.

Não dá direito para saber o que acontece de errado na Udinese. O time tem um elenco bastante bom, e a disputa de uma vaga na Uefa é o mínimo que se poderia esperar. Ao invés disso, é nabo depois de nabo, resultando na atual condição – a beirada da zona de rebaixamento mais cruel da Europa.

Depois da demissão de Serse Cosmi, o time deu uma reagida e parecia que se tratava simplesmente de má vontade. Porém, o 4 a 0 sofrido diante do Milan, em casa, no último domingo, também vaticinou o destino do ex-interino Sensini, que tinha pendurado a chuteira para comandar o time. A Udinese chamou Giovanni Galeone para o seu lugar, o que não é muito reconfortante, uma vez que Galeone sempre chega aos clubes quando estes estão no bico do corvo, e na maioria das vezes, cai com eles.

Agora é um bom momento para lembrar que quando o time estava com plena saúde, a diretoria teve a excelente idéia de afastar o artilheiro Vincenzo Iaquinta do grupo porque este não quis renovar seu contrato, que vence em 2007. Depois disso, a Udinese foi trombando e caindo. Não deve ter sido este o causador de todos os problemas, mas certamente, influenciou.

– Na partida contra o Messina, Daniele De Rossi, da Roma, protagonizou um lance curioso.

– Depois de marcar um gol com a mão e ver o árbitro validar, De Rossi se arrependeu e confessou a safadeza.

– O árbitro Bergonzi anulou o gol, mas não deu o cartão amarelo que a lei determina.

– O amarelo seria justo?

– Inter: Henry ou Ronaldo para o verão.

– Essa é a intenção de Massimo Moratti.

– Além disso, também queremos paz no Oriente Médio e punição aos crimes de guerra…

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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