O Brasil em ano de Copa costuma apresentar uma personalidade maníaco-depressiva. Antes do torneio, ou a Seleção é considerada a melhor de todos os tempos, e até o roupeiro é considerado uma lenda, ou então é um verdadeiro lixo, que perderia até para a China (sim, houve quem defendesse a tese em 2002). Nessas, os detalhes ficam pelo caminho.
Por exemplo: agora, estamos todos extasiados – justamente – com o futebol de Ronaldinho Assis. Há tempos o Brasil não produzia um talento tão vistoso quanto objetivo. Além disso, tem Kaká, outro fenômeno que não ganha a atenção que merece porque joga numa liga muito mais dura que a Espanhola. Isso para não falar no Fenômeno original, que não tem jogado bem, mas sempre se apresenta quando a coisa aperta. E assim, não nos damos conta de que os dois dos goleiros preferidos por Parreira estão na berlinda nos seus clubes.
O caso de Dida é mais vistoso, porque se trata do titular absolutíssimo de Parreira e do Milan. Mas a temporada de Dida no Milan é a pior desde que o brasileiro voltou ao clube de seu empréstimo ao Corinthians em 2000. Dida sofreu pelo menos cinco gols comprometedores nesta temporada, a última delas contra o Bayern de Munique.
Mas também Júlio César não está bem na Inter. O ex-flamenguista perdeu o posto depois da partida contra a Juventus e não voltou mais. Embora na Inter se desconverse, o que se diz nos bastidores é que o brasileiro não está mais nos planos de Roberto Mancini, que não o considera ruim, mas aquém do que a Inter precisa. E então? Como se faz se dois dos três goleiros “preferidos” estão em má fase?
A fase pantanosa de Dida tem uma causa: a insegurança da zaga milanista nesta temporada. Com Maldini a meio-pau, a defesa patina. Só que temos de nos lembrar que o Brasil não terá nem Maldini a um décimo de pau. Terá Roque Júnior. E na melhor das hipóteses, com Lúcio.
O posto dos brasileiros está ameaçado em Milão? Sim, e muito. O Milan negocia para ter Frey e conta com Abbiati e Amélia como planos “B”. A Inter também quer Frey, mas o francês torce o nariz para o clube que o trocou por Toldo há cinco anos. Plano “B”? Amélia, assim como os rivais ‘rossoneri’. Parreira também faria bem se começasse a considerar os seus planos “B”.
Depois da tempestade
Os últimos cinco anos, como o leitor da Trivela já sabe, foram um inferno para o defensor georgiano Kakhaber Kaladze. Com seu irmão seqüestrado, ‘Kala’ não tinha como se focar completamente no futebol. E além disso, deslizado para a lateral esquerda, jamais foi considerado um jogador ‘world class’ como Nesta ou Kaká.
Com o fim do drama de seu irmão (seu corpo foi encontrado há nove meses e enterrado há um mês), Kaladze também encontrou a paz no campo. Com Maldini contundido e Stam fora de forma, Carlo Ancelotti teve de escalá-lo – com sucesso – na zaga ao lado de Nesta, posição na qual ele já jogou no Dínamo Kiev.
Como zagueiro central, Kaladze está tendo suas melhores performances desde que chegou à Itália.
Na verdade, quando foi contratado pelo Milan, Kaladze jogava em duas posições na Ucrânia. Como primeiro volante à frente da zaga e como zagueiro central. Sob Zaccheroni, seu primeiro treinador, foi usado no meio-campo e depois na zaga. Fatih Terim deu a Kaladze o posto de mediano (quase um terceiro zagueiro), lugar que Ancelotti cedeu a Pirlo para poder tentar fazer o italiano conviver com outro ‘trequartista’.
Sem reclamar, Kaladze se adaptou à lateral, e hoje dá para dizer que Kaladze pode jogar em qualquer posição na defesa ou meio-campo, pelo meio ou pela esquerda.
A virtude do jogador que mais tem impressionado é o posicionamento. Kaladze dificilmente se vê em dificuldades porque se adianta ao adversário, e com uma boa técnica, tem uma ótima saída de jogo, incomum para um jogador com o seu porte físico.
Os desempenhos de ‘Kala’ têm sido tão bons que o Milan já passa a considerar a possibilidade de não contratar um jogador para o lugar de Maldini e sim um jogador de faixa lateral, com o georgiano sendo confirmado na zaga quando ‘Il Capitano’ se aposentar. Chivu (Roma) é o nome ideal; Oddo (Lazio), o jogador para ser reserva.
– Júlio César, que tem um RP muito bom nas esferas da CBF, terá de fazer o seu agente rebolar para convencer Parreira que o banco da Inter vale o gol do Brasil.
– Só uma curiosidade: o goleiro sãopaulino Rogério Ceni é a imagem mais freqüente se você procurar por “Dida Júlio Cesar” no Google.
– A Juventus não toca no assunto, mas está preocupada com as ausências de Camoranesi e Zambrotta, ambos contundidos.
– Sem os dois, Capello perde muito da força do meio-campo.
– O treinador faz questão da dupla em campo para as partidas contra o Arsenal.
– Ok, esta coluna não tem nada com futebol brasileiro, mas aproveitemos o gancho “Ronaldo” para tratar do assunto Flamengo.
– Como é que pode um time que deve dezenas de milhões de reais para meio mundo cogitar a contratação de um dos atletas mais caros do planeta e a mídia observar como se estivesse no zoológico?
– Esta é a seleção Trivela da 29ª rodada:
– Coppola (Ascoli); Cannavaro (Juventus), Nesta (Milan), Kaladze (Milan); Foggia (Ascoli), Donati (Messina), Brighi (Chievo), Emerson (Juventus) e Bresciano (Parma); Di Michele (Palermo) e Bogdani (Siena).