Mais do que esperado

Já se dizia há algum tempo que o divórcio entre a Roma e Antonio Cassano era questão de tempo. Para azar da Roma, o tempo reduziu a soma a receber pelo jogador a ‘míseros’ €5 milhões. Naturalmente, o ‘míseros’ entre aspas serve somente para refletir a desconexão do futebol com o mundo real. Para (quase) qualquer mortal, a soma significa uma aposentadoria garantida. Mas o clube de Trigoria desembolsou sete vezes este valor, quatro anos atrás, para tirar o jogador do Bari. €5 milhões é melhor que nada e pouco além disso.

O destino do jogador é – como o de 99% dos atacantes famosos – o Real Madrid. Dá para se argumentar que o Real Madrid precisa muito mais de atletas em outras posições, como um mediano para jogar em frente à defesa e uma defesa propriamente dita.

Embora seja dono de um talento indiscutível, Cassano deixará pouco, mas muito pouco de positivo na capital italiana. Além de uma boa quantidade de lances vistosos, rigorosamente nada, aliás. Número de títulos na Roma: zero. Número de artilharias conquistadas: zero. Número de jogos decisivos resolvidos: zero. Número de presepadas, brigas, noitadas, xingamentos e suspensões: setecentos e noventa e quatro.

Cassano é um jogador com um repertório técnico vastíssimo. Poderia joar em qualquer seleção do mundo – inclusive a brasileira – se tivesse um comportamento minimamente aceitável como profissional e ser humano. Contudo, como um jornalista acusou num debate na TV italiana depois do enésimo mafuá ‘cassanista’, “se não fosse jogador de futebol, provavelmente estaria na cadeia”. A Roma considerou um processo ao jornalista, à época, mas a coisa foi deixada de lado.

E o que Cassano tem a oferecer ao Real Madri? Supondo-se que ele consiga se concentrar em jogar bola e deixe seu lado ‘star’ num canto, tem muito. Cassano pode perfeitamente jogar com Ronaldo ou com Robinho no ataque, porque se adapta tanto ao papel de centroavante quanto de segundo atacante. E pode também jogar um pouco mais recuado, como armador, posição que exercia no Bari, onde ganhou destaque.

Como estamos já num ano de Copa do Mundo, existe uma boa chance de que o astro italiano se coloque na linha, para não deixar de ir à Alemanha a troco de nada, como Romário fez em pelo menos duas oportunidades. Vale a pena saber como ele será recebido no grupo madrileno, que é uma das maiores fogueiras de vaidades do mundo.

As considerações técnicas são duas: a primeira é que o Real teria pelo menos meã dúzia de contratações mais urgentes para fazer antes de Cassano. Isso vai pesar contra a adaptação do italiano, uma vez que, a menos que ele chegue apavorando os adversários – no bom sentido – qualquer deslize do clube vai gerar a lembrança de que o elenco precisava mais de um zagueiro (ou alguns deles), um mediano, etc.

A segunda consideração é sob a ótica italiana. Na Roma, Cassano quase não jogava e a ‘Azzurra’ corria um sério risco de ver seu atleta mais promissor sem ritmo de jogo às portas do Mundial. Como isso será no Real? Cassano vai ficar no banco ou jogar? Se ficar no banco, manterá a matraca fechada? Tudo isso, o futuro vai dizer.

Para o jogador, rumar para a Juventus seria muito melhor para a sua carreira. Tanto pela mão de ferro do técnico Fabio Capello (com quem tem uma excelente relação), quanto pela mão de ferro do clube, que não tolera frescuras. A Copa do Mundo fez Cassano decidir uma cartada mais arriscada. Não está afastada a possibilidade de em dezembro de 2006, estarmos aqui discutindo a passagem do italiano para um outro clube, após um ciclo de presepadas em Madri.

2005 para se esquecer

O ano de 2005 não entrará para a história do Milan como um para se lembrar. Friamente, um vice-campeonato europeu e uma segunda colocação na Série A não são de se jogar fora (especialmente levando-se em conta o título europeu de 2003 e o italiano de 2004). As circunstâncias, entretanto, fazem com que o elenco e diretoria milanistas ainda estejam cuspindo fel a três por quatro.

Já nesta temporada, a primeira fase do campeonato também não foi invejável. A ‘Superdefesa’ decantada em todo o continente, se tornou uma regular (a terceira da Serie A, mas somente a um gol de Fiorentina e Livorno, respectivamente, quarta e quinta colocadas). Além disso, já se dá como certa a saída de Jaap Stam em junho, Maldini praticamente definiu que se aposenta em 2007, o futuro de Cafu não é exatamente o mais assegurado e com uma zaga apenas regular, também Dida voltou a falhar com uma regularidade preocupante.

O elenco milanista saiu de férias com uma lista de esportes proibidos (como esqui e hipismo, entre outros) e um programa de manutenção física, que na prática significa que os jogadores terão de continuar treinando. Em compensação, o Milan terá o ‘winter break’ mais longo entre os times italianos.

Todo o cuidado é um sinal claro de como a luz amarela está acesa em Milanello. Carlo Ancelotti certamente goza de muita estima no clube, mas sabe que está diante de seu momento mais delicado. Precisa recompactar um grupo que foi abalado com a derrota de Istambul, reajustar a defesa – a tarefa mais árdua para um treinador de futebol – e conquistar um título entre o Italiano e o Europeu. Certamente, não é pouca coisa.

No ambiente milanista, alguns pontos são questão de honra. Caso não sejam atingidos, podem causar uma fissura definitiva no grupo. A maior delas é chegar à final da Liga dos Campeões em Paris e apagar Istambul. Assim, o Milan passa da desgraça à glória, e terá disputado três finais da LC em quatro anos, vencendo duas vezes.

Outro ponto que irrita o grupo é em relação à defesa. Alguns jogadores acham que nem todos se aplicam devidamente. E além disso, a glória de aliar o melhor ataque do Italiano à melhor defesa certamente mexe com a vaidade dos jogadores.

Por fim, uma revanche contra a Inter. Verdade que o gol de Adriano foi nos últimos instantes da partida e que os ‘cugini’ não venciam um derby há anos. Fosse numa temporada cheia de rosas, a derrota para a Inter seria um detalhe. Nesta, repleta de espinhos, ficou entalada na garganta. Maldini e companhia olham para o dia 15 de abril de 2006 com sede de vingança. Mas só a desfrutarão se derem conta das outras tarefas.

– Todos os grandes clubes da Itália juram de pés juntos que não farão grandes contratações.

– Milan e Juventus vão além e juram que não farão NENHUMA contratação.

– Contudo, sabe-se que a retórica milanista pára na necessidade de um defensor ‘worldclass’.

– Diego Lugano, do São Paulo, vai além da especulação. Seu nome é mesmo acompanhado de perto.

– As alternativas cogitadas pela imprensa mais sensacionalista passam por Jorge Andrade (Deportivo) e Simunic (Hertha Berlim).

– A Sampdoria teve uma grande perda com a contusão do centroavante Bonazzoli, lesionado nos ligamentos do joelho, e cuja temporada está encerrada.

– Seu substituto deve ser Colombo, de propriedade do próprio clube genovês, mas que estava no Ascoli.

– Antonio Chimenti se cansou de ser o terceiro goleiro da Juventus e foi para o Cagliari.

– A Fiorentina estava atrás de Nemanja Vidic, zagueiro croata que assinou com o Manchester United.

– Coerentemente com a campanha frenética de contratações desta temporada, agora pressiona para acertar com o meia-atacante Willhelmsson, do Anderlecht.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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