A Batalha

“A última chance para o Milan parar a Juventus”. Claro que com dez rodadas em 38, afirmar que a Série A seria decidida com a partida de sábado à noite no Giuseppe Meazza não passava de propaganda para vender jornal. Contudo, quando jogam Juventus e Milan – ou vice-versa – o resultado é sempre vital.

A situação se colocava da seguinte maneira: o Milan vinha de sete vitórias consecutivas no campeonato; a Juventus, de nove. Os cinco pontos entre os dois são absolutamente irrisórios diante de outras 28 rodadas, mas o que estava em jogo era a vantagem psicológica que o time de Fabio Capello estava arrebanhando.

O jogo de sábado teve 45 minutos. Na primeira etapa, o Milan liquidou o jogo. Não que a segunda etapa tenha sido modorrenta, mas com a vantagem de três gols e uma defesa novamente jogando num padrão de excelência (ou pelo menos chegando perto), a Juventus só viraria se fizesse uma partida surreal.jogou bem, mas nem tanto.

Os quase 80 mil espectadores que foram a San Siro para ver o jogo assistiram um duelo tático entre Ancelotti e Capello. O primeiro apostou num meio-campo com um mediano (Pirlo) e um armador encostado no ataque (Kaká), mais dois jogadores muito fortes (Gattuso e Seedorf) para ‘peitar’ Emerson e Vieira. Capello manteve sua linha de quatro jogadores, que não tem rivais em nenhum time do mundo.

Usando um clichê comumente usado por comentaristas brasileiros, o Milan venceu o jogo no meio-campo. Sabia da necessidade de sufocar Nedved e de impedir que o duo Emerson-Vieira ditasse o ritmo da partida. Conseguiu cumprir as duas tarefas com mérito. Com Ibrahimovic anulado por um Nesta impecável, Trezeguet não tinha forças para fazer sozinho o trabalho de tantos colegas.

O que a vitória milanista significa? Além do capricho de ter parado a ‘invencível’ Juventus, muito pouco – em relação ao campeonato em si. Pela evolução milanista nas últimas partidas, sabia-se que mais cedo ou mais arde o time iria se acertar. Nem Milan nem Juventus atingiram seus picos de produção e se sabe agora que os dois times são muito equivalentes.

Sob o ponto de vista do jogo, o Milan deixou para os outros clubes mais uma dica, que já tinha sido dada pelo Bayern na partida pela Liga dos Campeões. Bater a Juventus é sempre duro, mas para vencer esta Juventus, o desafiante tem, de qualquer maneira, retirar dela a posse de bola e o ritmo do jogo. Uma vez que o meio-campo juventino dá as cartas, o adversário está em coma.

Panela de pressão

Bastaram duas partidas tortas para Roberto Mancini passar de bestial a besta. A derrota para a Roma em San Siro ateou fogo no circo interista como se a Roma fosse um time de sexta categoria e a Inter fosse um consagrado esquadrão de gigantes multiplatinados. Nada disso.

Antes de jogar o fardo da culpa em Mancini, dê uma olhada na seguinte seqüência de nomes: Corrado Orrico, Luisito Suárez, Osvaldo Bagnoli, Giampiero Marini, Ottavio Bianchi, Roy Hogdson, Luciano Castellini, Luigi Simoni, Mircea Lucescu, Marcello Lippi, Marco Tardelli, Hector Cuper, Corrado Verdelli e Alberto Zaccheroni. Os 14 citados são os que ocuparam o lugar de Roberto Mancini nos últimos 15 anos, desde a saída de Giovanni Trapattoni do cargo, em 1990. de lá para cá, a Inter venceu uma Copa Uefa (com Luigi Simoni) e uma Copa Itália (com o próprio Mancini).

A extensa lista de ‘burros’ faz pensar que talvez a culpa não seja somente de Mancini. Verdade que o treinador de Jesi ainda não fez nada em sua carreira como treinador para merecer um lugar numa equipe grande. Mas, também é verdade que levou uma Lazio semi-ridícula a uma vaga na Liga dos Campeões e conquistou uma Copa Itália com uma Fiorentina já decadente.

Se Mancini saísse da Inter hoje e desse lugar, vamos dizer, a Fabio Capello ou a José Mourinho, o que aconteceria é que o escolhido estaria sem emprego no começo da próxima temporada. Lembremos que quando Marcello Lippi deixou a Juve para ir à Inter, era intocável. Lippi deixou Appiano Gentile escorraçado, depois de uma derrota para a Reggina.

O cerne interista é contaminado por uma política interna que faz com que seja quase impossível para alguém colocar ordem. Cuper foi o que mais se aproximou, porque chegou com carta branca, trouxe todo seu staff e é competente. Mas graças a tragédia de 5 de maio de 2002, quando a Lazio arrancou o ‘scudetto’ das mãos do então time de Ronaldo, a Inter continuou na fila.

O maior erro de Mancini foi o de concordar que a Inter poderia lutar por títulos já no primeiro ano sob seu comando (a temporada passada). Vencer na primeira temporada exige um clube organizado e um treinador espetacular – coisas que certamente o clube de Milão não tem. O elenco deste ano é bom mas precisa de um item cujo estoque está zerado em Via Durini: paciência.

E agora Adriano também é problema…

…e como o talento interista para caçar problemas parece só ter similares na Gávea, agora, além de tudo o que insiste em não dar certo no clube, também o principal jogador pode ser enredado num mal-estar inútil, desnecessário e despropositado.

Adriano, “L’Imperatore”, certamente o jogador mais valioso do clube italiano, se envolveu em mais um incidente disciplinar depois do atraso na reapresentação ao clube após as partidas da Seleção. Adriano chegou atrasado para o treino anterior ao jogo contra a Sampdoria, em Genova deixando todo o elenco de cara feia – mas que pelo menos não tornou o ‘affair’ público.

O que se diz na Itália à boca pequena, é que o atacante se atrasou para o treino depois de ter ficado até tarde numa boate – episódio que é mais do que comum entre jogadores de futebol. O fato concreto é que Adriano perdeu o seu sorriso

A imprensa italiana especializada em celebridades dá conta que o craque interista este de luto porque sua namorada, Danielle, de 23 anos, teria voltado ao Brasil, deixando o pobre atacante com o coração partido. O presidente interista Massimo Moratti e o técnico Mancini estariam a par da situação e por isso, teriam preferido um gerenciamento ‘soft’ da questão.

Além da frustração amorosa, Adriano também tem um problema no ombro que o impede de fazer certos movimentos e impossibilita contatos mais duros com zagueiros. Tanto é que já pediu dispensa da Seleção para os próximos amistosos.

– O destino de Cassano não é o Milan, garantiu Carlo Ancelotti nesta semana.

– “Acabamos de contratar um jovem atacante (Gilardino) em quem apostamos muito”.

– A Lazio anunciou que contratou o chileno Pinilla, que está no Sporting Lisboa,mas pertencia à Inter.

– E esta é a seleção Trivela da 10ª rodada.

– Balotta (Lazio); Diana (Samp), Nesta e Maldini (Milan); Kaká (Milan), Cambiasso (Inter), Gattuso (Milan), Pirlo (Milan) e D’Agostino (Messina); Toni (Fiorentina) e Chiesa (Siena).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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