Desafio europeu

A vocação européia do Milan é inegável. As seis conquistas continentais do clube de Via Turati representam o triplo dos primos interistas e dos rivais juventinos. Vencer a Liga dos Campeões sempre foi mais importante para o clube do que o Campeonato Italiano – caso fosse necessário fazer uma escolha.

Nesta temporada, o EuroMilan, no entanto, faz água, enquanto o time da Série A nada de braçada. Com a derrota para um inteligente PSV, o Milan terá de fazer pelo menos quatro pontos enfrentando Fenerbahce (fora) e Schalke 04 (casa), para poder aspirar à classificação num grupo que se revelou muito mais difícil do que se imaginava.

Mas qual o problema do Milan na Europa? Não, por favor não escute as conversas de que Stam não sabe jogar na lateral-direita ou que o problema é o Gattuso. Não. A questão parece ser tática e não achística. PSV e Schalke 04 foram muito inteligentes para tirar lições das últimas derrotas milanistas na LC e conseguiram fazer com que os atuais vice-campeões europeus fizessem só dois pontos em seus três últimos encontros.

Apesar do mosaico de craques que tem em suas filas, o Milan permanece um time muito previsível taticamente. Carlo Ancelotti não conseguiu fazer o time jogar bem fora do seu 4-3-1-2, já famoso no mundo todo. Ancelotti até que tentou criar um 3-4-1-2 para o começo da temporada, mas o esquema ainda está engatinhando e o time não consegue encontrar um bom futebol quando se aplica no tradicional 4-4-2, como faz a Juventus.

O 4-3-1-2 é um esquema feito em função do talento dos jogadores – coisa que o Milan tem de sobra. Contudo, se a inspiração não está lá essas coisas ou se a marcação é bem feita em cima dos homens de criação, o time patina, especialmente porque tem poucas variações de jogadas pelas laterais.

Quando enfrenta adversários mais modestos, Ancelotti já descobriu como resolver o problema das alas, que na temporada passada custou valiosos pontos contra adversários como Livorno e Messina. O 4-3-1-2, na verdade, é um 3-4-1-2, porque Serginho não joga como lateral, mas sim como ala. Com opções pelo meio (Pirlo, Seedorf, Kaká) alternadas com as incursões de Cafu e Serginho, não há modo de um time mais modesto resistir ao Milan (vide Udinese).

Na Europa, contudo, Ancelotti não é tonto de deixar a defesa exposta só com os dois zagueiros na proteção. E os rivais já perceberam que, mesmo sendo o Milan um time estelar, sofre quando agredido, especialmente se Pirlo e Kaká estiverem embaixo de severa vigilância.

O Milan tem como fazer os pontos que precisa para passar de fase, claro, mas para encerrar a insegurança européia, terá de desenvolver mais uma virtude – a de conseguir trocar de esquema conforme o adversário. É uma tarefa difícil, especialmente para poder encaixar Kaká e Pirlo no meio-campo, dois jogadores que atuam pela faixa central e que não são marcadores natos. Só que para ser campeão europeu, nunca é fácil, não é verdade?

Sem Buffon nem Toldo, Abbiati aproveita

Nesta semana, a Itália vai a campo mais uma vez, com a vaga já garantida para a Copa do Mundo, fazer dois amistosos para tentar encontrar um suspiro de entrosamento antes de viajar para a Alemanha em maio. Nessa circunstância, quem ainda não se garantiu está tratando de, como diria Galvão Bueno, ‘correr atrás do prejuízo’.

Um que parece ter dado um ‘sprint’ em busca do prejuízo (ok, chega de piadas…) é o milano-juventino Abbiati. O goleiro de Abbiategrasso sabe que não é um gigante épico na história do futebol, mas jogando em uma Juventus justa e eficiente, acabou convocado e com bastante chance de ser o titular nos dois amistosos. Buffon se recuperará de contusão em breve, mas parece bastante possível que o ano de Toldo na Inter esteja encerrado e para ter uma vaga no Mundial, só se mudar de clube.

O técnico Marcello Lippi já tem alguns defensores praticamente confirmados. São eles os juventinos Fabio Cannavaro e Gianluca Zambrotta, os palermitanos Grosso e Zaccardo, o milanista Nesta e o interista Materazzi (sim, acredite se quiser). Nesta chamada, Barzagli (Palermo) e Oddo (Lazio) tentarão provar para Lippi que a ‘Azzurra’ não pode viver sem eles.

Mesmo o meio-campo, setor onde Lippi tem mais dificuldade de desenhar um time, o grupo parece fechado. Pirlo, Gattuso e Camoranesi são titulares prováveis, com o quarto nome dependendo do esquema que o CT vai adotar. Tudo o que Lippi queria era um Camoranesi na esquerda. Na verdade, pode até ter, se deslocar Zambrotta para a sua posição original na Juventus, mas daí cobre um santo descobrindo o outro.

Por mais nomes que tenha para o ataque, o treinador também tem dificuldades para definir seus titulares. Se todos estivessem na ponta dos cascos, escalaria Del Piero e Vieri, com Totti como ‘trequartista’, mas ‘Bobo’ passa por uma fase nebulosa, enquanto Gilardino e Toni estão em franca ascedente. E ainda tem Iaquinta, sustentáculo de uma Udinese anestesiada.

O que melhor pode acontecer para a Itália é pegar uma Holanda inspirada e uma Costa do Marfim atrevida nos amistosos. Isso obrigará a ‘Azzurra’ a procurar seu equilíbrio, sem ficar se escondendo atrás da bola. Além de uma zaga sensacional, a Itália tem em Pirlo um armador que nada deve a nenhum outro no mundo e atacantes que podem desequilibrar. Talvez o que esteja faltando seja justamente um aperto.

Goleiros
Christian Abbiati (Juventus), Marco Amelia (Livorno) e Angelo Peruzzi (Lazio).

Defensores
Andrea Barzagli (Palermo), Fabio Cannavaro (Juventus), Fabio Grosso (Palermo), Marco Materazzi (Inter), Alessandro Nesta (Milan), Massimo Oddo (Lazio), Cristian Zaccardo (Palermo), Gianluca Zambrotta (Juventus).

Meio-campistas
Simone Barone (Palermo), Mauro Camoranesi (Juventus), Daniele De Rossi (Roma), Aimo Diana (Sampdoria), Rino Gattuso (Milan), Andrea Pirlo (Milan).

Atacantes
Francesco Totti (Roma), Alessandro Del Piero (Juventus), Alberto Gilardino (Milan), Vincenzo Iaquinta (Udinese), Luca Toni (Fiorentina), Christian Vieri (Milan).

– Mesmo com Cassano numa situação apertada na Roma, o técnico Marcello Lippi não esconde de ninguém que espera ver a situação do ‘giallorosso’ resolvida a tempo de ele poder ser convocado para a Copa do Mundo.

– Cassano se recusa a renovar o contrato e a Roma joga duro; na última rodada, não ficou nem no banco.

– O Cagliari demitiu seu técnico, Davide Ballardini, e o Treviso deve fazer o mesmo com Ezio Rossi ainda nesta semana.

– Parece que Patrick Vieira não guarda recordações muito amáveis de Ruud van Nistelrooy, atacante do Manchester United.

– Segundo a imprensa italiana, Vieira diz em seu livro, que está para sair, que van Nistelrooy é um “filho da p…” e que no Arsenal todos o odeiam.

– Quanto amor…

– Um famosíssimo apresnetador italiano, Paolo Bonolis, virou notícia no final de semana depois de brigar com o diretor de seu programa, um dominical esportivo nos moldes da ‘Domenica Sportiva’.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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