Il Parreira d’Italia

A histórica goleada por 5 x 1 imposta pela Lazio sobre a Inter neste fim de semana me motivou a escrever esta coluna. Não sou admirador de Luigi Simone, treinador da Inter. Aliás o acho um retranqueiro contumaz. Mas me motivei a escrever este artigo tal foi a fúria da mídia italiana contra ele.

O adjetivo “retranqueiro” foi o mais elogioso nos jornais europeus desta Segunda – Feira. A intensidade dos ataques sofridos por Simone me lembraram a relação de Parreira com a imprensa brasileira, principalmente a insidiosa e rancorosa imprensa paulista.

Simone tem uma concepção clara de futebol. Para ele, o importante não é a posse de bola (ao contrário de Parreira). O italiano valoriza os contra –ataques , em velocidade, em cima do que deveria ser uma sólida defesa. Resultado prático: um futebol feio, chato, mas eficiente quando a defesa não falha.

Com a goleada épica, Simone foi crucificado, e muitas das críticas procediam. Se disse que o elenco que ele tem a Inter deveria estar melhor, e que suas contratações não foram bem feitas, pois a Inter não tem um homem talentoso no meio – campo que possa municiar Ronaldo. Tudo verdade.

Mas além disso, ocorreu aquele tipo de “ajuste de contas” que os jornalistas esportivos fazem com seus desafetos após tragédias como a de Domingo. Para muitos, Simone era o próprio anticristo, e merecia ser exorcizado.

Com uma educação ímpar e uma fineza  semelhantes à de Parreira, Simone foi à TV e respondeu a muitas críticas, chegando até mesmo a debater com um jornalista que o havia criticado no ar. E aí se fez a diferença entre a mídia brasileira e a italiana. A discussão se seguiu dentro do mais profundo respeito, me revelando um lado de Simone que eu não conhecia. Um ‘gentleman’.

Quero ressaltar que continuo pensando que Simone é um treinador “outdated”, ultrapassado, e muito apegado a conceitos que não me agradam (exatamente como Parreira). Mas dentro de sua filosofia, os dois treinadores têm muitos méritos, e merecem respeito.

A Rodada

Internazionale 3 x 5 Lazio

O mundo acabou em Milão. A Internazionale simplesmente levou a maior goleada em casa de sua história. A maior tinha sido há 42 anos , frente ao Venezia. E como o amigo internauta deve imaginar, a Itália está enfurecida com Gigi Simone, responsabilizado como o grande vilão do episódio. Nem o céu nem a Terra…O treinador ‘nerazzurro’ tem culpa sim, pois escala mal, insistindo no burocrático Djorkaeff à frente, e monta sua defesa de modo arriscado, mesmo usando muitos defensores, e continua forçando Simeone, o botineiro argentino como meia. Mas lembremos que o time está sem Ronaldo e Baggio, e além disso a Lazio tem um timaço. Salas, o chileno marcou o seu primeiro, e o português Sérgio Conceição fez dois em uma partida brilhante. Vale lembrar que este time da Lazio custou inacreditáveis US$ 100 milhões, e é favoritíssimo. Dúvidas pairam sobre o destino de Simone, e sobre as verdadeiras possibilidades da Inter, que pega outra pedreira na semana que vem, a Juventus.

Bari 1 x 1 Udinese

O Bari, dono de uma defesa muito sólida, comeu no cortado para não perder três pontos frente a ótima Udinese. Pierini abriu o placar no segundo tempo, e parecia que o ex – time de Zico faturaria três pontos. Aos 48 do segundo tempo, Spinesi, que havia entrado há pouco empatou, em um resultado que teve sabor de vitória para os anfitriões, e de derrota para a Udinese de Amoroso.

Cagliari 1 x 0 Milan

Ouvi um repórter da Jovem Pan dizer que o Milan tinha perdido para o Cagliari, e então, continuava muito mal. Muito má é a qualidade da informação deste moço. O Milan não está mal no campeonato, com apenas três pontos a menos do que a líder Fiorentina. E perder para o Cagliari não é demérito. Vale lembrar que o time sardo meteu 5 x 0 na Samp há três semanas e é um surpresa. Um dia negro para Bierhoff que perdeu um pênalti. E um fato curioso. Quando já estava 1 x 0, o Cagliari sofreu um pênalti eo treinador Zaccheroni, do Milan, surpreendeu a todos ao tirar o goleiro Lehmann e colocar o experiente arqueiro Rossi, que defendeu o pênalti de Muzzi. E nem assim o Milan escapou da derrota.

Empoli 0 x 0 Bologna

Um desfalcado Bologna, na região do rebaixamento, proporcionou um modorrento empate em 0 x 0, num jogo de poucos chutes a gol. Signori, ainda devendo teve chances de marcar, mas ficou nisso. Um jogo para se esquecer.

Parma 2 x 0 Salernitana

O primeiro, o Parma começa a engrenar após um início de temporada meia – boca. E levando –se em conta o rio de dinheiro que lá se gastou. Algumas vitórias e os “gialloblu” já estão lá em cima. O outro, a Salernitana, apesar de não Ter um mau time, dá sinais de que só subiu mesmo para dar um alô, e deve descer para a série B no ano que vem. Chiesa e Fuser resolveram para a esquadra emiliana, que certamente vai lutar pela ponta. Na Salernitana, nem a estréia de Fresi (ex – Inter) na defesa salvou o time. Tá duro…

Perugia 1 x 0 Venezia

O time do japonês Nakata saiu pela primeira vez como vitorioso neste ano. E ajudou a aumentar as chances do pobre Venezia de voltar para a segundona. Um gol de Olive, simplório, garantiu os três pontos para o Perugia. No detalhe (como diria Rivellino), a volta de Zé Maria (ex – Portuguesa) bem na defesa do Perugia.

Piacenza 4 x 1 Sampdoria

Estou surpreso com este Piacenza. O único time italiano que só tem italianos vai bem obrigado. Saiu na frente com um gol prematuro do idoso Vierchowod, e viu seus atacantes fazerem a festa sobre o time de Genova, que só fez unzinho porque teve um pênalti a seu favor. Para mim, o Piacenza ia cair neste ano. Mas parece que eu estava errado.

Roma 2 x 1 Fiorentina

Fatos inéditos: Batistuta marcou gol, e Edmundo foi substituído afirmando que a mãe do treinador não era uma pessoa pudica. Após sair ganhando, o time de Firenze recuou, tirando Edmundo e colocando Robbiati (que ao contrário do que disse Milton Neves também na Pan, não é beque – é atacante). A Roma empatou aos 45’ do segundo tempo e virou aos 48’, em duas iniciativas do argentino Bartelt, a primeira anotada por Alenichev, a segunda por Totti. Mesmo assim, a Fiorentina ainda é líder, favorecida pelos maus resultados de Inter, Juventus e Milan.

Vicenza 1 x 1 Juventus

Olha, um joguinho safardana. Míseros oito chutes a gol foram um sofrimento para quem esperava um jogo com o nível merecido. De positivo, só o gol de Del Piero que mereceu a manchete de “Renascido!” de um jornal italiano.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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