Derrota antecipada

No ano passado, publiquei um post nesse blog chamado “Em defesa do Galo”. Nenhum outro post teve tantas críticas e demonstração de hipóxia cerebral quanto aquele. No post, eu defendia que o Galo merecia aplausos pela campanha, mas que não venceria o Brasileiro e que se demitisse Celso Roth, daria um tiro no pé. Muitos xingos e discussões depois, que falem os fatos.

Neste ano, o Atlético-MG demitiu Roth e contratou Vanderlei Luxemburgo. A decisão do clube era claramente uma demonstração de força. Luxemburgo tem a comissão técnica mais cara do Brasil. O Galo teria, enfim, um técnico à sua altura. Será mesmo?

Embora ninguém fale, nos bastidores, a ida de Luxemburgo é vista como uma consolidação de sua decadência. O Atlético-MG, que desde o ano passado está em reestruturação, é um clube que dificilmente terá dinheiro para as contratações que o técnico precisa – marca registrada de todos os seus sucessos anteriores. Por maior que seja o clube mineiro, Luxa, depois do Bragantino, só se deu bem quando pôde contratar os melhores jogadores disponíveis.

O perfil ideal do treinador do Galo era o de um técnico que não fosse caro, que trabalhasse com desconhecidos e revelações da base – algo que o Atlético-MG faz como poucos no Brasil  – e que tivesse tempo para ficar três ou quatro temporadas, independentemente dos resultados. É difícil imaginar um perfil tão distante de Luxemburgo. O gremista Silas tinha muito mais a cara do projeto, por exemplo.

Vendo as últimas explosões de Luxa, que se perde ao misturar na mesma cesta as corretas esculhambações de um empresário querendo se fazer às custas do clube e explosões contra arbitragem e torcida, a sensação é que  aposta – de clube e treinador – já deu errado. No atual estágio de desenvolvimento do clube, para o Atlético-MG, a competição com o Cruzeiro é inglória. A Raposa tem mais dinheiro, mais organização e está num estado estável há mais tempo. Se alguém exige resultados imediatos – que é o que Luxemburgo provavelmente propôs (em “Imediatos”, leia-se “para o mesmo ano”), a chance de sucesso é reduzida.

Luxemburgo é um dos melhores treinadores do Brasil, quando está focado. Quando não se preocupa com entrevistas, blogs, palestras, transferências, política, twitter e afins. Tudo isso, mas principalmente quando está com fome de títulos. Há vários anos que ele não demonstra estar com o foco que tinha no Bragantino ou no Palmeiras. Suas últimas campanhas deixam isso claro. Se mesmo assim, o Atlético achou que era o caso de apostar nele, precisa, premido por uma necessidade fundamental, apoiá-lo, independente dos resultados que um torneio patético como o Campeonato Mineiro possa ter. Se Luxa chegar minado pelo Mineirinho ao Brasileiro, o Galo terá assinado sua sentença em 2010, um ano que parecia tão promissor para quem conseguia enxergar o óbvio.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top