PSG: despachando Lucas ou como não tratar um jogador com mais de 200 jogos pelo clube

Na semana passada repercutimos a contratação do volante Lassana Diarra, por parte do Paris Saint-Germain, lembrando que o clube não se esforçou para manter Blaise Matuidi, também volante, e no momento completando cerca de um semestre na italiana Juventus.

Com o deadline da janela de transferência de inverno 17/18 tendo se completado no último dia 31 (ontem), o clube parisiense gerido pelo xeique Nasser Al-Khelaifi, concluiu negociação de saída do brasileiro Lucas Moura.

O meia-atacante agora é jogador do inglês Tottenham Hotspur, que o anunciou oficialmente na última quarta-feira, ao valor de 28 milhões de euros.

Contratado pelo PSG junto ao São Paulo em 2012 por cerca de 43 milhões de euros, Lucas teve apenas 6 aparições pelo time de Paris, na atual temporada.

Outra peça do tetracampeonato francês desprezada

A exemplo de Matuidi, Lucas também chegou a Paris no início do ciclo de investimentos proposto por Nasser. Naquela época o PSG ainda comandado por Carlo Ancelotti almejava Alexandre Pato, que havia trabalhado com ele Carletto, no Milan. Pato recusou a oferta e o PSG investiu em Lucas.

Daniel Alves, Neymar e Lucas em treino do PSG (Twitter oficial do PSG)
Daniel Alves, Neymar e Lucas em treino do PSG (Twitter oficial do PSG)

Tendo entrado em campo com a camisa rouge et bleu pela primeira vez apenas em 2013, Lucas elencou 229 aparições pelo clube, com 34 gols e 34 assistências, contabilizados os números desta temporada 17/18. Saiu do PSG como brasileiro com mais partidas disputadas em toda sua história, ostentando apenas 25 anos.

A saída de Lucas é outra amostra explícita do “não planejamento” do PSG de Nasser para a atual temporada, tal qual ressaltamos quando observamos a aquisição de Diarra. Tendo Lucas apto a jogar pelo lado direito do ataque, o PSG não tinha necessidade alguma de investir em Kylian M’bappé.

Além da efetividade numérica e presença em quatro títulos sequenciais de Ligue 1 e Coupe de France, Lucas por exemplo, tem números melhores que os de Angel Di María, por sua vez no PSG desde 2015.

Na temporada 15/16 Lucas conta 56 aparições contra 47 do argentino, que leva vantagem em gols/assistências. São 15 gols e 25 assistências contra 13 gols e 5 assistências do brasileiro. Na temporada 16/17, a melhor de Lucas em sua estada em Paris, são 53 jogos contra 43 do argentino. Lucas fez 19 gols contra 14 do argentino que só leva vantagem no computo de assistências (15 contra 11).

Longe do perfil de jogador celebridade, Lucas se aquietou após as aquisições de verão do PSG. Cumpriu seu contrato sem alardes e parecia ciente do seu próprio valor, ao passo que o PSG via-se atado aos limites do fair play financeiro. O clube pagava altos salários a Lucas e Ben Arfa, que sequer entrou em campo nesta temporada.

Em entrevista ao programa Altas Horas (tv Globo) pouco depois da Copa 2014, Lucas foi perguntado sobre alguma decepção por não ter sido convocado. O jogador afirmou de forma simples que com certeza gostaria de ter participado, mas que deveria almejar outras copas, pois sua qualidade maior não eram os pés e sim “a cabeça”. Nada mais a acrescentar.

O futuro em Londres

Já na Inglaterra, Lucas esteve no Wembley (Londres/Inglaterra) na última quarta-feira, na vitória do Tottenham sobre o Manchester United (2×0) pela Premier League. Há expectativa de estréia do jogador para este fim de semana.

Passa longe do meia-atacante algum tipo de “efeito Paulinho”, que acometeu o ex-volante do Corinthians no clube de Londres. Paulinho (hoje Barcelona) chegou em momento de transição, com o atual treinador argentino Maurício Pochettino ainda por assumir o comando da agremiação.

Paulinho esteve no Tottenham entre 2013 e 2015, após o ciclo competitivo dos spurs que contavam com Luka Modrić e Gareth Bale, ambos adquiridos pelo Real Madrid entre 2012 e 2013. Qualquer time ruiria sem os dois e Paulinho não iria carregar o Tottenham nas costas sozinho.

O PSG não fez questão de inscrever Lucas para a atual disputa da Champions League. O Tottenham, também classificado para as oitavas de final, poderá inscrever o brasileiro para o confronto contra a Juventus. Dado o estilo discreto, Lucas tem tudo para dar certo na Inglaterra.

O atual ataque dos spurs se vê valorizadíssimo, com Harry Kane avaliado em 300 milhões de libras, além de Dele Ali, do dinamarquês Eriksen e do coreano Son à disposição de Pochettino. Lucas é diferente de todos eles e quem deve estar preocupado é o argentino Érik Lamela.

Voltando ao PSG…

Não há dúvidas que M’bappé (19 anos) é uma promessa enorme do futebol francês/mundial. E o mesmo parece estar sendo o único a cumprir algum tipo de planejamento no PSG. M’bappé recusou o Real Madrid no último verão, com certeza antevendo sua vaga na Copa 2018 pela seleção francesa. Em Madrid não haveria garantia de titularidade em meio a disputa de espaço com Benzema, Isco, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo.

Neymar e M'bappé (Foto: AFP)
Neymar e M’bappé (Foto: AFP)

Há seis meses a concorrência na seleção via-se dura, com Didier Deschamps já dando mostra de confiança na dupla Griezmann/Giroud. M’bappé, Lacazette (Arsenal), Dembélé (Barcelona) e Fekir (Lyon) brigavam e ainda brigam por possíveis duas vagas, que neste momento parecem mais próximas de M’bappé e Lacazette. É M’bappé quem está utilizando bem o PSG, não o contrário.

Na última terça-feira o PSG eliminou o Rennes e classificou-se para a final da Copa da Liga francesa, onde enfrentará o Monaco em 31 de março. Os parisienses voltam a campo no sábado pela Ligue 1, visitando o Lille.

ESPN e Sportv devem transmitir Lille x PSG no Brasil.

Imagem: AFP

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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