Hungria: de volta à EURO, em nome de Puskás.

As partidas de repescagem das Eliminatórias da EURO 2016 encerradas ontem, trouxeram a classificação da seleção da Hungria que volta a participar de uma grande competição internacional, depois de 30 anos. E curiosamente, na véspera do nono aniversário de morte de seu maior ídolo, Ferenc Puskás.

No último domingo os húngaros venceram a Noruega por 2×1 em Budapeste (Hungria), obtendo placar agregado de 3×1, resultado que confirmou a classificação da seleção húngara na próxima EURO. No dia seguinte, última segunda-feira, a morte de Puskás, ex-atacante do Real Madrid, completou nove anos. Puskás integrou o período dourado da seleção da Hungria, entre os anos 1950 e 1960.

A seleção húngrara ostenta três medalhas de ouro obtidas nos jogos Olímpicos realizados em 1952, 1964 e 1968. A equipe é também duas vezes vice-campeã Mundial, tendo sido derrotada nas finais das copas de 1938 e 1954. Nesta última antagonizando uma final contra a Alemanha, campeã na lendária “batalha de Berna” (Suíça).

O periódico espanhol El País, ainda destacou um amistoso entre Inglaterra e Hungria realizado em 1953 no antigo Wembley (Londres/Inglaterra), onde os húngaros esmagaram o English Team e venceram os inventores do futebol por 6×3. Os ingleses visitariam a Hungria pouco depois em Budapeste, sofrendo uma goleada homérica por 7×1. Segundo o El País, o último integrante daquela seleção húngara a falecer foi Jeno Buzánsky, no último mês de janeiro.

O presente.

A atual equipe húngara não tem grandes estrelas. O El País destaca o outrora badalado externo-esquerdo Balazs Dzsudzsák, que chegou a ser agraciado com uma transferência milionária para o russo Dynamo Moskow. Atualmente Dzsudzsák, capitão da seleção húngara, joga pelo turco Bursaspor, que sequer consegue obter índice de disputa para Europa League.

O time ainda conta com o veterano goleiro Gábor Király de 39 anos e o meia Zoltán Gera vice-campeão da Europa League 2009/2010, pelo inglês Fulham. Para muitos jogadores húngaros do grupo atual, a chance de apenas disputar a EURO, já parece ser uma glória. O decorrer da disputa da recém encerrada eliminatória, também trouxe problemas.

A Hungria teve três treinadores em 12 partidas. Attila Pintér, demitido após a estreia na fase de grupos contra a Irlanda do Norte foi substituído por Pál Dárdai, que por sua vez aceitou proposta do alemão Hertha Berlim, no início da presente temporada. O treinador que classificou os húngaros para a EURO, foi o alemão Bernd Storck.

O El País destaca a recém-integrada mentalidade do futebol alemão atual, enquanto ponto de mutação que pode favorecer o futebol húngaro. Storck tem consigo na comissão técnica o ex-meia Andreas Möller, tricampeão Mundial na copa de 1990, como jogador do Nationalelf. Ambos jogaram juntos no Borussia Dortmund. Um dos clubes mais tradicionais da Hungria, o Ferencváros, voltou a vencer a liga húngara após 12 anos de jejum. O treinador do time é outro alemão, Thomas Doll.

O futebol húngaro conta com apoio pleno do primeiro ministro Viktor Orbán, descrito pelo El País enquanto “populista”. Orbán tem sido recentemente notório por vetar entrada a refugiados da Síria, levantando muros nas fronteiras. Por outro lado, investe de maneira firme em reformas sociais, educação e incentivo ao esporte. O El País estima que o primeiro ministro deve gastar 500 milhões de Euros, em reformas de estádios iniciadas em 2010, as quais se estenderão até 2018. Orbán declara que na Hungria o “futebol é a disciplina esportiva nacional”.

O periódico espanhol ainda ressalta palavras do jovem meia Adám Nagy, que afirmou antes da partida contra a Noruega, que é preciso deixar um pouco de lado o passado. Nagy, jogou o último Mundial sub-20 pela Hungria, eliminada nas oitavas de final pela Sérvia, que por sua vez acabou campeã do torneio.

A atual liga húngara é composta por apenas doze equipes e a concorrência para ter representantes nas principais competições continentais europeias de clubes (Europa League/Champions League, é bastante dura. A chegada da seleção à EURO pode representar um novo alvorecer, como prediz um verso do hino húngaro: “Traga um ano alegre, àquele que foi fustigado pela má sorte/Este povo já sofreu o bastante/O passado e o porvir”.

Imagem dos jogadores húngaros comemorando a classificação no último domingo: Bernadett Szabo – Reuters

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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