Barcelona: Lazio, Franco e extremistas de direita (parte II).

A partida entre Barcelona e Lazio pela Copa da UEFA (atual Europa League), da temporada 1975/1976, se viu entrecortada por questões políticas causadas pelo contexto da ditadura de Franco, imposta ao reino da Espanha. Com o confronto de ida marcado para acontecer em 22 de outubro de 1975, em Roma (Itália), pairavam muitas dúvidas acerca de sua realização.

Mesmo oposto ao regime franquista, tal qual a sua região sede, a Catalunha, o Barcelona era observado de forma enviesada pelo restante da Europa, assim como os outros times espanhóis. Por outro lado, com sua agremiação historicamente ligada à extremistas de direita, a Lazio lidava com uma torcida que queria sim, um confronto contra os culés.

Paralelamente, os gestores do clube biancocelesti mensuravam questões de segurança para viabilizar a partida. Na Itália, a imprensa de Milão acusava o presidente Umberto Lenzini, de misturar futebol e política. Lenzini afirmara que os catalães poderiam se sentir intimidados e coagidos, sob a possibilidade de “entregarem” o resultado.

O clima de tensão se ampliara devido a manifestações públicas e fervorosas por parte dos partidários da esquerda italiana, opondo-se aos ideais de Franco. A comoção europeia anti-franquista se dava em nome do fuzilamento de cinco rebeldes, ocorrido a setembro de 1975, em território espanhol.

O governo italiano assegurou ao Ministério de Assuntos Exteriores da Espanha, que a realização do certame era segura. O técnico da Lazio à época Giulio Corsini, acenava de forma positiva ao embate, em nome de seu elenco. No entanto na Espanha, Franco acabou internado à 15 de outubro de 1975, vítima do começo da crise de saúde que lhe seria fatal.

Na Catalunha, o Barcelona recusou a sugestão de realizar a partida de ida em campo neutro. A administração do clube solicitou reservas de hospedagem para sua delegação em Roma, sinalizando que disputaria a partida.

A Lazio desiste do jogo de ida.

A não realização do confronto de ida renderia à Lazio suspensão das competições europeias, pagamento de multa à UEFA e pagamento de indenização ao próprio Barcelona. Umberto Lenzini foi à Zurique (Suíça) e chegou a um acordo com o presidente da UEFA, na época o italiano Artemio Franchi.

A Lazio desistiu do jogo de ida dando uma vitória por “w.o.” ao Barcelona, que oficialmente consta como vencedor da partida por 3×0. Semanas depois, o time biancocelesti viajou à Catalunha para a partida de volta marcada para 5 de novembro de 1975. O ditador Franco agonizava.

No Camp Nou, o atacante holandês Johan Cruyff líder do elenco culé, recebeu a Bola de Ouro da temporada 1974, antes da partida. O Barcelona venceu a Lazio por 4×0. Cruyff anotou o segundo gol.

Dias após a partida, Franco pereceu na madrugada do dia 19 de novembro, para o dia 20. O fuzilamento de cinco pessoas ligadas a grupos separatistas (FRAP e ETA), em setembro de 1975, fora o estopim dos problemas que fustigaram o Barcelona x Lazio válido pela Copa da UEFA 1975/1976.

Segundo o periódico espanhol El País, a pena de morte foi abolida na constituição espanhola de 1978. Uma exceção ainda constava, sugerindo a medida expressa enquanto possibilidade de “leis penais militares para tempos de guerra”. Tal medida acabou finalmente excluída, devido a Lei Orgânica de novembro 1995.

Imagem de Cruyff recebendo a Bola de Ouro em 1975: AS

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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