Espanha: Piqué e o barcelonismo desnecessário.

Durante a última data FIFA de jogos de seleções, a Espanha venceu a Eslováquia em casa e a Macedônia fora de casa, pelas Eliminatórias da EURO 2016. A partida vencida sobre os eslovacos (2×0) foi marcada por vaias da torcida espanhola, direcionadas ao zagueiro espanhol de origem catalã, Gerard Piqué.

Desde o fim da partida contra a Eslováquia ocorrida no último fim de semana, desatrelou-se novamente na Espanha, as discussões acerca do nacionalismo catalão e a verdadeira representatividade dos atletas que atuam pela seleção. Historicamente, sempre houveram jogadores seja de origem catalã, seja de origem basca, que se recusaram ou não, a servir a seleção da Espanha.

É preciso lembrar que Catalunha e País Basco reivindicam autonomia política/cultural, tendo sido em suas perspectivas, anexados à força ao reino espanhol durante a ditadura franquista, no decorrer do século XX. Os times catalães Barcelona e Espanyol, bem como os bascos Athletic Bilbao e Real Sociedad, disputam a liga espanhola desde sempre.

A Catalunha em especial chega a manter uma seleção própria, que disputa apenas jogos não oficiais.

A birra para com Piqué.

O confronto com os eslovacos foi a primeira partida de Piqué com a Espanha, desde o fim da última temporada. Em meio às comemorações da conquista da última Champions League pelo Barcelona, Piqué verbalizou provocações desnecessárias em relação ao rival de Madrid, Real Madrid. Na ocasião, mais precisamente em junho passado no Camp Nou, o zagueiro “agradeceu” o cantor colombiano Kevin Roldán.

Roldán é visto junto a Cristiano Ronaldo em fotos que se espalharam pela internet, tiradas durante a festa de aniversário do atacante do Real Madrid, realizada em fevereiro último. A festa gerou polêmica tendo ocorrido após uma derrota dos blancos por 4×0, diante do rival municipal Atlético de Madrid, em derby válido pelo segundo turno da edição 2014/2015, de La Liga.

Após as vaias à Piqué no último fim de semana, atletas oriundos de Madrid saíram em defesa futebolística do companheiro catalão. Eram eles Casillas, Carvajal e Sérgio Ramos. Os três porém deixaram claro repúdio às provocações clubísticas de cunho catalão, proferidas pelo defensor do Barça.

Jogando atualmente pelo FC Porto (Portugal), Casillas em especial foi vítima da rivalidade desmedida entre Madrid e Catalunha, insuflada pelo técnico José Mourinho, quando este dirigiu o clube merengue. Casillas mantinha contato com atletas do Barça, como Xavi e Puyol minimizando qualquer tipo de provocação, em nome do bom convívio em “la roja”. Mourinho o acusou de “traição”. Xavi por sua vez chegou a declarar que o técnico lusitano estava “estragando” o futebol espanhol.

Líderes culés nos últimos dez anos, Carles Puyol e Xavi Hernández eram atletas tanto de representatividade técnica, quanto de representatividade moral junto à torcida catalã. Foram jogadores importantes não só do Barça, como também da Espanha durante o ciclo vitorioso entre 2008 e 2012, vencendo duas EURO’s e um Mundial. Ambos porém já não atuam mais pelos blaugrena, nem pela seleção.

No atual elenco culé Piqué é o atleta natural da Catalunha de maior representatividade. Andrés Iniesta só não o é, devido à sua personalidade demasiadamente discreta. E o zagueiro na condição de ídolo, realmente poderia ser mais comedido (e/ou menos provinciano), em suas declarações.

Repercussão nacional.

Alguns setores da imprensa espanhola expressaram que a discussão toma proporções incompreensíveis, haja vista o futebol globalizado atual, o qual inclui atletas oriundos de outros países atuando em seleções diferentes de sua origem.

A própria Espanha conta atualmente com Diego Costa, atacante nascido no Brasil. A discussão assim parece reduzida de forma inteligente, à mera birra de rivalidade clubística, por tanto indigna de maiores alardes.

Nesta quinta-feira o zagueiro Piqué falou à imprensa espanhola em coletiva, de forma serena minimizando os problemas e reduzindo-os a questões ligadas a rivalidade futebolística Barcelona x Real Madrid, sem qualquer aspecto étnico/politico. Confirmou boa relação com Casillas e Sérgio Ramos.

Piqué afirmou que suas posturas políticas nada tem a ver com sua vontade em defender a seleção. Confirmou que deseja ver o Real Madrid “perder sempre” e que vaias proporcionadas contra ele dentro do Santiago Bernabéu, soam como “sinfonia”.

A liga espanhola retoma as suas atividades neste fim de semana. Piqué deve estar em campo pelo Barcelona, que enfrenta um rival de Madrid, o Atlético de Madrid, no Vicente Calderón (Madrid). A partida ocorrerá no próximo sábado.

Imagem de Piqué saindo de campo contra a Eslováquia: José Vicente – AP

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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