Champions League: crepúsculo dos ídolos – ato I (Andrea Pirlo tra il lusco ed il brusco).

Em partida válida pelo grupo A, a Juventus recebeu o líder Atlético de Madrid em Turim, na última rodada da fase de grupos da Champions League 2014/2015, nesta terça. A vecchia signora italiana, bicampeã da CL nos tempos de Platini (1984/1985) e Del Piero (1995/1996), precisava apenas de um empate para se qualificar em segundo lugar, algo que aconteceu num placar final de 0x0. Na última temporada, a Juve deu vexame e acabou eliminada na primeira fase.

Pelo lado colchonero espanhol e atual vice-campeão da CL, o técnico argentino Diego Simeone tinha um plano de jogo calculado, atuando fora de casa numa oportuna postura defensiva. O Atlético não joga a Série A italiana, mas o embate contra a Juve foi um típico jogo do catenaccio, com ambas as equipes em postura defensiva. O método de trabalho de Simeone funciona bem neste momento da temporada, onde há um ápice físico do elenco.

A intensidade de jogo do Atlético, seja ofensiva ou defensiva, depende muito do condicionamento físico do plantel, algo que decai ao findar da temporada. A Juventus buscava o gol adversário mesmo se postando tradicionalmente de forma defensiva. As melhores chances italianas surgiam com Pogba e Vidal arriscando finalizações a longa distância. A Juve teve Buffon, Lichtsteiner, Bonucci, Chielini e Evra. Pirlo, Vidal, Pogba e Pereyra. Tevez e Llorente.

O desenho tático da Juventus herdado pelo técnico Massimiliano Allegri, foi desenvolvido por Antonio Conte (atual seleção da Itália), nas últimas três temporadas. Isso tendo o meia Andrea Pirlo (35 anos) dispensado pelo Milan e já em crepúsculo de carreira, como principal homem. O desenho pode variar do 4-4-2, para o 3-5-2 típico na Itália, ou ainda para um 3-4-3. Mas em termos de elenco a Juve nem de longe é favorita para vencer a atual CL, ostentando um plantel de segunda categoria.

Pirlo tra il lusco ed il brusco.

Dois ícones bianconeri estão em fim de carreira, Buffon e o próprio Pirlo. O chileno Arturo Vidal é um destaque mas está em condição física bem inferior, se comparado a uma ou duas temporadas atrás. Paul Pogba e Carlitos Tevez são os únicos que poderiam estar numa liga nacional maior atualmente. Ainda assim, o jogo defensivo do Atlético deixou nítido as absurdas movimentação sem bola e inteligencia tática de Pirlo, no campo defensivo da Juventus.

Com a Juve detendo a posse de bola, Pirlo se situa no centro da linha de três zagueiros, deixando os laterais (Lichtsteiner/Evra) se projetarem. Isso possibilita o desenho tático em 3-5-2/3-4-3. Algo incomum porque geralmente é um dos laterais que completa o terceiro zagueiro. Noutras palavras, Andrea Pirlo se situa como “líbero”. Sobretudo no segundo tempo da partida, onde Pirlo na linha defensiva, alternava pelos lados direito e esquerdo.

A movimentação objetivava 1) sair da marcação imposta pelo colchonero Mandzukić em seu próprio campo de ataque e 2) o encontro de “pontos futuros” pelos lados do campo. O lançamento de Pirlo é preciso e praticamente infalível, podendo encontrar um dos laterais ou atacantes abertos pelos lados, uma vez que o Atlético congestionou o meio-campo propositadamente. Pirlo atuou os 90 minutos, pois inusitadamente, nenhum dos dois times realizou substituições.

No ano passado, Clarence Seedorf ainda no Botafogo, foi convidado do programa Bem Amigos (Sportv). Galvão Bueno e Alberto Helena Jr “incensaram” uma jogada de efeito de Paulo H. Ganso e questionaram Seedorf sobre o lance. Alberto Helena comparou Ganso a Zidane. Com seu sotaque holandês, o ex-meia do Milan e do Botafogo disse educadamente: “Zidáne êra muito máis dinámico. Gánso côrre e pára, côrre e pára”. Galvão olhou para o holandês e disse “você jogou com Pirlo, é um meia que corre pouco, não é?”. Seedorf foi implacável, dizendo com um sorrisinho irônico no canto da boca “nón parece mas Pirlo côrre muuuuito!”, encerrando a discussão.

Bi-campeão da Champions League pelo Milan (2002/2003 e 2006/2007) junto com Seedorf, Andrea Pirlo foi descrito pelo técnico alemão Joachim Löw, enquanto um “artista da renascença”, na época da EURO 2012. Löw afirmou que ordenar dois marcadores sobre o meia italiano é desperdício, uma vez que Pirlo lançará um companheiro livre. Nada mais acertado.

Mais além.

– Ainda no grupo A uma derrota da Juve que não aconteceu, favoreceria a classificação do grego Olimpiakos, que fez a sua parte contra o sueco e já eliminado Malmö, derrotado por 4×2. O Atlético se classificou em primeiro com 12 pontos e a Juventus em segundo com 10 pontos.

Foto de Mandzukić e Pirlo: AFP – Getty Images

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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